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A vida traz-nos pessoas bem e mal-intencionadas. Por vezes, apenas a distância, o tempo e a perda nos permitem sentir o que elas significaram para nós, no bem e no mal.
Almeida Henriques será sempre para mim um viseense que se movia por causas positivas. Sempre tivemos uma relação acesa, frontal, pontualmente tensa, com muitas convergências e divergências que mantivemos no recato da amizade e respeito mútuo. Procurava de forma determinada um bem maior que, para ele, era o desenvolvimento de Viseu.
Em Jorge Coelho encontrei também a mesma humildade e generosidade, a mesma vontade de ouvir e participar em causas boas que caracteriza as pessoas grandes. Com ele criei uma relação de elevada simpatia mútua, cativado pelo seu estilo de pessoa meiga e disponível para ajudar sempre que necessário. No dia em que Almeida Henriques nos deixou, Jorge Coelho contactou-me e disse-me que tínhamos de fazer ao Presidente da Câmara uma homenagem enorme.
Cada dia que passa interiorizo mais o significado da perda destes dois amigos, a previsibilidade, a confiança e a solidez que me traziam e que agora não terei mais. Ambos eram figuras regionais e nacionais respeitadas, defensores de Viseu e das causas do interior de Portugal, mas sobretudo homens bons, amigos que me ouviam e me aconselhavam. Como acontece com os bons amigos, nem sempre concordámos. Agora frequentemente recordo-os e agradeço o tempo e as opiniões que me deram.
Viseu, Cidade e Região mudaram e devem muito a ambos.
Almeida Henriques modernizou Viseu, viu a importância do imaterial para o desenvolvimento, pensou num caminho ambicioso, começou projetos que infelizmente não teve oportunidade de concluir. Ele acreditou e quis muito Viseu como cidade inteligente, fez a captação de empresas tecnológicas para atrair talento. Deu a importância às empresas e às pessoas, sonhou o potencial enorme da incubadora Vissaium21 para a região. Preparou o presente e o futuro através do Viseu Educa, do marketing profissional de Viseu, da reorganização da Feira de S. Mateus e do papel da cultura na atratividade de um concelho.
Jorge Coelho esteve sempre disponível e participativo na concertação regional, para as defesas das grandes causas do
Interior, com um enorme bom senso e capacidade de aglutinar vozes divergentes. Elogiava ou criticava sempre na perspetiva de bondade das propostas e dos comportamentos e nunca com base em preconceitos partidários ou ideológicos.
Na vertigem irracional dos tempos eleitorais que se avizinham, devemos preservar a história e legado destes dois homens bons que nos deixaram. As palavras ofensivas que sejam proferidas no combate político deixarão marcas e barreiras definitivas entre nós. Vamos escolher pessoas boas, generosas, que sonhem, com futuro, competência, capacidade e provas dadas e evitar oportunismos sem memória. Os especialistas na calúnia, na intriga e no veneno em doses pequenas, que destrói e corrói todos os dias, mas só se vê tarde demais, minam o clima de confiança nas comunidades e organizações.
O presente é duro e incerto, mas pleno de oportunidades que dependem de nós. Honrando Almeida Henriques e Jorge Coelho, sendo um otimista estrutural, acredito que vamos olhar para o futuro com ambição, que vamos ter propostas arrojadas para manter e melhorar o rumo de abertura e da modernidade seguido até agora, que nos vamos respeitar, que vamos privilegiar a tolerância e o diálogo, que iremos desenvolver a concertação regional em torno das causas regionais mais importantes e que tanto precisamos.
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Joaquim Alexandre Rodrigues
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