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Estou licenciado em Filosofia. Sinto-me sobretudo aliviado. Porque há em mim um certo sentimento de melancolia, de cansaço, de indiferença. Licenciado, e depois? Nada aconteceu, não houve festa nem foguetes, ninguém deu por isso. Também não quero saber disso. O importante é a possibilidade de independência económica e sem trabalhos pesados.
Vivo num certo desencanto. Ainda ontem ao defender oralmente o meu trabalho para Antropologia, esforcei-me nitidamente a ouvir o professor Miguel Baptista Pereira; sentia-me cansado, indiferente, com vontade de me ir embora, que me deixassem em paz. Aliás, este curso de Filosofia em Coimbra foi uma desilusão. Os professores funcionavam sobretudo como burocratas de um ensino em que parecia não acreditarem. Um deles, inadvertidamente, e em resposta a uma pergunta de um meu colega sobre uma frequência, esclareceu que já a tinha corrigido, mas que antes de lançar as notas precisava consultar o nosso currículo. Compreendi porquê depois. As notas dos testes estavam em linha com o currículo anterior de cada aluno. Como tive classificações muito baixas nos dois primeiros anos por motivos de saúde (muitas vezes tive de faltar devido a crises de bronquite, fruto dos colchões de palha) nunca pude recuperar nos anos seguintes por mais que estudasse. Uma colega minha, algarvia, percebeu bem este meu esforço ao dizer-me que eu tinha agido ao contrário da maioria: eles, muito aplicados nos primeiros anos, tinham relaxado nos últimos; comigo sucedeu o contrário. A verdade é que a estratégia deles resultou melhor. Até a professora de Hermenêutica, disciplina do primeiro ano mas concluída por mim só no último, percebeu e referiu-se à diferença no meu empenho. Expliquei-lhe as razões.
Neste momento o que me apetecia era estar num canto remoto do mundo a sós com a Fátima. Porque estou desiludido com a vida, com as pessoas, comigo, com as coisas, com os negócios dos homens. Tanta vontade tenho de viver profundamente, de fazer de cada dia, de cada gesto, de cada palavra, de cada pequena coisa algo a que me entregasse com alegria, com serenidade. Mas sei que preciso da Fátima ao meu lado. Escrevi-lhe a dar-lhe conta da finalização do curso. Descrevi-lhe a minha insatisfação, o vazio que me preenchia. Sorri do paradoxo.
Para os meus pais, a licenciatura representa uma vitória depois de uma vida de trabalho, de sacrifício, e de algumas derrotas. Ainda bem que lhes dei esta alegria. Sei que para eles tem também o valor de uma desforra face a tanta desventura.
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Joaquim Alexandre Rodrigues
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