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Jardins Efémeros

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23.07.22
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Sou suspeito quando falo dos Jardins, porque foram eles que ajudaram à minha decisão de regressar a Viseu depois de uma ausência de 47 anos. Foi o ter sentido que havia um perfume de modernidade no ar. E porque se escolhe este ano como tema central “A Incerteza”? Tive a resposta mal abri o programa – “Ou somos exatos ou estamos vivos”. Este é o grande desafio do nosso tempo. A incerteza é uma espécie de ar que temos que aprender a respirar, porque se por um lado mete medo, por outro é o nosso maior espaço de liberdade e criação. Esta é a mensagem!

Os Jardins Efémeros vem lembrar-nos que a modernidade de uma cidade como Viseu deve construir-se sobre as suas memórias. Tenho um amigo cientista, o pai do satélite português, que repete sempre: Não há nada mais moderno que o antigo! Viseu perde-se quando foge dessa referência. Recentemente falava com uma bem informada historiadora sobre a nossa cidade. Dizia-me ela: Há quatro pilares fundamentais na nossa memória cultural, a Cava de Viriato, o Solar e Jardins do Fontelo, o Adro da Sé com a zona circundante e o Mercado 2 de Maio. Este último foi assassinado, digo eu, porque em vez de se aproximar da memória antiga, exibirá a máscara dos nossos vícios modernos: o viver da aparência, a submissão, a troca da criação pela reprodução, o medo da autenticidade, olhar o chão.

Dizia-me esse amigo Carvalho Rodrigues: Só há certezas sobre o passado, esse é perfeito até nos verbos e ás vezes mais-que-perfeito! Sempre que construímos sobre ele tornamos as coisas mais sábias e seguras, construímos para um tempo que vem, para um futuro. Caso contrário, quando os tempos vividos ou verbais são apenas vontades do presente, esses conjugam-se no futuro imperfeito! Isto devia obrigar a um pensamento coletivo. Os Jardins são criados em espaço antigo, num daqueles quatro pilares de que falava a historiadora, trazem modernidade, plantam futuro e acordam a cidade!

Em boa hora o atual executivo camarário acertou a promessa de um futuro dos Jardins igual ao seu mandato. É um sinal de descentralização! Os agentes culturais precisam passar de Tarefeiros a um Contrato com Prazo, para que quando os políticos se vão embora a Cultura permaneça e fique em boas mãos!

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