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Fogos no distrito de Viseu marcam época mais crítica dos incêndios, que acaba esta segunda-feira

Só em Viseu Dão Lafões, as chamas consumiram uma área ardida de mais de 52 mil hectares. Nelas, Mangualde, Carregal do Sal, Penalva do Castelo, Castro Daire, São Pedro do Sul, Vila Nova de Paiva, Resende e Cinfães foram alguns dos concelhos mais afetados pelos fogos que não deram tréguas a bombeiros e população. Agora, é tempo de fazer contas e tentar recuperar o que foi perdido

Jorge Martins Lopes
 Fogos no distrito de Viseu marcam época mais crítica dos incêndios, que acaba esta segunda-feira
30.09.24
fotografia: Jornal do Centro
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 Fogos no distrito de Viseu marcam época mais crítica dos incêndios, que acaba esta segunda-feira
19.11.24
Fotografia: Jornal do Centro
 Fogos no distrito de Viseu marcam época mais crítica dos incêndios, que acaba esta segunda-feira

A época mais crítica de combate aos incêndios acaba esta segunda-feira (30 de setembro) e fica marcada pelos fogos que assolaram o distrito de Viseu neste mês de setembro que agora termina.

Só na zona de Viseu Dão Lafões, as chamas consumiram uma área total de mais de 52 mil hectares, segundo o sistema europeu Copernicus. Foi mesmo a sub-região mais afetada pelos fogos que lavraram no norte e no centro de Portugal entre os dias 15 e 20 de setembro.

Nelas, Mangualde, Carregal do Sal, Penalva do Castelo, Castro Daire, São Pedro do Sul, Vila Nova de Paiva, Resende e Cinfães foram alguns dos concelhos mais afetados pelos fogos que não deram tréguas a bombeiros e população. O fogo até chegou às portas de Viseu, o que levou à evacuação da aldeia de Cabrum.

O cenário fez lembrar os fogos de 2017 que também atingiram duramente a região e contrariou por completo a tendência que apontava para que 2024 seja o ano com a menor área ardida da última década. Em poucos dias, passou a ser um dos piores anos.

Castro Daire foi mesmo o concelho do país com mais área ardida, com cerca de 70 por cento do território reduzido a cinzas. Mais de 20 mil hectares foram queimados nos fogos que também provocaram cinco feridos ligeiros, bombeiros e civis, e uma lista de danos com muitas edificações, primeiras habitações, anexos, construções, barracões, explorações agrícolas, máquinas, carros e equipamentos atingidos.

Também em São Pedro do Sul, a devastação também foi esmagadora: mais de 10 mil hectares ardidos, destruídas duas casas de primeira habitação e dez de segunda habitação e danos na agricultura e floresta.

Já em Penalva do Castelo, oito mil hectares foram consumidos pelos fogos e o dano foi visível em duas casas de primeira habitação, alfaias, equipamentos agrícolas, anexos, barracões e armazéns agrícolas.

Em Mangualde, uma mulher de 83 anos morreu devido a “doença súbita” numa habitação localizada em Almeidinha, uma das aldeias que foram atingidas pelas chamas que assolaram o concelho. Dezenas de pessoas foram retiradas das suas casas e acolhidas em instituições de solidariedade social por precaução. Mais de 5 mil hectares foram consumidos nas chamas.

Em Carregal do Sal, o incêndio consumiu mais de metade da área florestal do concelho (5 mil hectares) e, segundo o presidente da Câmara, foi pior do que o de outubro de 2017. E, em Nelas, também se viveram momentos de desespero com o fogo que consumiu mais de 2.500 hectares e que levou a muita destruição, provocando prejuízos junto da população e dos agricultores.

Muito trabalho para os bombeiros, estradas cortadas e escolas fechadas

Foi uma semana intensa de combate para os bombeiros que se mobilizaram em todas as frentes e que estiveram muitas horas a enfrentar o fogo. As corporações receberam vários donativos das populações para fazerem face à situação e até contaram com a ajuda de bombeiros espanhóis e do Exército português no teatro de operações. No final, os operacionais mostravam o cansaço.

No concelho de Resende, um bombeiro foi agredido com uma forquilha enquanto estava a combater um incêndio. O suspeito foi detido pela GNR.

Várias estradas foram cortadas por causa do avanço do fogo, incluindo a A24 e a A25 (onde um camião de uma empresa de eventos de Viseu ardeu carregado de material), e os serviços de telecomunicações sofreram constrangimentos. As escolas também tiveram de ser encerradas e as unidades de saúde estiveram abertas à noite para atender as vítimas.

Devido ao agravamento do risco de incêndio, o Governo decretou situação de alerta e, mais tarde, a situação de calamidade foi imposta nos concelhos afetados pelos fogos. No final do combate, foi decretado um dia de luto nacional.

A chuva também ajudou a resolver os incêndios que deixaram muita devastação na região.

A ajuda que é tão necessária

Agora, muitos fazem contas à vida e pedem ajuda para tentarem recuperar o que perderam. As autarquias estão a fazer o levantamento dos danos e prejuízos e a responder aos pedidos das populações, trazendo também apoio psicológico e social.

