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13.04.24
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Não é de estranhar que depois do discurso de posse do Primeiro-Ministro, sobre ele tenham surgido 1001 interpretações diferentes. Há muitas razões para que isso possa acontecer, umas por crença no partido do governo, crença nos partidos da oposição, dever de ofício, pirronismo ou até para manipulação dos espíritos. Retirando estas causas existe uma outra que é automática, resulta do nosso processo emocional e considerada, porque intuitiva, a mais autêntica. Esse fenómeno acontece não só com a audição dos discursos, mas também com a leitura de artigos e livros. O que se passa verdadeiramente?
Para simplificar, talvez seja bom começar por perceber este poema de António Gedeão, porque ele é límpido e pedagógico. Fala do ver, mas acontece o mesmo com o ouvir! Chamou-lhe Impressão Digital: “Os meus olhos são uns olhos./E é com estes olhos uns/ que eu vejo no mundo escolhos/ onde outros, com outros olhos,/ não vêm escolhos nenhuns./ Quem diz escolhos diz flores./ De tudo o mesmo se diz./ Onde uns vêm luto e dores,/ uns outros descobrem cores/ do mais formoso matiz./…/ Inútil seguir vizinhos,/ que ser depois ou ser antes./ Cada um é seus caminhos./ Onde Sancho vê moinhos/ D. Quixote vê gigantes./ Vê moinhos? São moinhos./ Vê gigantes? São gigantes.” Os meandros da nossa mente não são simples, nós alimentámos uma certa ideia de racionalidade e onde demos demasiada importância ao QI. No entanto o seu contributo para o nosso sucesso resume-se a 4%. Os outros 96% têm a ver com outras formas de inteligência que vivem em nós e quase na clandestinidade. Quando ouvimos um discurso, como aquele da tomada de posse, o nosso Sistema Límbico (comportamentos e emoções) trabalha mais rápido que o racional. É uma diferença enorme, enquanto o cérebro racional processa 126 bits/segundo e apenas 40 da fala humana, o nosso Sistema Sensorial pode receber até 10 milhões de bits/segundo e dá-nos uma leitura instantânea da credibilidade e honestidade do que ouvimos. É este sistema que permite a confiança no orador e tem associado uma competência a que chamamos Raio de Confiança. Acreditamos nas palavras dos outros em 7%, os restantes 93% dependem do tom da voz e da linguagem corporal (olhar, gestos, postura e fatores relacionados). Em resumo, quando a mensagem e o mensageiro são um só! Vasoughi, um conhecido investigador, quando fazia a sua tese de doutoramento quis desenvolver uma ferramenta para detetar a veracidade dos rumores que circulavam nas redes. Queria conceber um algoritmo que separasse o falso do verdadeiro. No final fez a pergunta-chave! O que confere a credibilidade, a mensagem ou o mensageiro? A resposta não lhe deixou dúvidas, o melhor indicador do falso ou do verdadeiro não está no que se diz, mas no que os ouvintes fazem com isso. Por exemplo, a mentira propaga-se mais depressa e chega mais longe que a verdade. Também temos tendência para espalhar mais o falso do que o verdadeiro. Isto acontece sobretudo na política, ideologia, desporto e mexericos! E porquê? Porque o falso não tem os limites da realidade e nessa liberdade, o emocional é mais atraente para o cérebro. Também é por isto que gostamos de histórias! O problema com a validade dos discursos é que eles não servem para emitir palavras e dirigi-las aos outros. Também ninguém exige a um líder que na sua estreia seja perfeito, mas espera-se verdade e honestidade. Há neste conjunto de competências emocionais uma necessidade de integridade, que é aquilo que requer um compromisso com o diálogo e a avaliação. Há quem considere, que esta é a mais elevada forma de inteligência humana. Então, todos nós precisaríamos de um banho desta inteligência! Falhamos, porque quase sempre preferimos a racionalidade, a razão, mas essa não passa de uma estrutura fácil de controlar e por consequência também, mais fácil de manipular. Os nossos governos têm um problema grave com o modelo e a filosofia da sua estrutura. Talvez por isso, muitas vezes, as palavras não coincidem com o ato final. Essa estrutura baseia- -se num modelo de Inteligência Administrativa, que no passado foi dominada pela física e por um modelo matemático onde tudo é inanimado e sequencial. Esse modelo está em flagrante contraste com as exigências dos dias de hoje. O que seria adequado ao nosso tempo era um modelo biológico, aquele que trata pessoas, mercados e ideias como seres vivos e com capacidade de mudança, interação, sinergia e crescimento. Modelos, experiências e inspirações antigas são maus conselheiros e acabam por produzir más imitações. Sobre imitações há uma história interessante e que se passou com Chaplin. Um dia ele inscreveu-se num concurso de imitação do Chaplin e ficou em 3º lugar. Como se vê, fora do tempo até o original se imita mal a si próprio! A organização e as estruturas dos nossos ministérios, não fogem da Inteligência Administrativa. Precisam ser transformados em criadores de valor e o digital não fará milagres! Percebe-se que se tentou minimizar e bem um velho problema, aquele de colocar os ministros na primeira linha da resolução dos problemas. Uma boa medida num governo com Ministros essencialmente políticos. Que sejam então os Secretários de Estado, com perfil mais técnico, a resolver problemas e a fazer o controlo dos danos. Dê-se aos ministros a oportunidade de se envolverem na concretização dos grandes objetivos programáticos e na procura de oportunidades. Um outro grave problema tem a ver com a educação para a cidadania. A diversidade das ideias é a maior riqueza da democracia e sobre a mesma ideia pode e deve haver opiniões diferentes. O perigo maior é quando se faz o caminho contrário. A este propósito deixo aqui um pensamento de Carl Sagan: “Não é possível convencer um fanático de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências, baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar.”

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