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Do Santuário da Lapa até à Aufer, uma viagem de cumplicidade com as irmãs Pestana

Fomos P’ia Fora com a arquiteta e a designer de comunicação, numa viagem que começou em, Sernancelhe e teve paragem no meio de cartolinas, lápis e cadernos

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 Do Santuário da Lapa até à Aufer, uma viagem de cumplicidade com as irmãs Pestana
01.03.25
fotografia: Jornal do Centro
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 Do Santuário da Lapa até à Aufer, uma viagem de cumplicidade com as irmãs Pestana
02.03.25
Fotografia: Jornal do Centro
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 Do Santuário da Lapa até à Aufer, uma viagem de cumplicidade com as irmãs Pestana


Cumplicidade é
 a palavra que caracteriza esta edição do P’ia Fora e neste caso, a cumplicidade de irmãs. Devem ter sido muitas as piadas que ouviram durante crianças, afinal o nome às vezes pode ser “duro”, mas hoje as irmãs Pestana – Mariana e Joana – nem se lembram disso. 

Mariana é arquiteta e, agora, curadora-chefe de arquitetura no Museu de Arte Contemporânea do Centro Cultural de Belém. Também é professora auxiliar no Instituto Superior Técnico. Mas, já fez uma série de outras coisas, das quais se pode destacar a curadoria da 5ª Bienal de Design de Istambul.

A Joana é designer de comunicação. Está a tirar o doutoramento na Universidade do Porto e é professora assistente da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.

Este P’ia Fora deveria ser uma volta por Viseu. Mas, como as memórias de infância e juventude são coisas fortes, as irmãs pediram e esta história de cumplicidade começa em Sernancelhe, de onde vem o lado paterno da família. 

Vinte anos depois, Mariana e Joana Pestana regressaram ao Santuário da Nossa Senhora da Lapa. A visita, longe de ser apenas uma recordação do passado, tornou-se num momento de reflexão sobre a perceção do espaço e a forma como as memórias redesenham os lugares.

“Este espaço é, um bocado, o nosso ponto de referência de verão”, explica Mariana. “Vínhamos aqui a caminho de visitar a nossa avó e a família paterna. A nossa mãe é do Porto e, por isso, este lugar sempre nos fez sentir que estávamos a entrar noutra parte da nossa história”. Joana partilha do mesmo sentimento: “Há um ritual associado a este espaço, não tanto pela vertente religiosa, mas porque parávamos aqui quinzenalmente e ficávamos sempre com a expectativa de passar ou não a pedra”. 

O Santuário da Lapa, conhecido pelo estreito rochedo que os visitantes atravessam como prova de fé, serviu em tempos de desafio para as irmãs. “Pensávamos nas asneiras das últimas semanas e se seriam reveladas ao passar a pedra”, brinca Joana. No entanto, mais do que nostalgia, a sensação de regresso foi de transformação. “Agora parece tudo mais luminoso, mais pitoresco. Talvez tenha havido alguma turistificação do espaço”, pondera Mariana. “Ainda assim, continua especial. O altar cravado na rocha é algo raro e impressionante”, descreve.

A percepção do Santuário mudou para ambas. “Antes sentia este lugar como austero, talvez porque vínhamos no inverno. Agora, ao sol do verão, parece mais pequeno, mais acolhedor”, realça Joana Pestana.

O simbolismo do local permanece forte. “Quando éramos crianças, este era um espaço de provação. Agora, sinto um respeito diferente. Há aqui mais do que a vertente religiosa – há história, há encontros, há um brilho especial”, acrescenta a irmã Mariana.

Sernancelhe fica para trás e a viagem das irmãs Pestana continua. Num regresso às origens falam sobre a forte ligação que mantêm com a região de Viseu, mesmo depois de tantos anos fora. 

“Eu tenho mesmo um sentido muito forte de pertença a este território. Acho que tem a ver com as qualidades físicas ou tectónicas mesmo deste lugar, da pedra, do granito, das oscilações da temperatura”, afirma. A designer recorda a paisagem montanhosa que sempre fez parte do seu passado. “Crescemos com o Caramulo e a Serra da Estrela sempre no horizonte”.

Joana, por sua vez, reconhece que não sente essa conexão de forma tão intensa, mas ainda assim, não deixa de se identificar com a sua cidade natal – Viseu. “Nunca digo que sou do Porto, apesar de viver lá há tantos anos”.

As duas partilham uma visão semelhante sobre crescer num local mais pequeno e afastado dos grandes centros urbanos. Para Joana, isso criou um espírito de curiosidade e busca por mais conhecimento. 

A conversa segue em tom nostálgico, lembrando-se dos locais icónicos da infância. Entre eles, a loja Aufer, um ponto de referência para quem estudava arquitetura e design em Viseu. “Esta loja tem essa qualidade”, diz Joana, “de ser um local onde se pode encontrar aquilo que se procura e, ao mesmo tempo, descobrir algo inesperado”.

A conversa evolui para a importância dos lugares históricos na identidade de Viseu e assim surge a referência à Sé-Catedral, mais concretamente ao seu claustro. Com duas galerias distintas, este espaço representa um ponto de transformação e inovação na cidade. Mariana destaca que se hoje Viseu é vista com nostalgia pelo seu passado, houve um tempo em que a cidade olhava para o futuro e este claustro simboliza esse período.

O claustro é um dos primeiros exemplos da influência do Renascimento em Portugal, numa altura em que os tratados de arquitetura italiana estavam a ditar as novas regras da construção. Esta mudança chegou a Viseu através de D. Miguel da Silva, bispo da cidade e antigo embaixador em Roma, que trouxe para Portugal a arquitetura de vanguarda da época. 

Além do seu valor histórico e arquitetónico, o claustro é apontado como um local ideal para momentos de tranquilidade: seja para ler um livro, ter uma conversa ou simplesmente fugir do calor nos dias de verão. 

Esta história é o ponto de partida do podcast quinzenal do Jornal do Centro “P’ia Fora” com apresentação de André Albuquerque e que pode ser ouvido na íntegra nas nossas plataformas digitais.

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