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Governo e Câmara Municipal de Carregal do Sal vão estudar linhas de financiamento para a instalação de um centro de acolhimento para refugiados na casa onde nasceu Aristides de Sousa Mendes, naquele concelho, disse fonte governamental.
“Há a possibilidade de estudarmos quais são as linhas de financiamento para ele, há a possibilidade deste projeto se erguer, é justo que se erga”, garantiu à agência Lusa a ministra-adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes.
O projeto em causa é o da criação de um centro de acolhimento para refugiados na Casa do Aido, onde nasceu Aristides de Sousa Mendes, em Cabanas de Viriato, concelho de Carregal do Sal.
O encontro entre os membros do Governo e o presidente da autarquia, Paulo Catalino Ferraz, ainda não tem data marcada, mas a governante prometeu que “será ainda no primeiro semestre” do ano.
O imóvel chegou a estar à venda com publicidade nas páginas de imobiliárias em 2020, mas fonte contou ao Jornal do Centro que a família acabou por desistir da venda.
“Vejo como muito positiva a iniciativa de a Câmara de Carregal do Sal adquirir a casa onde Aristides de Sousa Mendes nasceu”, destacou agora governante, pois permite estudar a criação de um centro “há muito pensado”.
Um centro que “é uma intenção prevista entre o Governo, a tutela das migrações e a Câmara de Carregal do Sal”.
E haver a possibilidade de ser na casa onde nasceu Aristides de Sousa Mendes “é honrar a memória” do cônsul.
“É preciso honrar a memória daqueles que deram a sua vida para defender milhares e milhares de pessoas que fugiam à guerra e fazer nascer naquele edifício um centro de acolhimento de refugiados em Portugal, é honrar e não esquecer a história”, defendeu.
Ana Catarina Mendes disse que “é preciso mais do que nunca perceber que Portugal é um país que acolhe o mundo, é um país que sabe incluir e integrar aqueles que chegam fugidos da guerra, da ditadura, das alterações climáticas, da fome”.
“Os que fugiram de todas estas condições e aqui procuram encontrar uma concretização da sua vida, a realização dos seus sonhos. É para isso que estamos a trabalhar”, afirmou a governante.
Neste sentido, considerou que “este passo é mais um sinal de como Portugal pode acolher migrantes, honrando a sua história, a história daqueles que também fizeram de Portugal um país humanista, solidário e coeso”.
Segundo disse, atualmente, “há muitas pessoas que chegam a Portugal” e que “precisam de ser acolhidas” e “há um “trabalho que está a ser feito pela Agência Portuguesa para as Migrações, para que as pessoas estejam documentadas, e é preciso o trabalho que o alto comissariado tem vindo a fazer” também.
“E que é preciso reforçar, seja de integração das pessoas no mercado de trabalho, nas escolas ou nas questões das condições de habitação e assim também cumprir com a estratégia do Governo” nesta área.
Assim, “um centro de acolhimento de refugiados faz falta também para que, nestes territórios, haja resposta àqueles que procuram abrigo” longe das grandes cidades do país.
Nascido em 19 de julho de 1885, Aristides de Sousa Mendes, no início da II Guerra Mundial (1939/45), mais precisamente a partir de 1940, desempenhava as funções de cônsul em Bordéus (sudoeste de França).
Enquanto cônsul, concedeu cerca de 30 mil vistos para salvar a vida de refugiados do nazismo, a maioria judeus, contra as ordens expressas do então regime fascista português, liderado por António Oliveira Salazar.
Obrigado a voltar a Portugal, Sousa Mendes foi demitido do cargo e ficou na miséria, com a sua numerosa família. Morreu na pobreza em 03 de abril de 1954, no Hospital dos Franciscanos, em Lisboa.
Em 1966, foi reconhecido pelo instituto Yad Vashem, memorial dos mártires e heróis do Holocausto, como um “Justo entre as Nações” e, em 1998, foi condecorado a título póstumo com a Cruz de Mérito pela República Portuguesa, pelas suas ações em Bordéus.