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Dia Mundial do Teatro celebrado na ACERT com peça de João Tarrafa e Teresa Queirós

A dupla de atores e encenadores leva a palco “Product”, espetáculo que aborda os media, Hollywood e o modo como controlam as narrativas ocidentais

Diogo Paredes
 Dia Mundial do Teatro celebrado na ACERT com peça de João Tarrafa e Teresa Queirós - Jornal do Centro
28.03.25
fotografia: ACERT
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 Dia Mundial do Teatro celebrado na ACERT com peça de João Tarrafa e Teresa Queirós - Jornal do Centro
28.03.25
Fotografia: ACERT
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 Dia Mundial do Teatro celebrado na ACERT com peça de João Tarrafa e Teresa Queirós - Jornal do Centro

Um produtor de cinema de Hollywood com um guião bizarro e uma atriz que protagoniza um thriller romântico que vai colocar em causa uma série de normas e valores ocidentais. É este o mote para a peça “Product”, de João Tarrafa e Teresa Queirós. O espetáculo foi desenvolvido no início da pandemia, e vai agora ser apresentado pela primeira vez na ACERT esta sexta-feira, dia 28 de março. A apresentação, agendada para as 19h30, celebra o Dia Mundial do Teatro, comemorado oficialmente na quinta-feira, dia 27 de março.

Encenado e interpretado pela dupla, o texto original de Product pertence a Mark Ravenhill e conta com o desenho de luz a cargo de Dino da Costa e operação de luz feita por Diogo Oliveira. Ao Jornal do Centro, a dupla de atores/encenadores explicou a ideia por trás desta interpretação da peça, assim como a sua pertinência na atualidade.

Product surgiu, pela cabeça de João Tarrafa, em 2020, com a candidatura a uma bolsa de criação para artistas oferecida por causa da pandemia da Covid-19 e dos sucessivos confinamentos que afetaram Portugal e o resto do mundo. O reduzido valor do montante obrigou João Tarrafa a optar por uma peça, de entre os seus guiões favoritos, que desse para fazer com um número reduzido de membros na equipa, tanto em cima como fora do palco. “Eu sempre quis fazer esta peça como ator desde que a li, só que depois vi-me na posição de também ter de encenar e de produzir um pouco”, assumiu João Tarrafa. “Na altura lia bastante teatro e esta era uma das peças que estava no topo da gaveta, pelo que havendo essa oportunidade eu decidi aproveitá-la”, contou ainda.

Apenas uma escolha estava já feita – ter Teresa Queirós como atriz neste espetáculo: “tinha de ser com a teresa, não dava para fazer de outra maneira, porque eu não consigo encenar esta peça ‘de fora’, eu estou sempre dentro, a falar, e precisava de uma atriz que não necessitasse de mim a dirigi-la”, explicou o encenador. “A Teresa é, para mim uma atriz bastante autoconsciente, que quase não precisa de alguém a dirigir.” Um elogio que do outro lado foi recíproco, uma vez que a atriz considerou João Tarrafa “muito trabalhador, no sentido não apenas de esforçado, mas de pensar muito bem no seu ofício, de pensar muito bem a sua arte”.

Ambos os atores são de Aveiro. Contudo, aquando da criação de Product, Teresa Queirós encontrava-se a viver no Porto. A peça foi feita, de acordo com João Tarrafa, graças ao apoio do GrETUA (Grupo Experimental de Teatro da Universidade de Aveiro), que cedeu aos artistas tanto o espaço cénico para ensaiarem como um local onde pudessem armazenar, por exemplo, os figurinos e a cenografia. Um dos pontos mais vantajosos em preparar uma peça durante mais de um ano, como explicou o ator e encenador, é que é possível preparar e estudar tanto o texto como as personagens a um nível de profundidade bastante elevado, especialmente em comparação com peças cujos atores dispõem apenas de alguns dias para ensaiar. Um trabalho longo, mas harmonioso, é como descreveu o ator João Tarrafa. Já Teresa Queirós considerou que o longo período de preparação “permitiu uma maior interação, porque mesmo o Dino, que é uma pessoa que está a fazer luz, pôde ter uma opinião dentro da conversa da criação do espetáculo e sobre o que faria sentido ou não”. No fim, o produto artístico saiu mais enriquecido, mais profundo e fruto de maior discussão, assumiram os dois.

