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Mário Soares tem a Chave da Cidade de Viseu

 Mário Soares tem a Chave da Cidade de Viseu
13.12.24
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 Mário Soares tem a Chave da Cidade de Viseu

por
José Junqueiro

 Foi-lhe entregue pelo Presidente da Câmara Eng. Engrácia Carrilho. Estávamos em setembro de 1989. Mário Soares era Presidente da República. O Salão Nobre estava a abarrotar e as personalidades eram muitas. José de Azeredo Perdigão, 1º Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, estava presente e Mário Soares não poupou nas palavras para lhe fazer o merecido elogio pela sua vida e obra. O Eng. Engrácia Carrilho, personalidade de grande elevação e mérito, relevou a importância da visita do Presidente da República, o gosto em recebê-lo, bem como o afeto que a população lhe dedicava nas ruas.

Entregou-lhe a Chave da Cidade com todo o simbolismo que o gesto encerra. Um “bem-haja” beirão. 

    Era um novo tempo. Nem sempre fora assim. O distrito e o concelho eram muito conservadores. Álvaro Monteiro encimava um conjunto de resistentes à ditadura que fundariam o PS em Viseu, nomeadamente João Lima, Jorge Teixeira, Lino Moreira, Armando Lopes, Lúcio Rodrigues, Almeida Henriques, Adolfo Amaro, Júlio Miranda da Costa e, entre muitos outros, Manuel de Almeida, um dos destemidos da Revolta da Mealhada, mais tarde nomeado Governador Civil. Seria ele a convidar-me para um sensível almoço de trabalho com o embaixador Frank Carlucci que procurava perceber diretamente se Portugal, em contexto incerto, corria o risco de cair em extremismos. Daqui saiu tranquilo. 

 Também em Viseu Mário Soares fazia o que deixou por conselho a Sérgio Sousa Pinto e que o próprio nos revelou há dias: “Nós temos de nos rodear sempre dos melhores. Os melhores dão muito trabalho. Mas nós temos de beneficiar sempre do conselho e proximidade dos melhores”. E que trabalho! Muitos deles integrariam o grupo do ex-Secretariado que se propunha ser uma alternativa ao próprio. Não vingou, mas Mário Soares era um sábio e contou com todos eles para o futuro. Daí saiu, por exemplo, o Presidente Jorge Sampaio e o Secretário Geral das Nações Unidas, António Guterres. Aqui foi Jorge Teixeira que comigo liderou o seu apoio.

  Álvaro Monteiro tinha a confiança e amizade de Mário Soares, tal como Armando Lopes, era o seu interlocutor em todo o distrito e responsável pela organização do partido em todos os concelhos com prioridade especial para Lamego, terra de democratas firmes e uma centralidade capital no Douro Sul. A tarefa era enorme e coube-me trabalhar todo o território e preparar todas as reuniões. Jorge Teixeira, Vítor Martins, Rui Santos são alguns dos dirigentes que viveram mais de perto essa “aventura”. Tinha 21 anos e com os “maiores” fui fazendo a minha aprendizagem. 

Mário Soares, ao longo dos anos, vai a todo o lado, percorre connosco o distrito, várias vezes, e dá a cara rasgando um caminho e enfrentando várias hostilidades. Visitar, por exemplo, a Feira de S. Mateus era sempre um risco e um desafio resultante das provocações e até agressões.

Há que compreender o contexto. Os anos de 74 a 76 são os mais delicados. Tinha acontecido o 11 de Março, as maiorias silenciosas, o assalto às sedes dos partidos, o cerco à Assembleia da República e o 25 de Novembro. A politização do MFA, a Descolonização, os traumas, o combate aos radicalismos de direita e de esquerda estavam no auge. Em Viseu não foram assaltadas apenas as sedes do PCP ou do MDP. A do CDS também foi vandalizada. A sociedade portuguesa estava dividida. 

Mário Soares assumiu um papel mobilizador e pacificador da sociedade civil. O grande comício da Fonte Luminosa a 19 de junho de 75 reuniu mais 300 mil pessoas. Exigia a demissão de Vasco Gonçalves. O espaço circundante era percorrido por forças militares radicais, mas nem Otelo nem os seus atemorizaram o Secretário Geral do PS, os socialistas e a população que começa a ver em Mário Soares um caminho de esperança e confiança.

As eleições para a Assembleia Constituinte acontecem no 25 de Abril de 1975 e o PS ganha com 37,9%. João Lima e Flórido Adolfo Marques são deputados por Viseu. As primeiras eleições legislativas acontecem a 25 de Abril de 76 e o PS ganha novamente. Em dezembro deste ano ocorrem as primeiras eleições autárquicas e Viseu elege pelo CDS o Dr. Eduardo Leal Loureiro. O Eng. Lino Moreira Rodrigues termina a sua exigente missão de Presidente da Comissão Administrativa. 

A vida política, ainda que difícil, vai ganhando progressiva normalidade. Mário Soares, depois de fazer acontecer no Porto, em 1976, a “Europa Connosco”, reunindo os mais destacados líderes europeus, numa afirmação de apoio à jovem democracia portuguesa, consegue em 1985 a adesão de Portugal à CEE, marco histórico que integra Portugal nas democracias e economias europeias mais desenvolvidas dando início a sucessivos fluxos financeiros que se mantêm nos nossos dias.

Um salto no tempo traz novamente a Viseu Mário Soares. Em 2006, com 81 anos, é recandidato a Presidente da República. Tinha sido Primeiro Ministro, Presidente da República, Eurodeputado e não era fácil imaginar que quisesse travar mais um combate político. Mas foi essa a sua decisão.

Jorge Teixeira, seu amigo de sempre, assume comigo a campanha com a ajuda inestimável do seu Mandatário, o seu muito amigo Dr. Fernando Amaral, do PSD, natural de Lamego e Presidente da Assembleia da República. Fernando Amaral era um orador brilhante, uma pessoa de grande cultura, de uma enorme delicadeza no trato, um cavalheiro como se dizia outrora, que ganhou a estima e reconhecimento do país. Os tempos eram, no entanto, difíceis, a missão impossível no contexto da época, mas, mesmo assim, tudo se fez com determinação. Para Mário Soares o importante era entrar no combate político.

Por último, mais na intimidade, Mário Soares sentia-se muito bem entre nós, gostava de Viseu, da sua história, das personalidades de cultura aqui nascidas que desde sempre influenciaram a nossa história coletiva. Sentia-se bem com as pessoas, com os seus afetos, o património, a nossa gastronomia. Dizia sempre que Viseu era inspirador. E é isso que Mário Soares será sempre, inspirador.

 Mário Soares tem a Chave da Cidade de Viseu

Jornal do Centro

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