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Dia dos Centros Históricos

 Dia dos Centros Históricos - Jornal do Centro
28.03.25
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 Dia dos Centros Históricos - Jornal do Centro

por
Jorge Marques

Hoje 28 de Março é o Dia Nacional dos Centros Históricos e lembrei-me do nosso Centro Histórico de Viseu. Começo pela Praça de D. Duarte que já foi o Rossio até ao Séc. XVIII. Aquela não é uma Praça qualquer, foi o centro da Cidade Medieval e cada uma das sete ruas que dali partem leva a um tempo da história. Vejamos essas ruas seguindo o movimento contrário dos ponteiros do relógio. Comecemos por aquela que nos leva ao Adro da Sé, uma Sé que já foi mais importante que a Cidade. Ao seu lado o Museu Grão Vasco, o guardião do tesouro do maior dos nossos pintores. Em frente a Misericórdia! No meio do Adro um cruzeiro, foi ali o altar da Inquisição que vinha de Coimbra. De uma das torres da Catedral lançou-se um homem, João Torto, sonhou voar, ser Ícaro e acabou por cair e morrer no Campo da Feira.

A outra rua leva-nos á Porta do Soar que faz parte da Muralha Afonsina. A outra á esquerda soa a Ópera e leva-nos ao lugar onde o Infante teria instalado a famosa Casa de Viseu, a Sede do Império e onde hoje está o Palácio dos Melos. A rua do Comércio, faz a ponte entre o antigo e o novo. Na rua seguinte nasceu D. Duarte! Segue-se a rua da judiaria, chamam-lhe Nova, dos Cristãos Novos, hoje do Hilário! Ali nasceu e morreu o Hilário, o boémio e mais famoso cantor do Fado de Coimbra. Há quem diga que também ali nasceu Pedro Álvaro Cabral, oriundo de uma família judaica proprietária de uma pousada conhecida por “A dos Cabrais”. A última das sete ruas leva-nos ao lugar onde terá existido um castelo e ali poderia ter nascido Afonso Henriques. Tudo isto merece estudo profundo e confirmação!

Aquela Praça a que chamamos de D. Duarte não é uma praça qualquer, as sete ruas que ali nascem não são umas ruas quaisquer! Aquela Praça é como a Rosa dos Ventos, pelos sete ventos das ruas, mas também pelas rosas. Por aquela Praça passou uma Rosa Vermelha que todos os dias ia assistir á missa na Sé. Era Filipa de Lencastre, ao tempo em que teve aqui o seu filho Duarte. Rosa Vermelha porque era o brasão da sua família inglesa, os Lancaster. 

A memória da Cidade está quase toda ali. Mas há uns sons diferentes naquela Praça entre o Natal e Dia de Reis. O cronista Zurara, o repórter daquele tempo, conta-nos tudo na Crónica da Tomada de Ceuta. O Infante D. Henrique, Senhor das Beiras, juntou nesta Praça os seus irmãos Duarte e Pedro, o clero e nobreza da região e outros senhores vindos de Trás-os-Montes e Entre Douro e Minho. O que se festejava? Era segredo, só o Infante e os irmãos sabiam! Festejava-se a próxima partida para a Tomada de Ceuta, o início da partida para a mar, o início da maior aventura deste povo. O mar festejava-se numa terra de granito sem mar! Foi uma festança como Viseu nunca tinha visto, começou a 24 de Dezembro e durou até 6 de Janeiro. Vieram iguarias, comida, frutas de todo o lado, só não veio de fora o vinho, esse porque não havia melhor que o nosso e era feito nas Terras do Dão, malvasia, brancos e vermelhos. A cidade do Infante era agora como uma varanda, um barco imaginário de horizontes largos e onde se olhava e inventava o mar entre os vapores do vinho.

Ceuta foi decidida e as nossas gentes embarcaram no Porto sob o comando do Infante. Muita dessa gente era das Terras de Viseu! Tem razão quem diz que o nosso caminho de hoje deveria ser mais Porto, porque já nesta partida e nesse tempo a gente da Invicta deu-nos uma lição de patriotismo. Mataram os seus animais, ofereceram-nos as carnes para a viagem e apenas ficaram com as tripas. Ceuta foi tomada a 21/24 de Agosto de 1415 com dificuldades, os três irmãos foram armados cavaleiros e a frota regressou a Tavira. Foi aí que D. João I agradeceu e recompensou os filhos. A Duarte já não tinha mais para dar, ele seria o seu sucessor. A Pedro fez Duque de Coimbra e a Henrique Duque de Viseu, Covilhã, Lamego e Guarda.

Foi no nosso Centro Histórico, junto á Porta do Soar, que havia uma casa que pertencia ao Infante. Foi ali que ele instalou a famosa Casa de Viseu, a Sede do Império. Viseu era mais que a Capital das Beiras, era a Capital do Império, a Sede dos Negócios das Descobertas, aquela que ficou conhecida como a Empresa dos Descobrimentos e que ligava Viseu e Lagos. Foi da Casa de Viseu que saíram as gentes para a economia, finanças, políticos e dos vários serviços. Saíram para administrar a Madeira, Açores, Cabo Verde e Costa Africana.

Nas velas brancas dos navios estava pintada a Cruz de Cristo, da Ordem de Cristo, o grande parceiro da Casa de Viseu. Ambas tinham o mesmo chefe, o Infante D. Henrique. A Casa de Viseu tinha ainda o monopólio da pesca nos rios, a pesca do atum no Algarve, a pescada, corvina e sardinha de Peniche e o monopólio dos sabões. Foi o Infante que permitiu a Feira de Viseu e que fez da cidade uma encruzilhada obrigatória que ligava o Norte ao Sul, o Mar a Castela e que cobrava portagens de entrada e saída. 

Regresso sempre aquela Praça para lembrar aquela noite. Ouço os tocadores de arco, rotas, flautas e uma multidão a dançar…E bebo o nosso vinho! O nosso Centro Histórico de Viseu, não são apenas as paredes do casario, mas são também as memórias que precisam ser relembradas. É preciso tomar consciência daquela herança de que Fernando Pessoa falava…nós portugueses temos nos nossos genes Homens como Viriato e o Infante D. Henrique! Sobre este último, Viseu tem mostrado muito pouca gratidão e foi ele quem mais fez pela Cidade… 

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