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Será que somos assim tão certos das nossas convicções? Será que os nossos valores podem ser questionados ou, no limite, alterados? A companhia de teatro Amarelo Silvestre propôs-se, em 2020, a levar o público por uma viagem onde as suas escolhas definissem o curso de um espetáculo que, acima de tudo, é “uma experiência sócio-teatral” – e foi deste modo que nasceu “Fluxodrama”.
Cinco anos depois, o espetáculo viaja até Lamego, ao teatro Ribeiro Conceição, para quatro datas que prometem colocar o público em diálogo. Esta sexta-feira, 7 de fevereiro, a Amarelo Silvestre vai atuar para (e em conjunto com) os alunos das escolas secundárias da cidade. Já no dia 8, sábado, vão decorrer dois espetáculos para o público geral, um às 16h00 e outro às 21h30.
Ao Jornal do Centro, o diretor artístico do espetáculo, Fernando Giestas, explicou de que modo foi pensada a peça performativa e como se processa a interação com o público. “No fundo é um espetáculo cuja cena é o diálogo que se promove entre as pessoas, um diálogo que vai sendo diferente porque as pessoas são diferentes em cada espetáculo e mesmo entre elas pensam de uma maneira muito diferente”, começou por explicar Fernando Giestas. “É um diálogo que se promove em direto, com muitas dificuldades porque estamos a pensar ao vivo, mas sempre com a oportunidade de as pessoas poderem mudar de opinião”, acrescentou o diretor artístico.
Fluxodrama, contudo, teve uma conceção inicial diferente daquela que é apresentada ao público. O propósito inicial da peça era colocar uma lupa sobre o movimento de refugiados que surgiu na Segunda Grande Guerra. Este conflito desencadeou uma onde de refugiados que se fez sentir, inclusive, em Canas de Senhorim, com o Hotel da Urgeiriça a receber bastantes pessoas que fugiam do centro do conflito. Por outro lado, a exploração de volfrâmio e urânio nas minas da Urgeiriça serviu para alimentar uma das maiores guerras da humanidade. Esta dualidade era precisamente uma das questões que a Amarelo Silvestre se propôs a explorar em Fluxodrama. A peça, contudo, foi mais além, com o foco sobre questões universais que se relacionam com os valores mais básicos (mas não necessariamente menos importantes) da humanidade.
“Começámos por imaginar um espetáculo que decorresse, por exemplo, no Hotel da Urgeiriça e que noutros locais decorresse nos hotéis dos diferentes sítios”, esclareceu Fernando Giestas. “Trabalhámos estas questões em forma de perguntas para, no fundo, criar uma tentativa de refletir sobre estes temas que fizesse sentido durante a Segunda Grande Guerra, mas que continuasse a fazer sentido nos nossos dias”, disse também o diretor artístico.
Para tal, o espetáculo serve-se de perguntas como “se somos livres”, “se somos todos iguais” ou ainda “se é possível colocarmo-nos no lugar do outro”. Qualquer uma das questões atrás referidas faz sentido tanto na atualidade como na década de 1940, explicou Fernando Giestas. Além de propor uma reflexão sobre temas ligados a qualquer pessoa, o objetivo da peça é, acima de tudo, o de criar um diálogo e uma discussão saudáveis entre os vários elementos do público.
“Se nós pensarmos bem, o nosso dia a dia é muito feito em monólogo”, começou por dizer Fernando Giestas em relação a este tópico. “Estamos sempre a monologar de alguma forma: ‘eu acho que não sei quê’, ‘eu acho que devia ser assim ou que devia ser assado’. Na verdade, não dialogamos muito, não perguntamos às pessoas que estão connosco ‘então e a ti, o que é que te parece’”, continuou.
As redes sociais, salientou, são o expoente máximo da falta de um diálogo saudável, porque “nós debitamos monólogos nas redes sociais”. “Por vezes há um monólogo e depois guerrilha de comentários que pode evoluir para o insulto, ou noutros casos uma adesão porque os nossos seguidores ou amigos pensam exatamente como nós”, contou ainda o diretor artístico. Porto
Porto/Benfica, Bloco de Esquerda/Chega ou PSD/PS são alguns dos exemplos que Fernando Giestas destacou e que são ilustrativos de uma sociedade com “pouco diálogo e com poucas conversas fora da polarização”. Uma sociedade, prosseguiu, em que “há muito pouco diálogo efetivo, em que o que há é muito a reação e o comentário, em que falta o pensamento crítico e saber ouvir o que estamos a dizer”. O remédio para isto? Segundo Fernando Giestas, é necessário exteriorizar estes pensamentos que se colocam em relação ao outro e ouvirmos as nossas próprias ideias em voz alta.
Esta exposição e debate em torno de questões universais é, contudo, algo que enfrenta sempre um obstáculo: a exposição de valores e a aceitação do julgamento do outro. “Aqui nós estamos a pedir às pessoas para mostrarem o que pensam, o que às vezes é muito mais forte do que mostrar por exemplo partes do corpo porque ficamos frágeis perante o julgamento das pessoas do público”, salientou.
Além de Fernando Giestas, Fluxodrama conta ainda com Rafaela Santos no apoio à direção artística e Ricardo Vaz Trindade, Sofia Moura, Ricardo Baptista, Leonor Barata, Carolina Reis, António Alvarenga e Alexandre Costa na co-criação.