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Ao falar da atual Pousada de Viseu, é comum mencionar este edifício como sendo o “antigo hospital de Viseu”. Este não foi, contudo, o primeiro hospital nesta cidade, embora a sua localização não esteja muito longe do primeiro asilo para “enfermos”.
Na rua Dom António Alves Martins, as instalações do Comando Distrital da PSP de Viseu foram, no passado, as instalações da primeira clínica: o Hospital das Chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo, conhecido apenas como “Hospital das Chagas”. Fundado na segunda metade do século XVI por Jerónimo Bravo e Isabel de Almeida, sua mulher, o hospital foi inicialmente mantido em funcionamento através de doações da nobreza.
A gestão do Hospital das Chagas era mantida pela Misericórdia, assim como pelo senado viseense. Por seu lado, a câmara de Viseu estava encarregue de pagar e nomear os médicos que trabalhavam nesta unidade médica. Além disso, o executivo camarário estava ainda encarregue de eleger e financiar igualmente um cirurgião para trabalhar não apenas no hospital, como também na cadeia e em visitas domiciliárias a pessoas que se encontrassem doentes. Esta responsabilidade camarária é veriica-se numa transcrição contida na tese da historiadora Liliana Castilho, intitulada “A cidade de Viseu nos séculos XVII e XVIII – Arquitetura e Urbanismo”. Nesta, é mencionada a nomeação do médico António de Sá Mourão, numa ata de 21 de fevereiro de 1705.
“E se achar de presente nesta cidade o Lecenciado António de Sá Mourão Médico formado na Universidade de Coimbra e se ter delle boa opinião e boas informações de pesoas de boa supozição como constou da informação que se tomou e também das que se tomou o Prelado e Reverendo Cabido”, é possível ler nesta mesma ata. “E mandavam que dahi em diante se lhe pagasse com tal condição que o dito médico estará morador nesta cidade e curará os pobres della e do hospital”, lê-se ainda no documento do início do século XVIII.
No dia 9 de setembro de 1709, também o “surgião Diogo Rodrigues Santiago” foi nomeado pela câmara de Viseu, “por procuração de Sua Magestade concedida a esta Comarca para asistir nela hum surgião para curar os pobres desta cidade”. Os cargos, explica a historiadora, eram de nomeação vitalícia, pelo que apenas eram nomeados novos médicos ou cirurgiões após a morte dos seus antecessores.
O edifício, contudo, era bem mais pequeno do que aquele que atualmente serve o Comando Distrital da PSP de Viseu. Ao longo das décadas, o Hospital das Chagas sofreu várias obras de ampliação, das quais se destaca a intervenção apoiada por D. Jerónimo Soares, que resultou em duas enfermarias separadas pelo sexo dos doentes, assim como a ampliação patrocinada pelo bispo D. Júlio de Oliveira. Esta última ocorreu já no século XVIII, entre 1758 e 1760, e permitiu a criação de “uma casa separada para as doenças venéreas e uma casa da roda para os enjeitados”, de acordo com Liliana Castilho.
Um novo hospital para uma cidade em crescimento
Foi apenas no final do século XVIII que surgiu a necessidade de construir um hospital em Viseu que fosse maior e mais recente que o Hospital das Chagas, em parte pelo aumento da população e o crescimento da cidade de Viseu, em parte pela atualização das normas sanitárias que o fim da Idade Moderna exigia.
Por este motivo, Caetano Moreira Cardoso doou à Santa Casa da Misericórdia um olival junto à Quinta do Serrado. A 19 de maio de 1793, teve início a construção do (então) novo hospital de Viseu, por ordem do provedor João Correia de Almeida, explica a historiadora na sua tese. A obra, dirigida pelo “mestre pedreiro” Jacinto Matos, terminaria apenas em 1842, ano em que foram transferidos os doentes do Hospital das Chagas para o novo hospital de Viseu.
Até 1875, o edifício manteve-se devoluto, sendo depois vendido ao próprio Estado, que estabelece neste espaço o Hospital da Guarnição Militar de Viseu. Mais tarde, o edifício viria a ser ocupado pelo Comando Distrital da PSP, função que mantém até hoje.