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Em Viseu, a Rede Europeia Contra a Pobreza quer ir às causas do problema

O presidente da EAPN de Portugal, Padre Agostinho Jardim Moreira, destaca a necessidade de um esforço conjunto na abordagem desta problemática

Carolina Vicente
 Em Viseu, a Rede Europeia Contra a Pobreza quer ir às causas do problema
09.11.24
fotografia: Jornal do Centro
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 Em Viseu, a Rede Europeia Contra a Pobreza quer ir às causas do problema
13.11.24
Fotografia: Jornal do Centro
 Em Viseu, a Rede Europeia Contra a Pobreza quer ir às causas do problema

A Rede Europeia contra a Pobreza (EAPN) de Portugal e o Fórum de Cidadania de Viseu assinaram, no passado dia 29 de outubro, no Instituto Politécnico de Viseu, um protocolo que os une contra a pobreza. O evento contou com a presença do Padre Agostinho Jardim Moreira, presidente da EAPN de Portugal, que destacou a necessidade de um esforço conjunto na abordagem desta problemática. Esta parceria tem o propósito de reforçar a colaboração na luta contra a pobreza e sensibilizar a sociedade para as causas estruturais do problema

Há pouco disse que este protocolo era um abrir de portas de Viseu a esta causa. Isto é uma veia da rede a chegar finalmente a Viseu?

Nós já estamos em Viseu há 20 anos. 

É um aprofundar dessa ação?

Dando conta que a pobreza tem causas pluridimensionais, estruturais, só é possível atingi-las com o consenso de todos os atores e da sociedade civil que apoiam as políticas que são implementadas.

Isto é um pedido de ajuda à comunidade que as autarquias e CIMs não conseguem auxiliar?

Este trabalho está a ser feito em todo o país, independentemente de qualquer circunstância, mas o problema é ser generalizado. Não é focado na região de Viseu. As instâncias de decisão não estavam habituadas a ter estes problemas e estas políticas para trabalhar. Muita gente não está informada ou formada, nem tem técnicos capazes de os ajudar nesta matéria. Os autarcas são elementos da comunidade que se dispõem a estar ao serviço da comunidade, e portanto têm de trabalhar com a comunidade. 

Falou que às vezes até há o contacto, mas depois há uma barreira…

É preciso tentar sensibilizar os autarcas e que os seus técnicos sejam capazes de trabalhar esta dimensão, porque o grande problema é nós virmos de uma época e de uma cultura muito assistencialista, de dar dinheiro, de dar bónus e não irem às causas. As causas obrigam a mexer com os interesses individuais. Sabemos que vai mexer, principalmente, com os que têm mais poder económico. Precisamos que haja uma envolvência de todos os atores para que se possa mexer nas causas que geram a pobreza.

Que iniciativas estão previstas neste protocolo?

O Fórum é formado por pessoas com um perfil apelidado de ‘conhecido’ na sociedade local para poderem dinamizar os atores, neste caso sociais, políticos e culturais, de maneira a que a luta contra a pobreza seja assumida por esses atores de decisão. Nós sabemos que a educação e a cultura são essenciais à luta contra a pobreza. De facto, desde o dia 25 de Abril, houve uma evolução a nível educativo, mas a verdade é que muitos ficam pelo caminho logo no início, por várias razões. 

Quais são essas razões?

Todas aquelas crianças que não tiveram uma alimentação e saúde cuidada nos primeiros três anos, depois são afetadas a nível cerebral, e já não vão ter capacidade de engrenar na parte da escola. Costumam dizer “Os pobres são burros!”, mas eles são vítimas porque não comeram, porque não se alimentaram, não tiveram a saúde que deveriam ter quando eram crianças. A sociedade é culpada pelos pobres que não conseguem avançar no ensino porque não tiveram a alimentação necessária. É daqui que as coisas nascem. Há também a questão, por exemplo, das mães solteiras que não têm dinheiro para pagar a renda, que não têm emprego…

São essas as situações com mais destaque?

Uma delas é essa. Depois temos o exemplo dos que estão empregados em que a mensalidade não chega para atender a família. Depois há outra coisa, em Portugal, uma mulher que tenha dois filhos é pobre. Ter filhos em Portugal é ser pobre. Se não há filhos temos problemas demográficos, e se temos problemas demográficos, temos consequências como a emigração. Se não vamos às causas, os problemas multiplicam-se. Andamos a ter políticas nacionais apenas para remendar, não queremos ir às causas quando são elas que geram tudo isto. Os dados, cientificamente, são claros. Não é preciso estar contra ninguém, basta analisar os factos e dizer “isto está bem, vamos aplicar o remédio adequado”. 

O que é que é necessário para que seja aplicado?

É preciso haver vontade política. O dinheiro até vem, mas a questão é onde ele se aplica. Vai aplicar-se às causas que geram estas injustiças, estas desigualdades e desumanidade? O problema da pobreza é uma questão de desumanidade. Temos de ser coerentes e aplicar os meios para que as pessoas participem livremente na vida social. Não é pedir nada a ninguém, é reconhecer a dignidade de cada ser humano e evitar problemas desde o seio materno. Também há a questão das creches para ver se evitamos aquele problema dos primeiros três anos de má alimentação e cuidados de saúde. Estamos agora a trabalhar com o Ensino Superior para ver se conseguimos que os próprios alunos sejam sensibilizados e informados sobre como vão atuar amanhã, como vão atuar na sociedade, de modo a corrigirmos as assimetrias. 

Referiu que não há incentivo dos tais decisores, o que é que a Rede e o Fórum fazem de diferente?

Há um velho ditado que diz ‘Água mole em pedra dura tanto bate até que fura’. É persistência. O nosso trabalho passa pela sensibilização, informação, formação e pelo diagnóstico. Não estamos contra ninguém. Estamos a favor das vítimas. Queremos sensibilizar as pessoas e que haja opinião pública.

 Em Viseu, a Rede Europeia Contra a Pobreza quer ir às causas do problema

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