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“Enquanto continuamos a olhar para o lado, os viticultores vão perdendo capacidade financeira e o território vai ficando desertificado”

 “Enquanto continuamos a olhar para o lado, os viticultores vão perdendo capacidade financeira e o território vai ficando desertificado”
03.08.24
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 “Enquanto continuamos a olhar para o lado, os viticultores vão perdendo capacidade financeira e o território vai ficando desertificado”
19.09.24
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 “Enquanto continuamos a olhar para o lado, os viticultores vão perdendo capacidade financeira e o território vai ficando desertificado”

Para quem não está inteirado, de que forma se explica o que está a acontecer na região do Douro?
O que está a acontecer não é uma novidade, tenho vindo a alertar para esta situação e o que verificamos é que este ano batemos no fundo. A situação agravou-se porque o viticultor tem vindo a perder rendimentos, tem vendido as uvas cada vez mais baratas e este ano chegámos ao cúmulo de haver viticultores que nem sequer têm onde colocar as uvas. Imaginam o que é um viticultor com uma família, com filhos a estudar e que este ano não tem onde colocar as uvas? Que bate à porta de outras adegas e todos dizem: “não, este ano não recebo”. Há pessoas que vivem exclusivamente da vinha. Claro que podem dizer-nos que isto é o mercado, que é um problema transversal, um problema do país e do mundo ou que há menos consumo. Até aí tudo bem, mas há problemas na região que existem há anos e que mereciam ter sido resolvidos pelos sucessivos governos e pelas instituições que têm o poder de decisão. Não estou a exagerar se disser que isto vai ter um fim trágico se não se atalhar caminho e não se puser definitivamente mão na região. E os próprios viticultores já se começam a fazer ouvir e até já agendaram uma manifestação para os próximos dias. Todos os dias tenho pessoas que me dizem que devíamos ir para a rua e eu tento acalmar os ânimos dizendo às pessoas que estou a tentar fazer o meu trabalho de pressão política e a sensibilizar, mas as pessoas estão a começar a revoltar-se e isto pode ser muito complicado. Mas o que é que está a acontecer? Há empresas que não vão comprar uvas porque há excesso de vinho dentro das adegas. E há excesso de vinho porquê? Por várias razões. E é legítimo perguntar: se a região produz vinho a mais, porque razão se importam todos os anos milhões de litros?

Em Espanha, por exemplo…
Calcula-se que, anualmente, entrem 140 milhões de vinho de fora e isso traz problemas. Claro que é possível importar vinho de fora e fazer vinhos de mesa de forma totalmente legal. A questão é outra, o vinho que é importado tem pouco controlo, nem sequer passa pelo Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), apenas pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) e depois não sabemos para onde vai esse vinho e aí é que está a suposta ilegalidade. E até podemos ir mais longe, uma empresa do Douro que comercialize vinho de mesa numa qualquer bag in box com a sua marca induz o consumidor em erro, porque pensa que está a consumir vinho do Douro. A região tinha tudo para dar certo, porque é uma região com muita qualidade, que tem muita história para oferecer, que tem um produto único, mas que não vende. E é uma região que tem muitos “espertos” e que vão à procura de lucro fácil e, por isso, trabalham com vinhos comprados a 30 cêntimos.

Os viticultores queixam-se que o preço da pipa é o mesmo de há 30 anos e que não acompanha os aumentos dos custos de produção.
Há 20 anos, quando eu e as minhas irmãs andávamos na faculdade, o Porto, as uvas, eram pagas a 240 contos, são cerca de 1200 euros. Atualmente, as uvas são pagas a mil euros. O consumo DOC era pago a 120 contos, cerca de 600 euros, agora é pago a 300, mas os custos de produção triplicaram. Hoje, garanto-lhe que eu e as minhas irmãs não teríamos condições financeiras para estudar. Nem sequer seria necessário ao IVDP ir para a rua fiscalizar, faça-se a fiscalização através de varejos a todas as adegas em maio ou junho para ver o vinho que existe e, depois, em setembro, após as vindimas outro varejo, para perceber as uvas que entraram, cruzar os dados do manifesto com as finanças. Se quiserem, conseguem facilmente controlar o vinho que é importado e o que é da região. Custa-me muito dizer isto, e um presidente de Câmara nem deveria falar assim, mas também já estou saturado e preocupado com as pessoas, a verdade é que a região está em roda livre e há muita gente a ganhar dinheiro com isto.

Acha que parte da solução está aí, num maior controlo?
É totalmente por aí. E há outra coisa gravíssima que é termos uma região, um setor, que paga elevadas taxas para o IVDP, cerca de 10 milhões de euros que deveriam ser para promover a região e ficam todos cativos no Orçamento de Estado. A região não pede esmolas ou um tratamento favorável, pede o que é dela. Os valores que a região paga deveriam servir para promover a região, para promover os vinhos e isso não está a acontecer. Lidera um dos concelhos com a maior área de vinhas. Os seus munícipes têm-lhe demonstrado esta aflição? Todos os dias! A minha revolta é exatamente por isso, porque eu estou por dentro do assunto e sei o que se passa. Também a minha família vivia disto, sofreu com isto e este ano há muita gente aflita com o que esta situação pode causar às vidas delas e das famílias. Espero que tudo isto não descambe, acredito que basta que alguém que tenha alguma visibilidade acenda o rastilho e vai ser um problema, uma revolta grande, que esperemos que não aconteça.

