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Disse-me que estudava, ia ao cinema e lia. A curiosidade picou-me. Ler? Gostava ela agora de ler? Sim, desde a altura do livrinho do Meu pé de Laranja-Lima. Começou por Jorge Amado, Érico Veríssimo e, sobretudo, por Machado de Assis. E, para surpresa minha, continuou a comentar o valor dos autores, as preferências dela, a paixão pelos livros de Machado de Assis, o modo como este desenha o perfil psicológico das personagens, a ironia, a crítica do pretensiosismo social, sobretudo a clareza da escrita. E ainda disse que ao ler Olhai os Lírios do Campo de Érico Veríssimo pensara muito em mim. Não sabe porquê. Talvez por certas frases serem próximas do que eu lhe dizia no tempo da sua excessiva mocidade. E repetia algumas citações de que se recordava. Quanto mais ela se expunha, mais íntimo me sentia dela, maior a ternura e o calor do afeto. Numa pausa, não me contive de lhe dizer que o que me apetecia era estar com ela, a sós, e poder exprimir-lhe o quanto ela me sensibilizara, e em todos os sentidos. Ela sorriu. Pela primeira vez, sorriu, sem qualquer mancha de reserva a desenhar-se nos lábios. E admitiu que também não se importaria de estar comigo. Abracei-a forte e carinhosamente. Ela retribuiu. E propôs que fossemos ao quarto dela. Vive com mais duas colegas e cada uma é livre de levar quem quer. Fomos para o quarto dela. Mas não fomos logo para a cama. Ou melhor, até fomos, mas ela queria mostrar-me e ler algumas das passagens sublinhadas de um outro livro.
Impressionou-a muito uma, do Érico Veríssimo, em que, numa certa altura, a personagem central do livro, em jeito de desabafo e crítica das opiniões apressadas, afirma: «Antes de Mussolini e Stalin já existiam as estrelas. E mesmo depois que eles tiverem passado, elas continuarão a brilhar». E outra: «O tempo faz a gente esquecer. Há pessoas que esquecem depressa. Outras apenas fingem que não se lembram mais». Disse-me que se esforçou por me esquecer. Mas a leitura não lho permitiu. Chegou a odiar a literatura. Mas tarde de mais, já não vive sem ela. De ver em quando, ainda relê passagens do livro que se leu em conjunto em Mourão. Por vezes, a melancolia é tão doce, outras tão amarga. Mas não se esconde, nem a pretende afastar. A melancolia fê-la amadurecer. Só receia desesperar, ou tornar-se ácida como pessoa. Pedi-lhe que não se deixe derrotar pela vida adulta. Que saiba esperar, ao mesmo tempo que procura. Após um silêncio, exclamou: «Quem me dera ser a Fátima!» Disse-lhe, a sorrir: «Mas tu és a Fátima». Mas ela retorquiu: «Oh! não, ser a tua Fátima, a outra, por quem esperas e que te ama».
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