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O Festival Internacional de Teatro da ACERT (FINTA) celebra 30 edições este mês de novembro com espetáculos de cinco países, estreias de jovens talentos da casa e iniciativas que aproximam o público à arte. Um festival que dá a conhecer estéticas e linguagens teatrais diferentes, com espetáculos em que o teatro se mistura com outras disciplinas artísticas
Em Tondela, o Festival Internacional de Teatro ACERT (FINTA) prepara-se para a sua 30ª edição com uma programação eclética. Este evento, que se vai desenrolar em dois fins de semana, entre 14 e 16 de novembro e de 21 a 23 de novembro, promete levar ao público uma “programação diversificada, com estreias e espetáculos de cinco países”. Com seis dias repletos de apresentações, o festival inclui 15 espetáculos, três estreias, atuações inéditas em Portugal e uma variedade de atividades complementares, como exposições, documentários, oficinas e apresentações especialmente direcionadas à Terceira Idade.
A responsável pela programação do festival, Sandra Santos, destaca que “ao longo de todos estes anos, o festival tem mantido sempre aquelas que foram as linhas orientadoras” e explica “o FINTA dá a conhecer uma oferta cultural diversificada, com criadores já conhecidos, mas também dá a conhecer novos criadores e projetos artísticos, tanto nacionais como internacionais”. Segundo a programadora, a proposta do festival passa por aproximar o público de diferentes estéticas e linguagens teatrais, de forma a promover uma relação próxima entre artistas e espectadores. Essa abordagem é concretizada através de uma diversidade de disciplinas que inclui teatro, ilusionismo, música, dança e circo.
Estreias e o regresso de jovens talentos
Este ano, o FINTA aposta fortemente na criação local e na renovação do cenário teatral, com estreias que envolvem jovens talentos que se formaram na ACERT. Um dos grandes destaques vai para o projeto “Santos da Casa Teatro”, uma iniciativa que Sandra Santos descreve como uma oportunidade de dar palco a novos criadores da região. “Decidimos lançar esta vertente do teatro para dar a conhecer estes jovens atores que iniciaram a sua formação na ACERT. Nesta edição, vamos dar palco a duas jovens que começaram no grupo de teatro Na Xina Lua, da Escola Secundária de Tondela. De alguma forma, estas duas jovens cresceram na ACERT, e este é um regresso a casa”.
Este projeto de formação artística reflete a continuidade da relação da ACERT com a comunidade e o investimento no futuro do teatro. A primeira estreia, “Das Mãos Surgem a Luminescência e o Adeus do Teu Rosto”, será apresentada no dia 14 de novembro, e a segunda, “As Lesmas Não São Tão Diferentes dos Caracóis”, no dia 21. Para Sandra Santos, esta é uma oportunidade especial para estes jovens artistas, que agora regressam ao lugar onde deram os primeiros passos, mas com a sua própria visão e linguagem artística: “Queremos continuar com este projeto durante muitos anos, porque felizmente somos uma região bastante rica, e temos muitos jovens promissores na área artística”.
Espetáculos internacionais e estreias únicas
Nesta edição, o FINTA vai contar com a participação de cinco países: Portugal, Espanha, Chéquia, Itália e Bélgica. Companhias internacionais apresentam-se pela primeira vez em Portugal, cada uma com espetáculos com um impacto visual e emocional marcante. “A seleção das companhias é sempre um processo desafiante”, admite a responsável. “Recebemos propostas durante todo o ano, e também fazemos uma pesquisa ativa sobre novos grupos e tendências, escolhendo espetáculos que acreditamos que trarão uma experiência única ao público”.
Entre os destaques internacionais está o espetáculo “Across”, da companhia checa Squadra Sua, a 16 de novembro. Na mesma noite, a companhia espanhola Cia Le Puant apresenta “Tot Sol…I Núvol”, uma performance de clown que promete diversão e surpresa. No último dia do festival, a 23 de novembro, o coreógrafo italo-belga Piergiorgio Milano estreia em Portugal com “White Out – La Conquête de l’inutile”, um espetáculo que combina dança, teatro e o novo circo com uma abordagem visual intensa e o alpinismo como linguagem artística. “Este é um espetáculo de grande intensidade visual”, afirma Sandra Santos. “Será uma oportunidade única para o público português, que dificilmente teria acesso a um espetáculo com esta fusão de linguagens fora dos grandes centros urbanos”.