Quando a região apareceu, e durante vários anos, falava-se exclusivamente no vinho do Porto, nos anos 80 entra um novo conceito, DOC Douro, mais virado para os “vinhos tranquilos”. Foi uma mudança que veio acentuar problemas?
Esse é outro dos problemas que aponto. A região está a trabalhar com legislação de 1932, uma legislação que apontava para uma região que vivia à volta do vinho do Porto e não dos vinhos de mesa [vinhos tranquilos]. Todo o quadro regulamentar da região tem que ser alterado e nós já apontámos essa necessidade. Mas também é verdade que são os DOC Douro e os vinhos do Porto de alta gama que vão segurando mais ou menos a região e, por isso, ainda bem que apareceram. Os DOC têm contribuído para que a situação não seja tão má.

Que soluções podem ser encontradas?
Sou defensor de uma medida, que também já transmiti ao ministro, que a região só deveria produzir qualidade e não quantidade, ou seja, vinho do Porto e vinhos DOC Douro e não vinhos de mesa. Se temos uma região que tem qualidade, de pouca produção e que não pode competir com preços nem quantidades, não vale a pena andarmos a vender vinho barato. Eu sei que isto é muito teórico, mas é a verdade em que acredito. Se uma empresa entra neste negócio de vender quantidades e preços vê-se obrigada a importar vinhos que lhe ficam a 30 cêntimos, a enganar os consumidores e a destruir a região.

Esta crise, como diz, não é nova. O Presidente da República chegou a pedir medidas urgentes para uma região que no ano passado foi Cidade Europeia do Vinho. O que ficou desse evento?
Esse reconhecimento que nos orgulhou e nos deu visibilidade acabou por resultar em muito pouco. Aliás, pelo menos numa coisa resultou e isto é quase um alerta, demonstrou que nós autarcas conseguimos estar unidos e desenvolver iniciativas como esta. O repto que faço a todos os autarcas da região é que se unam, porque para nós esta tem que ser a principal prioridade, as pessoas vivem disto, para mim, este é o assunto mais importante que tenho em cima da mesa. E há que sublinhar que o que tenho dito não é um ataque a este governo, até porque chegaram há alguns meses e mal tiveram tempo para perceber o que se passa, a culta é de todos os governos. Volto a dizer, não pedimos esmolas, exigimos que ponham mão nisto e que legislem para travar as ilegalidades que se passam na região e, ao mesmo tempo, deixar na região o que é da região, nomeadamente os milhões de euros de taxas. Mas, enquanto continuarmos a olhar para o lado, porque apesar de tudo o Douro continua bonito, os viticultores vão perder capacidade financeira, vão vender os terrenos ao desbarato, vamos perder a coesão e o território vai ficando desertificado. Sinceramente, eu também começo a ficar com pouca expectativa de que se possa inverter este rumo de desertificação do Interior. Precisamos de alguém que venha e que queira mudar as coisas definitivamente, mas ninguém tem coragem para avançar porque há muitos interesses em causa. Custa-me este discurso populista, mas a verdade é que temos uma região que representa quase 50% do valor total de vinhos exportados, mas quem está na região vive mal para outros viverem bem.

Mas ideia que passa do Douro é que é uma região em franca expansão e apetecível.
E é verdade. O que falta é só uma justa repartição dos lucros que a atividade gera. Falamos em quase 700 milhões de euros de vendas anuais, que têm vindo a crescer, ainda que de forma tímida nos últimos anos, mas depois vemos os rendimentos dos viticultores a diminuir. Portanto, há uma margem em que alguém estará a ganhar. É preciso haver uma justa repartição. Mas como é que isso se faz se quem está no negócio consegue trabalhar à vontade com a legislação que existe, com a permissividade na falta de fiscalização e promoção? Tem que haver alguém que defenda a região e as vítimas disto tudo são os viticultores. E isto leva a outra questão, a reativação da Casa do Douro, porque a produção não tem voz. Falamos num comércio que faz bem o seu trabalho e que se consegue organizar e depois falamos numa produção sem voz, enganada e sem expectativas para o futuro.

Acredita que o regresso da Casa do Douro pode ser uma ajuda aos produtores?
Ajuda, mas não será uma Casa do Douro como existia há uns anos, até porque há questões de legislação europeia que não o permitem. Em tempos, a Casa do Douro definia preços da pipa e ficava com os excedentes, caso os comerciantes não comprassem. Hoje isso não pode acontecer, mas a Casa do Douro reativada seria pelo menos a voz e a representação da viticultura.

