A taróloga Micaela Souto Moura traz as previsões do Tarot, na semana…
A Farmácia Grão Vasco procura estar perto da comunidade e atenta às…
O ano passa a correr e já estamos no Natal. Cada mês…
por
Eugénia Costa e Jenny Santos
por
André Marinho
por
Joaquim Alexandre Rodrigues
Vivo numa constante insatisfação. Há algo que me falta, me tortura o corpo de ausências: a vida. Uma vida completa, cheia, forte. Entretanto, vou existindo a meio gás, sei o que tenho de fazer, mas sinto-me tão frágil para pôr em prática tal imperativo. A maioria das pessoas, suponho, enrodilha-se na modorra do quotidiano, as aulas, o café, a cerveja e pouco mais. Raras vezes sentem o apelo da voz interior, vivem na insignificância, na dispersão, longe de si próprias. Tal situação aflige-me, embora reconheça o aspeto sedutor de tal inconsciência. Englobando este problema pessoal, situa-se a questão maior do próprio Homem. A interrogação sobre a sobrevivência da humanidade.
Estou no café Pigalle. Sozinho. Conheço poucas pessoas que pudessem preencher esta solidão. O mundo lá fora, a velocidade dos carros, o pasmo descarnado das árvores, a lividez das pessoas, são os elementos deste cenário onde escrevo, mas com pouco à-vontade; receio exteriorizar de repente o remoinho dos pensamentos e emoções que me ferem; contenho-me; aliás, a minha existência tem sido pautada por este colete-de-forças que se me cola à pele. Como desejo um abrigo onde pudesse viver uns tempos, livre de tantas obrigações. Viver uns tempos comigo mesmo, a sério, sem ruídos, sem notícias, sem tagarelice.
19 de janeiro de 1982
Um primeiro encontro num dia qualquer de janeiro. Num grupo de amigos. E num apartamento de alguém. Uma festa ou coisa que o valha. Uns copos a mais ou algo no género e dei por mim num tapete ao lado dela. Parecia que tinha que fazer qualquer coisa. Todos estavam a fazer. E fizemos. Quase não dei por nada, mas fizemos. E ela gostou. Tornei a vê-la e, quase sem querer, comecei a andar com ela. Andar é um modo de dizer que nos encontramos várias vezes. Que ela me procura. E que saímos. Não a amo, claro; mas decerto modo preciso dela, não sei bem. Às vezes, evito-a; outras vezes, procuro-a. Ela está lá sempre. Parece que gosta de mim. Porquê? Talvez porque lhe fujo. Não lhe vou dizer que não tenho coração para ela. Nem alma. Nem desejo. Apenas o corpo. Dou-lhe o corpo porque ela mo pede. Por enquanto, não me pede muito mais, a não ser muitas vezes o corpo.
por
Eugénia Costa e Jenny Santos
por
André Marinho
por
Joaquim Alexandre Rodrigues
por
Jorge Marques
por
João Azevedo