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Lembra-se onde estava quando leu o seu primeiro jornal? Lembra-se da importância que isso teve para si? Qual o tema que foi capa de jornal? A companhia de teatro Ritual de Domingo apresenta um espetáculo onde reflete a importância da informação e do jornalismo no nosso dia a dia.
“Onde Estavas Quando Leste o Primeiro Jornal?” conta com dramaturgia e encenação de Sónia Barbosa e interpretação de Cristóvão Cunha. A ideia surgiu há cerca de dois anos e tem por base o arquivo de revistas e jornais que Cristóvão Cunha, um “ex-futuro jornalista”, reuniu desde 1995. Este arquivo é, para a Ritual de Domingo, “um diário pessoal, em que cada jornal situa [Cristóvão Cunha] num lugar, num momento histórico”.
“É uma verdadeira cápsula do tempo que se vai abrindo e construindo uma linha condutora para uma peça, tendo os jornais velhos e amarelados por companhia em palco”, declara ainda a companhia de teatro. “Cada notícia desenterrada coloca uma questão no presente, ou desloca-o para outra realidade”, considera ainda a Ritual de Domingo. Graças ao arquivo de Cristóvão Cunha, é possível lembrarmo-nos hoje que o Público lançou duas edições no dia do atentado às torres gémeas, a 11 de setembro de 2001 – uma edição matutina e uma edição vespertina. É possível relembrar outras curiosidades, como a inauguração da Expo, a inauguração da ponte Vasco da Gama ou a conquista do Prémio Nobel da Literatura por José Saramago, tudo em 1998.
Cristóvão Cunha, que a dramaturga Sónia Barbosa batiza de “ex-futuro jornalista”, chegou a estagiar na TSF em 1999 depois de completar o curso de Comunicação Social em Viseu, mas cedo percebeu que o seu interesse pessoal e profissional estava mais ligado às artes performativas. “Passou a dedicar-se mais ao espetáculo e trabalhou no lado do design de luz, na direção técnica e na criação de projetos, desempenhando por vezes a função de intérprete”, explicou ao Jornal do Centro a encenadora, Sónia Barbosa. No fim, a receita para esta peça foi um “misturar dos dois mundos”.
Várias pilhas de jornais amarradas com ráfia, focos de luz amarela a apontar para cada monte e uma mesa ao centro. A mesa com uma chávena de café e um velho jornal. Na parede, uma ilustração de Fernando Pessoa. Tudo isto num cenário quadrangular disposto a um canto da sala. Cerca de 50 cadeiras alinhadas em duas faces desse cenário: é deste modo que o Polo I do Círculo de Criação Contemporânea de Viseu, no Centro Histórico, recebe no sábado dois espetáculos da peça “Onde Estavas Quando Leste o Primeiro Jornal?”.
“Não podemos falar de jornalismo, ou do que é o jornalismo agora sem olhar à nossa volta e percebermos toda esta mudança de paradigma em que de repente a comunicação e os media já não são a mesma coisa que eram há 30 anos”, começou por explicar a dramaturga. “Hoje em dia gostar de notícias e estar informado passa cada vez menos por este formato que nós também quisemos recuperar, que é o jornal físico, e passa cada vez mais por todo um outro campo” contou ainda Sónia Barbosa.
Rodeado pelas pilhas de jornais, Cristóvão Cunha vai, ao longo da sua performance, colocar questões como “qual a importância do jornalismo no futuro”, “como sobreviverá nesta era virtual” ou “quem serão os jornalistas do futuro”. Através destas questões e depois de muita pesquisa, o intérprete e a encenadora criaram uma narrativa “onde o pessoal e o coletivo, o subjetivo e o universal, o analógico e o digital se cruzam e misturam”. “Falamos de coisas muito práticas como esta ideia, por exemplo, de como nos mexemos neste mundo de fake news, se sabemos como é que isto acontece e se há formas de nos protegermos em relação a isso”, esclareceu Sónia Barbosa.
No que diz respeito ao público-alvo, “Onde Estavas Quando Leste o Primeiro Jornal?” foi criado para se poder mostrar ao público em geral, mas focando-se na faixa etária que diz respeito aos jovens e jovens adultos com idades superiores aos 15 anos, “quando as pessoas começam a ter mais consciência das escolhas e a importância delas”.
De entre outras temáticas, a Ritual de Domingo aborda nesta peça o lado da informação ligado às redes sociais e ao online, assim como a questão da difusão da informação através do meio digital. “Há uma preocupação particular sobre o que está a acontecer, que é uma espécie de morte anunciada, em que nós percebemos o que está a acontecer, mas não conseguimos fazer nada”, detalhou a dramaturga. “O Pedro Coutinho, que é professor no curso de Comunicação Social, fala sobre isto, porque há esta espécie de catastrofismo em que tudo é uma porcaria, mas na verdade o jornalismo bom continua a acontecer e os jornalistas têm um código ideológico muito rígido e muito interessante, além que há bons jornalistas”, disse também Sónia Barbosa.
“Temos esta ideia de que as coisas online têm menos valor, são menos aprofundadas, e ele diz que não é verdade. Também há muito jornalismo na era online bastante aprofundado, muito credível, com fontes extraordinariamente seguras e comprovadas”, continuou a encenadora.
A peça, que tem sido apresentada ao público escolar desde dia 12 de fevereiro, é apresentada ao público geral este sábado, dia 15 de fevereiro, em duas sessões – uma com início às16h30 e outra com início às 21h00. Já no dia 16 (domingo), tem lugar no museu Keil Amaral uma mesa-redonda que conta com a presença de Frederico Pinto, Isabel Bordalo, Joana Martins, Sandra Rodrigues e Sara Pereira. A conversa, intitulada “A propósito de jornalismo”, é moderada por Pedro Coutinho e tem início às 16h00.