Já em relação ao lado satírico da peça, João Tarrafa explicou ao Jornal do Centro que Product é uma paródia à polarização de que opiniões que existe atualmente, assim como “uma sátira da forma como Hollywood e os media acabam por criar narrativas que ficam na nossa cabeça, e que se vem agravando desde 2021”. “É como se a realidade não existisse porque a realidade é o que nós consumimos, especialmente com a ascensão do algoritmo como forma de criar essa narrativa”, detalhou o encenador, que expressou o desejo de uma maior responsabilização dos media.

A paródia a esta polarização de opiniões é ainda visível no modo como o produtor de cinema, na peça, quer fazer um guião novo e “adora esta história que se torna cada vez mais escabrosa, mais racista e mais xenófoba ao longo da sua narrativa”.

“Hollywood tem esta história de fazer dos povos ‘não-brancos’ parecerem coisas que não são, parodiá-los e estereotipá-los, tanto a negros como a índios, especialmente na altura dos westerns norte-americanos”, assumiu João Tarrafa.

Além disso, através da personagem que Teresa Queirós desempenha, é possível falar da própria atividade do artista e da forma como muitas vezes os profissionais ligados às artes têm de se colocar em posições que são bastante desconfortáveis e perigosa, detalhou o encenador. “Parece que há uma linha muito ténue entre o que é suposto ser a visão profissional que as pessoas têm de nós e a visão pessoal, como se isso fosse exatamente a mesma coisa, mas não é”, disse ainda. Por seu lado, a atriz assumiu já ter feito espetáculos “que cumpriam uma agenda ou que eram de alguma forma autosservientes da própria pessoa que os fez”.

“É quase como se estivesse a fazer espetáculos em que cada um é uma espécie de audição, em que se está a mostrar o trabalho para as pessoas que, eventualmente, nos vão contratar”, esclareceu a atriz, também ela criadora desta peça. “Portanto, é ótimo poder fazer um espetáculo que de facto tenha algum lugar e uma responsabilidade que é política e que tenha de facto conteúdo no qual me revejo”, esclareceu a atriz.

Para Teresa Queirós, Product era pertinente no ano de 2021, mas é ainda mais pertinente na atualidade: “todos os assuntos que têm estado nas manchetes dos telejornais e em redes sociais, sobretudo a visão caricatural de povos e a racialização dos mesmos, também está presente e tornou-se tudo numa espécie de cocktail perfeito, numa altura em que a peça é bastante pertinente”. “Óbvio que isto não tem de ser tudo Brecht, mas não tem de ser intrinsecamente e explicitamente político, basta que seja, sempre, intrinsecamente. “Acho que a arte não deixa de ser sempre política e de ter um lugar na história, porque tudo tem contexto”, concluiu.

Embora tanto João Tarrafa como Teresa Queirós nunca tenham visitado a ACERT, a dupla assegura ter ouvido o suficiente sobre o teatro tondelense e ter ao mesmo tempo “noção de que é um espaço que faz muitas coisas interessantes”. “Há uma noção geral que a ACERT se mexe muito e faz coisas interessantes por isso estou muito entusiasmado por ir lá”, elogiou João Tarrafa. Também, Teresa, que desconhecia por completo a ACERT, está “muito interessa em ir”, sobretudo pelo seu apego ao corpo humano e aos espaços, sendo que os próprios espaços são feitos de e para pessoas”, contou a atriz.

O espetáculo conta com cenografia de “Dino da Costa, João Tarrafa e Teresa Queirós”, além da sonoplastia de Francisco Faria e operação de som, que fica entregue a Hugo Grave. As fotografias foram tiradas por Joana Magalhães e a produção executiva é feita por Beatriz Lobo.

A peça Product sobe a palco com a ajuda da Câmara Municipal de Aveiro e do GrETUA.

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