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Embaraços, vergonhas e figuras tristes

 Embaraços, vergonhas e figuras tristes
07.05.21
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1. Comecemos por esta casa, antes de ir às alheias. Um embaraço: na semana passada grafei aqui mal o nome do presidente da câmara de Resende — Garcez Trindade. É com “zê”. No Facebook, uma leitora do Jornal do Centro malhou neste lapso. Com razão.

2. No ano passado, o PS e o PSD fizeram várias alterações cirúrgicas à lei eleitoral das autarquias, todas com o mesmo objectivo: dificultar, infernizar, desanimar, desincentivar listas independentes aos municípios e às freguesias.

Como esta sabujice passou sem objecções no crivo da presidência da república, teve que ser a provedora de Justiça, Maria Lúcia Amaral, a defender a decência e a legalidade, pedindo a apreciação do diploma ao Tribunal Constitucional. Este, no seu Acórdão nº 247/2021, de 28 de Abril, acaba de declarar inconstitucional aquele lixo. Uma vergonha para a falta de comparência do professor de direito constitucional que habita o Palácio de Belém.

Esta omissão do presidente tem uma explicação, mas não é boa. O PR vive aterrorizado com tudo o que cheire a “inorgânico” (designação sua) porque sabe que o regime está preso por arames e incapaz de se reformar. A confiança das pessoas na terceira república está muito abalada: o elevador social só funciona para boys e girls, os corruptos safam-se sempre, a nossa justiça é veludo para os ricos e chicote para os remediados e os pobres.

Foi esse medo da instabilidade que paralisou Marcelo e o fez acomodar-se a esta manobra do cartel partidário.

3. A designação de José Guerra para procurador europeu, em vez da primeira classificada Ana Carla Almeida, acaba de ser criticada num documento do parlamento europeu que foi aprovado com estes números esmagadores: 633 votos a favor, 39 contra e 18 abstenções.

O texto expressa uma “profunda preocupação” com as “informações erróneas” fornecidas pelo governo “sobre as qualificações e a experiência do candidato classificado em segundo lugar pelo comité de selecção europeu, o que conduziu à sua nomeação para o cargo de procurador europeu português.”

A ministra Francisca Van Dunem, um dos activos tóxicos deste governo — o outro é o ministro Eduardo “Okupa” Cabrita —, já veio “relativizar” esta votação. É só mais uma vergonha que a “justiça” portuguesa nos faz passar na “Europa”. O costume.

4. «Sou a presidente da Comissão Europeia e assim esperava ser tratada quando visitei a Turquia há duas semanas. Não o fui porque sou mulher», Ursula von der Leyen, 26 de Abril de 2021.

O incidente conhecido como “sofagate” é mais do que conhecido. Ursula tem toda a razão, foi destratada porque é uma mulher. O autocrata machistóide da Turquia, sr. Recep Tayyip Erdo?an, esteve igual a si próprio. O sr. Charles Michel, a apressar-se para o cadeirão disponível, fez uma figurinha triste. Quando chegar a hora, precisa de uns patins debaixo dos pés.

Retirem-se lições deste caso para o futuro. A igualdade de género para que se caminha no Ocidente é uma fonte de inspiração para muitas mulheres que vivem em países islâmicos. Por exemplo, rendamos homenagem à coragem das iranianas das “quarta-feira-brancas” que, nesse dia da semana, saem às ruas sem medo da polícia moral dos aiatolas, retiram os véus, fotografam-se maquilhadas e em cabelo e partilham essas imagens nas redes sociais. Essas lutadoras pela liberdade são atraiçoadas sempre que uma política ocidental, em visita a um país muçulmano, tapa o cabelo ou se deixa subalternizar, como aconteceu no “sofagate”.
Nunca mais se repita esta vergonha.

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