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Jorge Marques
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Diogo Pina Chiquelho
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Diogo Pina Chiquelho
A banalização do uso da inteligência artificial é uma realidade e com a qual já é inevitável cruzarmo-nos. Falo já em banalização, pois a mera democratização da IA foi um apeadeiro pelo qual se passou e mal se parou. Devem ser raros os dias que estas palavras ou a sigla “IA” não é ouvida ou lida. Não posso dizer que sou um usuário assíduo destas tecnologias ou que me sinto à vontade com elas. Apesar da minha juventude, que tendencialmente levaria alguém a apostar que eu sou um fã acérrimo, honestamente sou algo cético. Não porque vivo num mundo paralelo no qual acho que a IA não tem ou terá uma presença relevante, mas porque cada vez mais me questiono onde fica a inteligência natural, entenda-se humana, no meio disto.
Considero saudável este meu ceticismo. Leva-me à moderação. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Por um lado, sou um curioso, não sou conservador e quero testar tudo. Não rejeito nada sem antes experimentar e perceber as suas utilidades e as potencialidades. Por outro lado, não sou cliente fácil. Desafio sempre o método e resultado dado. Para tal, testo estas tecnologias por recurso a áreas sobre as quais penso deter algum conhecimento. E as conclusões que tenho tirado levam-me a manter – ou até mesmo a reforçar – o meu ceticismo.
É que há imperfeições e erros, não raras vezes de cariz básico, que não aparentam estar a colocar em causa o índice de vendas. Vê-se cada vez mais gente a recorrer a estas ferramentas, inclusivamente pagando mensalidades para se alhearem da capacidade natural de tomada de decisão, do seu livre-arbítrio. Até as ponderações mais banais do dia a dia, tais como a do sabor do gelado a escolher (como eu já assisti a acontecer) são sujeitas à máquina. A inteligência artificial está a ser usada para incentivar a inépcia humana. Ou melhor, cada vez mais se recorre à inépcia artificial, e não à inteligência artificial.
Corroborei isto quando recentemente me foi solicitada ajuda por um estudante de ensino superior. Perante a falta de casos práticos que servissem para o estudo, este estudante recorreu ao famoso “chat” para que a IA lhe construísse um enunciado. Basicamente, cedeu à IA um enunciado dado pelo professor em sala de aula e a IA reformulou-o. Reconheci esse modo inteligente de utilizar a IA: o estudante sentiu a necessidade de treinar os seus conhecimentos, precisou de um enunciado para o efeito, alimentou a IA com uma base fidedigna e recolheu dela um mero enunciado. À partida, tudo certo. O erro deste estudante foi não conseguir identificar o limite desta ferramenta e onde parar. Resolveu o caso prático e solicitou ao tal “chat” a solução. Acontece que a solução dada não batia certo com a resolução dele e, por isso, pediu-me ajuda. Do meu lado, não foi preciso muito para perceber onde estavam os erros de interpretação no método e argumentação da IA e o que a tinha levado a uma resposta que não era apenas minimamente errada, mas sim diametralmente errada.
Identificarmos até onde vai a inteligência artificial e onde deve sempre vigorar a inteligência natural é fulcral. Não podemos, em momento algum, perder a capacidade humana de desafiar e, sinceramente, com a banalização da IA, parece-me que isto se banaliza também.
Em jeito similar, surgiu estes dias a suspeita de que um acórdão de um tribunal de segunda instância ter sido elaborado por IA. Menções a normas e jurisprudência inexistentes e termos linguísticos desapropriados terão suscitado estranheza e o caso está agora debaixo de fogo, mesmo apesar do coletivo de juízes ter considerado tais alegações como completamente descabidas. Quero acreditar que não é verdade – não o li – mas não me admiraria se fosse, porque aqueles são todos sintomas daquilo a que eu próprio já assisti. A banalização pode ter já chegado às mais essenciais tarefas do Estado.
Não é isto tudo, por si só, um fenómeno de consunção da IA sobre a inteligência natural? Não é já demonstração que o facilitismo vigora entre nós e que há um sentimento de desresponsabilização entre quem usa ilimitadamente estas ferramentas? Ficam as questões no ar, eventualmente para serem carregadas no tal “chat” e por ele respondidas. A resposta, provavelmente, será romântica e de se colocar em causa. Teste o leitor por si mesmo. Eu também fiz o meu…
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Jorge Marques
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Felisberto Figueiredo