Reflexão e consciência social
Nesta 30ª edição, o FINTA também integra o documentário “Improváveis de Costas Voltadas”, da companhia portuguesa Formiga Atómica, que será apresentado no dia 15 de novembro. Esta obra resulta de encontros entre pessoas com visões políticas e sociais opostas, convidando o público a refletir sobre a possibilidade de diálogo construtivo entre opostos. Como explica a sinopse do documentário, “mostra o encontro entre pessoas com visões políticas, sociais e culturais opostas, que se sentam de costas voltadas e que tentam discutir os grandes temas da atualidade, sem se verem”.
Outro momento de destaque será a peça “Terminal (O Estado do Mundo)”, também da Formiga Atómica, que se debruça sobre a crise climática e o futuro da humanidade. O espetáculo mistura teatro com música ao vivo e convoca o público a refletir sobre as consequências da ação humana no planeta. Sandra Santos destaca o valor de incluir no programa peças que abordem temas contemporâneos e que questionem o impacto do presente na sociedade. “É sempre importante dar espaço a estes projetos que abordam temas universais”, afirma a programadora.
Para o público que procura uma experiência sensorial e introspectiva, o espetáculo “Hora Vazia” do Projeto Meta Magic, do artista Zé Mágico, será uma oportunidade única. “É um espetáculo que tenta desafiar os limites da perceção e que convida os espectadores a momentos de meditação contemplativa”, descreve. A obra propõe uma fusão entre ilusionismo e teatro, e explora temas como o destino e o livre-arbítrio, permitindo ao público uma reflexão sobre as escolhas da vida.
Outro espetáculo que convida o público à introspeção é “Guião para Um País Possível”, de Sara Barros Leitão, no dia 21 de novembro. Esta peça, baseada em registos parlamentares dos últimos 50 anos da democracia portuguesa, explora as transformações políticas e sociais do país e lança luz sobre o trabalho invisível dos taquígrafos que documentaram a história democrática: “é uma peça que propõe uma reflexão sobre o valor da democracia e o papel de cada um de nós na sua construção”.
Teatro para todas as gerações e inclusão social
O FINTA também reforça o seu compromisso com a inclusão social e a proximidade com a comunidade sénior, através de espetáculos especialmente preparados para a terceira idade. O Zé Pedro Ramos e o Daniel Matos vão levar histórias e momentos de magia aos Centros de Dia do Concelho de Tondela. A organização refere “são espetáculos que tentam criar sorrisos e trazer uma experiência de teatro àqueles que têm mais dificuldade em deslocar-se”.
Para as famílias, o festival conta com o espetáculo de marionetas “Nube Nube”, da companhia espanhola Periferia Teatro, inspirado no clássico “A Pequena Sereia”. A peça, que se realiza no dia 23 de novembro, às 16h30, utiliza o humor para explorar o tema do amor.
Arte fora do palco e formação artística
Para além dos espetáculos, o FINTA expande a experiência para fora do palco. A exposição “Figurinos e Outras Cenas”, de Miss Suzie, inaugura o festival no dia 14 e vai estar patente até janeiro de 2025, destacando o trabalho da artista na criação de figurinos para teatro e cinema. Oficinas formativas, como a de escrita criativa de Gabriel Gomes e a de ilusionismo de Zé Mágico, completam a programação, oferecendo aos participantes a oportunidade de desenvolver a sua prática artística.
Outro destaque desta edição é o lançamento de dois novos Cadernos de Teatro do Trigo Limpo teatro ACERT. Esta iniciativa editorial tem como objetivo preservar os textos dos espetáculos e dar-lhes a possibilidade de serem reinterpretados em novos palcos. “É uma forma de perpetuar a essência do festival e garantir que os seus valores e mensagens continuem a viver”, diz a organização.
Um festival de todos e para todos
Uma das marcas do FINTA é a proximidade que estabelece entre os artistas e o público. O bar da ACERT transforma-se num ponto de encontro após cada espetáculo, onde as audiências podem trocar impressões diretamente com os artistas num ambiente informal. “No final dos espetáculos, os artistas encontram-se com o público que os estava a assistir e trocam, informalmente, algumas impressões sobre aquilo que viram”.
Para facilitar o acesso à programação, o FINTA disponibiliza transporte gratuito entre Viseu e Tondela, em parceria com o Clube Desportivo de Tondela, uma medida que procura assegurar que o festival é acessível a todos, independentemente da distância. Os bilhetes estão disponíveis online e na bilheteira da ACERT, com passes e descontos para sócios, jovens, famílias e pessoas em situação de desemprego ou reforma.
A edição de 2024 do FINTA promete ser uma celebração das três décadas de existência do festival. “Dramático, é Perdê-lo” — o lema do FINTA reafirma o convite a todos para viverem uma experiência cultural que, como nas palavras de Sandra Santos, “será única e inesquecível, com momentos de proximidade e partilha entre artistas e público, criando memórias e elevando o espírito de comunidade”.