As câmaras também se queixaram de abandono por parte da tutela, pediram apostas na prevenção e na repovoação dos territórios e lamentaram a falta de meios no terreno.

O ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, ficou “de nó na garganta” após ver os danos causados pelos fogos e prometeu que ninguém iria ficar sem apoios. O governante disse que quer um pacto para a floresta até ao final do ano e lembrou que os incêndios acontecem por vários fatores, nomeadamente “o abandono, as alterações climáticas, fenómenos extremos, o desordenamento da floresta ou a falta de rentabilidade da floresta”.

Os proprietários reclamam precisamente por apoios porque o trabalho de uma vida foi perdido com o fogo. Só em Castro Daire, um aviário ficou totalmente destruído com 20 mil pintos carbonizados. “Faça o que puder por mim”, pedia o dono Armando Lima, visivelmente abalado, enquanto se despedia do ministro da Agricultura.

Incêndios mataram nove pessoas. PJ já deteve 40 pessoas por fogo posto

A nível nacional, os incêndios nas regiões norte e centro mataram nove pessoas, quatro das quais bombeiros, e 175 ficaram feridas. A Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil exclui desta contagem os dois civis que morreram de doença súbita.

Em seis dias, estes incêndios florestais consumiram cerca de 135.000 hectares, totalizando este ano a área ardida em Portugal quase 147.000 hectares, a terceira maior da década, segundo o sistema europeu Copernicus.

Numa semana, o país passou dos melhores valores de área ardida da década para o terceiro pior desde 2014, sendo apenas ultrapassado em 2017 (563.000 hectares) e 2016 (165.000).

A Portugal chegou ajuda de mais de 300 bombeiros espanhóis e de 10 meios aéreos de Espanha, França, Itália e Marrocos, que se juntaram aos mais de 5.000 operacionais que diariamente combatiam as chamas.

Segundo dados da Polícia Judiciária, este ano já foram detidos cerca de 40 pessoas pelo crime de incêndio florestal.

Nos últimos três meses, o dispositivo de combate a incêndios rurais esteve na sua capacidade máxima, com 13.891 operacionais, 3.084 equipas, 2.990 veículos e 72 meios aéreos em prontidão, um aumento de meios face ao ano anterior.

A Diretiva Operacional Nacional (DON), que estabelece o Dispositivo Especial de Combate aos Incêndios Rurais (DECIR), indica que a partir terça-feira os meios são reduzidos, ficando no terreno, até 15 de outubro, 12.284 operacionais, 2.749 equipas, 2.651 veículos e 61 meios aéreos em prontidão.

No entanto, e além do dispositivo já previsto no DECIR para esta fase, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) garante que o dispositivo será reforçado em caso de as condições meteorológicas agravarem o risco de incêndio rural.

Nesse sentido, o DECIR deste ano prevê a mobilização de meios adicionais para responder a situações mais graves, podendo ser mobilizados até 20.000 operacionais.

Uma época crítica também marcada pela queda do helicóptero no Douro

A época mais crítica em fogos ficou também assinalada pela queda, a 30 de agosto, de um helicóptero de combate a incêndios no rio Douro, em Lamego, e que provocou a morte a cinco militares da GNR que faziam parte da Unidade de Emergência de Proteção e Socorro. O piloto foi o único sobrevivente e todas as vítimas eram oriundas do distrito de Viseu.

A equipa helitransportada regressava ao Centro de Meios Aéreos de Armamar, onde estava sediada, vindos de um fogo no concelho de Baião.

O Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) refere no seu relatório preliminar que o piloto disse ter observado, antes do acidente, “uma ave de médio porte” na mesma linha de voo, obrigando a “um desvio”, mas a investigação ainda não determinou onde executou essa manobra.

Este organismo refere que “no voo de regresso à base de Armamar, a aeronave iniciou uma descida constante, onde sobrevoou a margem esquerda (sul) do rio Douro em direção à cidade de Peso da Régua (distrito de Vila Real)”.

“No decurso dessa descida, segundo as declarações do piloto, este terá observado uma ave de médio porte à mesma altitude e na trajetória do helicóptero, que o obrigou a executar um desvio à direita, retomando a rota logo de seguida. Dos dados recolhidos até ao momento não foi possível determinar de forma independente o ponto de execução dessa manobra”, sublinha o GPIAAF.

Em sequência, pelas 11h32, acrescenta a investigação, “mantendo a descida em direção ao rio em volta à esquerda, a aeronave colidiu com a superfície da água com uma velocidade em torno dos 100 nós (185 km/h) por motivos a determinar”.

“No processo de dissipação de energia ocorrido durante a colisão, o piloto, sentado à direita, e o ocupante da cadeira esquerda do cockpit foram projetados para fora da aeronave”, lê-se ainda na nota.

Segundo o GPIAAF, “as evidências sugerem que o motor da aeronave estava a produzir potência no momento da colisão”.

O advogado do piloto pediu “uma investigação isenta e imparcial”, defendendo que o acidente foi causado por uma “falha mecânica” no aparelho. O processo está agora a ser investigado pelo Ministério Público.

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