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Educar para Prevenir Prevenção dos maus tratos nas crianças e jovens vítimas de violência doméstica

 Educar para Prevenir Prevenção dos maus tratos nas crianças e jovens vítimas de violência doméstica
25.11.22
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 Educar para Prevenir Prevenção dos maus tratos nas crianças e jovens vítimas de violência doméstica

Iniciaria esta reflexão por relembrar que a violência doméstica é um crime público, e uma realidade preocupante em que as Respostas de Apoio Psicológico (RAP) para crianças e jovens vítimas se traduzem num avanço significativo na prevenção e combate a este flagelo.
As dinâmicas inerentes aos maus tratos em contexto intra-familiar assumem especial gravidade e dano para o bem-estar da criança e do jovem, uma vez que se encontram aumentadas as probabilidades de a violência que sobre elas é exercida evoluir, quer ao nível da gravidade dos atos (danos associados ao aumento da severidade da agressão), como da sua frequência (episódios que vão sendo concretizados em intervalos de tempo cada vez mais curtos). Estes episódios em contexto familiar associam-se a um padrão de violência que tende a replicar-se de forma continuada e repetitiva ao longo do tempo por ocorrer num domínio privado, representando um padrão de funcionamento violento do quotidiano da família. Subsequentemente estão os irreparáveis danos e impacto negativo no bem-estar, crescimento e desenvolvimento da criança e do jovem. Importa referir que se não trabalharmos as famílias, o ciclo não cessa, o que significa que pode ser perpetuado de forma transgeracional. Qualquer criança e jovem envolvidos em seios familiares abusivos são vítimas diretas, conduzindo a inúmeras consequências.
Então de que forma podemos desenvolver esforços para apoiar uma mensagem geral anti violência e implementar práticas capazes de prevenir este problema de saúde pública? Poderemos refletir, consciencializando-nos que todos nós temos um papel ativo neste combate, desmistificando, esclarecendo, apoiando e ajudando.
Todavia, a criança/jovem carece de necessidades fundamentais para o seu integral e saudável desenvolvimento. As crianças/jovens devem ter oportunidade para interagir com os seus pares, desenvolver e estimular as suas áreas de interesse. No desenvolvimento emocional e comportamental pressupõe-se uma vinculação afetiva e segura em relação aos pais, família e outros devendo esta ser assegurada. Só assim a criança e o/a jovem poderão crescer seguros de si, capazes de identificar e regular emoções, bem como, terem maior facilidade em estabelecer relações significativas, desenvolvendo competências ao nível da empatia, capacidade de autocontrolo e resiliência. Uma prevenção primária poderá reunir um conjunto de abordagens que podem evitar a violência ainda antes que ela ocorra. Este problema social não pode ser trabalhado com base no remedeio, antes pelo contrário, devemos prevenir para não remediar!

É importante estar atento aos fatores de risco individuais e agir para modificar esses comportamentos de risco. Influenciar as relações pessoais em prol da criação de ambientes familiares saudáveis, bem como, oferecer apoio profissional para famílias disfuncionais; combater as desigualdades de género e qualquer atitude e prática cultural que se considere prejudicial.
Supervisionar locais públicos como escolas, ambientes de trabalho, via pública e agir, para tratar de problemas que possam levar à violência e ainda, e não menos importante, os fatores sociais, económicos e culturais mais amplos que contribuem para a violência, necessitam de alteração e para isso, é crucial investir em medidas que permitam reduzir o abismo naquilo que se considera serem as desigualdades sociais extremas, e só assim garantimos o acesso igualitário a oportunidades, bens e serviços.
Numa perspetiva macro e micro, identifico e sublinho: Educação! A educação é a palavra chave. Educar para a educação! É necessário, em contexto escolar intervir precocemente, é necessário garantir o envolvimento de todas as partes, é urgente que as escolas entendam a importância de se sensibilizar para estas temáticas, oferecendo espaços para o diálogo, para a reflexão conjunta. É premente o investimento nas áreas da formação cívica, da cidadania, do saber ser. A escola não tem e não deve ser só matemática e português. É necessário descobrir potencialidades, explorar áreas de interesse, motivando os alunos para a frequência escolar, para a sua participação e envolvimento cívico, favorecendo inúmeros caminhos. Uma criança ou um jovem feliz, que se sente motivado na escola porque é integrado e aceite, à partida estará bem, feliz. A sensação de bem-estar e a felicidade perspetivam melhores relações entre os pares e comunidade com base no respeito e na positiva comunicação, no desenvolvimento integral e no sucesso educativo. Repito, intervir precocemente em idade pré-escolar.

O Núcleo de Atendimento a Vítimas de Violência Doméstica (NAVVD) desloca-se aos estabelecimentos de ensino com o objetivo de desenvolver ações de sensibilização sobre temáticas tão relevantes como a “igualdade de género”, “violência no namoro”, ao mesmo tempo que desafiamos estereótipos e atitudes. Desejaríamos ver o nosso trabalho mais simplificado nesse sentido. Somos todos, sem exceção, responsáveis pelo futuro das humanidades, pelo respeito, pela saúde mental e em última instância, mas fundamental, pela paz. Sabendo que já são efetuadas por várias entidades, identifico como necessidade, a importância de envolver os pais em ações acerca de parentalidade positiva, promoção de competências parentais, continuadamente e, quiçá, implementar vários modelos de escolas para pais, incentivando às boas práticas e tudo o que daí possa advir.! Reforça-se a necessidade do trabalho em equipas multidisciplinares, evidenciando o contributo dos profissionais de saúde. Eles podem e devem esclarecer o seu papel e a importância do seu contributo junto das crianças e dos jovens, desmistificando ideias pré-concebidas.

Não posso ultimar sem concluir onde sustento o envolvimento de todos, as iniciativas para promoção de debates, a (des)construção de ideias, a partilha, o papel da comunicação, a influência dos mídia e a atenção à (des)informação des(adequada). Recordo que, enquanto não nos capacitarmos que o princípio é a educação de todos, continuaremos, certamente, a revitimizar vítimas e, com grandes dificuldades para diminuir esta que, tem sido uma crescente e complexa escalada de violência. As crianças/jovens aprendem quando ouvem, quando leem, quando vêm e mais aprendem quando fazem. Neste seguimento, e para que eles nos possam imitar em comportamentos cívicos, devemos ser o exemplo para que também eles possam vir a dar o exemplo!
Não desacredite nas gerações futuras, caso contrário, estará a desacreditar-se a si próprio!

Adriana Alves
Psicóloga Clínica RAP / Núcleo de Atendimento a Vítimas de Violência Doméstica
Viseu, em colaboração com a UCC Viseense

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