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O ser humano nasceu, desde os primórdios, com uma necessidade intrínseca de lazer e entretenimento. Usada como instrumento de estimulação, aprendizagem e desenvolvimento,
a Internet é uma ferramenta riquíssima, podendo também ser usada com propósitos terapêuticos.
Atualmente, os videojogos fazem parte integrante da realidade de milhões de adultos, adolescentes e crianças em todo o mundo. Se por um lado têm lugar de destaque nos mercados mundiais (sendo um negócio que rentabiliza milhões de euros e emprega milhares de equipas multidisciplinares), por outro lado uma persistente utilização da internet com vista à prática dos mesmos, geralmente com outros jogadores, pode conduzir ao desenvolvimento de uma dependência, cada vez mais presente entre crianças e jovens.
Quando utilizados de forma moderada e com conteúdos adequados à faixa etária do utilizador, os videojogos promovem o desenvolvimento de capacidades cognitivas, sociais e psicológicas. Um processo patológico, neste âmbito, é iniciado quando a criança ou jovem despende grande parte do seu tempo nessa atividade, isolando-se e ignorando as suas responsabilidades.
Em 2018 a Organização Mundial de Saúde, na classificação internacional de doenças, (ICD-11), no que concerne a categoria de perturbações associadas ao uso de substâncias ou comportamentos aditivos, identificou a perturbação associada aos videojogos (6C51 – Gaming Disorder), na qual estão contemplados os comportamentos de jogo em experiências online e offline.
O último relatório do SICAD – Serviço de Intervenção em Comportamentos Aditivos e Dependências, elaborado para o Plano Nacional para a Redução dos Comportamentos Aditivos
e Dependências 2021-2030, refere que “60% dos adolescentes portugueses jogam jogos eletrónicos em dias de escola e 70% jogam em dias que não são de escola”.
Existem alguns sinais de alarme aos quais devemos estar atentos que potencialmente podem indicar um processo patológico de adição, nomeadamente em crianças e jovens: perder a noção do tempo, agitação e agressividade aquando da interrupção do jogo,
irritabilidade por abstinência do jogo, perda de interesse em participar noutras atividades (família e amigos), desobediência constante nos limites temporais impostos; desenvolvimento
de relações online; hora de deitar tardia e sonolência diurna. Os comportamentos de dependência interferem significativamente no desempenho escolar e nos relacionamentos sociais.
Contudo, algumas estratégias podem ser adotadas no sentido de diminuir a probabilidade desta ocorrência: manter os aparelhos de tecnologia fora do quarto das crianças, de preferência numa área onde seja possível supervisionar o seu uso; certificar-se
que esta não é a única atividade de lazer; definir limites diários de utilização e assegurar que são cumpridos; somente permitir o acesso após a realização das tarefas académicas/ dinâmicas familiares; verificar frequentemente o histórico de navegação no computador; se possível, ter um computador apenas para o trabalho académico.
Caso o seu filho/a apresente alguns dos sinais de alerta acima mencionados, indicadores de dependência patológica da internet e de videojogos, não hesite em contactar a sua Equipa de Saúde Familiar para que possa ser avaliada a situação e, em caso de
necessidade, encaminhar para técnicos com especialização neste âmbito.
Não esqueça: culpabilizar a Internet e os videojogos pelo desenvolvimento menos harmonioso dos nossos filhos não é a solução adequada… a verdade é que somos nós, pais e encarregados de educação, os responsáveis pela sua educação! Estar presente nas suas vidas com genuíno interesse pelos seus gostos, medos e anseios ajuda a desenvolver laços de
confiança, abrindo as portas de uma comunicação segura e eficaz. Para perceber o seu mundo teremos sempre que tentar fazer parte dele!
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