Não havendo equilíbrio, o comércio e a produção entram em conflito?
Defendo há muito tempo que o ministério da Agricultura tem que arranjar um interlocutor da produção e um do comércio e começarem a “partir pedra” que lhes permita estabelecer um acordo de médio-longo prazo entre produção e comércio, que definisse quantitativos anuais e preços a 10 anos, por exemplo, permitindo alguma previsibilidade. A ideia seria que deixassem de remar cada um para seu lado, porque depois quem sofre é o mais fraco, que é o produtor. Mas atenção, não estou com isto a dizer que a culpa é apenas do comércio, a culpa é de todos e é preciso que todos façamos cedências que permitam que a região se aguente e prospere, e não apenas à custa do sofrimento do elo mais fraco.

No imediato, e porque estamos a entrar em mais uma vindima, o que pode ser feito?
O principal está nas medidas de médio-longo prazo. As cativações que deveriam ser para a região, a fiscalização efetiva e verificação do manifesto da produção que depois não coincide com o manifesto que o comércio faz sobre o vinho que compra lá fora. A questão da reativação da Casa do Douro como voz da produção, a necessidade de chegarmos a uma altura em que a região só produz Porto e DOC Douro e em poucas quantidades. Há também a destilação de crise, retirando vinho do mercado, que já foi adotada mas cujos valores apontados não chegam. Falamos em 15 milhões de euros aprovados pela União Europeia e para o Douro apenas três milhões e meio, o que não é nada para esta região. E a medida de proibição total de entrada de vinhos de fora. E volto a falar na promoção, temos que ser capazes de nos mostrar, de nos promover. Os mais novos estão a consumir cada vez menos vinho, há que apostar em iniciativas de promoção. Um exemplo muito pequeno, como fizemos recentemente, com o Slow Wine, em São João da Pesqueira, com música e vinho, precisamente virado para os jovens.

É a primeira região demarcada do mundo, é Património Mundial da Unesco e atrai milhares de turistas. O que lhe falta para chamar à atenção?
Temos produtos de qualidade, temos história, mas depois parece que não temos escassez. Há quem diga que há demasiada vinha no Douro, só não compreendo é que se há muito porque é que continuamos a comprar lá fora? Temos tudo, para responder à sua pergunta, só não temos fiscalização.

As dificuldades dos viticultores potencia a desertificação?
Estamos sempre a pensar em medidas para fixar pessoas e depois não aproveitamos o que temos. Há quem defenda que deveríamos arrancar vinha, mas o que eu digo é que isso é exatamente o contrário do que tem que ser feito. O que nós queremos é que as pessoas consigam viver da vinha. Mais do que impostos e medidas de discriminação positiva, é agarrar nesta problemática do Douro e dar condições para que não haja abandono do território. Se um agricultor nesta região ganhasse o mesmo que ganha um que esteja em Champagne, uma das regiões que veio beber aqui alguns ensinamentos, as coisas seriam diferentes. Se o vinho fosse valorizado como é em outros territórios a região ganharia muito.

Podia ser uma região jovem? De jovens viticultores?
Sim, e a verdade é que temos visto empresas e empresários bilionários a apostar no Douro, a comprarem quintas, porque a região tem nome, marca e história, mas depois há quem não ganhe com isso.

Outro dos temas em que tem sido muito critico são as acessibilidades, nomeadamente na Estrada Nacional 222.
Há seis anos que luto por uma estrada requalificada e com condições, mas parece que é mais fácil meter dinheiro no metro do Porto ou em Lisboa, ou em novas pontes, para a nossa região o que há é desprezo absoluto. Ainda assim, parece que isto poderá mudar ou pelo menos é essa a indicação que tenho do ministro, mas já estou como São Tomé, ver para crer.

Olhando para toda esta situação da região, o que é que as autarquias podem fazer?
Divulgar o nosso território e essa é a nossa obrigação. Se os 19 municípios da CIM Douro, ou os 21 que estão nesta região, têm de adotar uma só voz, a fim de pressionar quem tem poder para alterar alguma coisa. Claro que também nos esforçamos por criar melhores condições para os nossos agricultores, com toda a aposta que fazemos por exemplo nos caminhos rurais. Ou a promoção do território, designadamente com alguns eventos culturais de relevo. Não concordo com a visão de alguns, poucos felizmente, de que em tempo de crise gastamos dinheiro em festas, porque esses eventos têm o objetivo de chamar a atenção para estes assuntos e para potenciar o território. Falo em eventos como a Vindouro ou o Slow Wine que fizemos recentemente. Também defendo há muito tempo a criação de uma taxa turística para o turismo fluvial de cruzeiros no Douro, que deliciam as vistas e usufruem de paisagens que são criadas e mantidas por estes viticultores que atravessam dificuldades. Falamos em pessoas que pagam milhares de euros para fazerem cruzeiros e facilmente pagariam um ou dois euros. Já coloquei esta possibilidade a governos anteriores e a várias entidades, mas tudo caiu em saco roto. Não desistiremos da nossa luta diária, porque se trata de justiça, em causa estão as pessoas que servimos e um território que tanto deu e tanto dá ao país e que ainda espera por verdadeiro reconhecimento.

 “Enquanto continuamos a olhar para o lado, os viticultores vão perdendo capacidade financeira e o território vai ficando desertificado”

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