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por
Joaquim Alexandre Rodrigues
por
Jorge Marques
São mais de 100 presépios, de diferentes tamanhos e construídos ao longo de quase 10 anos. Há presépios num pequeno carrinho de mão, num tronco de madeira, num cesto, em cima de conchas e pedras. Há um presépio aos pés de uma cegonha, que na boca segura o menino Jesus, e outro feito com abajur. Há um produzido com peças que vieram de Jerusalém e há outros tantos feitos em cortiça ou enquadrados numa aldeia.
O autor é Joaquim Ferreira, de 84 anos, que dedica grande parte dos seus dias à construção destes exemplares. Há alguns anos que por altura do Natal expõe as suas criações numa divisão da sua casa, em Couto de Baixo, na Freguesia de Coutos de Viseu. Este poderá ser o último em que faz a sua própria exposição, mas ao Jornal do Centro confessa que um grande desejo seria vê-los num espaço da cidade, na câmara, num museu ou na junta de freguesia.
A única vez que alguns exemplares saíram da casa de Joaquim Ferreira foi há três anos para viajarem até Lisboa, à Igreja de Santa Catarina.
“Há uns anos que é aqui que os exponho e às vezes vêm cá pessoas da família ou conhecidas para ver. Já pensei em levar para algum lado em Viseu, se a câmara tivesse interesse, para um museu ou aqui na junta de freguesia. Gostava que fosse exposto e não é por vaidade, gostava mesmo de ver a minha obra disponível para todos. É uma carga de trabalhos e já não consigo aguentar esta pedalada, mas gostava de os ver expostos em outro sítio. Se não acontecer, pelo menos já vão sair no jornal”, conta entre sorrisos.
Joaquim Ferreira já construiu 116 presépios. Quando se dedicou “a sério” a esta aventura, em 2015, o objetivo era chegar aos 100, uma barreira que já ultrapassou movido “pela vontade em criar mais”. Os exemplares são todos fruto da sua imaginação e criatividade.
“Sempre me considerei um pouco criativo e sempre me dediquei a fazer algumas coisas à base de madeira. Já em pequeno era eu que fazia os brinquedos para brincar. A partir de 2015 foi quando me dediquei mais a fundo a fazer estes trabalhos”, recorda.
“Sai tudo da minha cabeça”
A madeira é o material predominante nesta mais de uma centena de presépios, mas ao longo dos anos outros se juntaram, como a cortiça ou o granito. “No princípio trabalhava só com madeira e a madeira que uso é a nogueira, figueira e tenho algumas peças de nespereira. Entretanto, comecei a pensar que podia variar e comecei a fazer em granito. Depois veio a cortiça, que foi um sobrinho que me ofereceu”, explica.
Tudo é feito por Joaquim Ferreira, da estrutura da “casa” às figuras que, em muitos casos, até contemplam os reis magos. “É tudo da minha cabeça, não tenho sugestões. Quando começo a fazer, seja um maior ou um mais pequeno, vou logo imaginando o que quero. Se não ficar ao meu gosto, desmancho e faço de novo”, revela, acrescentando que um presépio pode demorar vários dias a fazer e que há alturas em que cria “quatro ou cinco ao mesmo tempo”.
“Todos os dias faço um bocadinho de qualquer coisa. No verão, debaixo de uma parreira, à sombrinha, chego a estar três horas seguidas a fazer as peças”, revela.
Dos presépios às quadras
O gosto pela construção de presépios já contagiou familiares e amigos que contribuem com os mais variados materiais. Há um presépio, talvez um dos que têm mais significado para o autor, que é composto por figuras que vieram de Jerusalém.
“As peças do presépio são feitas por mim, só tenho dois ou três em que as figuras não são da minha autoria, como um que tem peças que vieram de Jerusalém trazidas pelo meu filho. Há outro, que tem uma telha em barro, que também tem uma história engraçada. Andava há muito tempo com ideias de fazer um presépio em barro, andei no mercado a ver se encontrava e não encontrei, até que o marido da minha neta encomendou e no Natal do ano passado ofereceu-me. Também tenho ali uma data de paus de gelado que os meus filhos trouxeram e que também vou ter que começar a usar”, conta.
Foi em Lisboa que Joaquim Ferreira viveu grande parte da sua vida, com a esposa e onde cresceram os filhos. A profissão que desempenhava nada tinha a ver com a construção, mas foi precisamente a construção de uma igreja na freguesia de Coutos que lhe trouxe este gosto.
“A minha profissão não teve nada a ver com isto. Mas, dos meus 14 aos 17 anos, foi construída uma nova igreja aqui e eu aprendi a trabalhar a pedra e quando ficou terminada ainda andei a trabalhar com um empreiteiro durante dois anos. Depois fui para Lisboa e lá não trabalhei com isso. Quando regressei à minha terra comecei a dedicar-me a fazer estes trabalhos”, lembra.
Joaquim Ferreira garante que não é artesão e até sublinha que há peças “com um ar mais tosco”, mas o gosto por criar os presépios é grande, tão grande que começa a ser difícil ter espaço para guardar tantos exemplares.
É numa pequena “oficina” em sua casa que cria os presépios que lhe ocupam muitas horas, mas também gosta de escrever quadras, que podem ser vistas por entre os presépios.
E é de olhos postos numa delas que terminamos a nossa conversa: “Não me creio artesão/nem tão pouco escultor/não me julgo trapalhão/mas também não sou doutor”.