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Pensar para além do imediato ou do mais óbvio pode ser um exercício interessante, não apenas pelo prazer de pensar sobre aquilo que nos rodeia, mas também porque esse exercício nos abre portas para soluções alternativas que, de outra forma, mais dificilmente iriam surgir.
A vantagem de pensarmos em missões ‘impossíveis’ (ou, aparentemente, ‘impossíveis’) traduz-se na oportunidade que temos de pensar nos impactos, mais distantes, mas também mais abrangentes, mais difíceis de caraterizar, quantificar, mas também, por isso mesmo, conducentes a maiores cautelas, mais planeamento, mais rigor na definição dos passos intermédios e dos objetivos imediatos, parcelares, que é preciso alcançarmos para chegarmos a bom porto, para transformarmos a missão ‘impossível’ em missão cumprida.
É este exercício que proponho fazer com alguns exemplos que poderão, inclusive, ser designados por ‘megalomanias’. É um risco!
Mas, pensemos a 10 anos de distância. E façamo-lo de um modo integrado e não apenas exemplo a exemplo. Fazer isto, gradualmente, de forma planeada, é (im)possível?
1. A grande sala de acolhimento da cidade de Viseu
As cidades, de um modo geral, têm uma praça, um equipamento, enfim, um espaço que é de passagem ou de estar ou de visita obrigatória. Em Viseu esse lugar é, sem dúvida, o que designamos por Rossio. Importa, pois, qualificar esse espaço e valorizar as suas funções.
Incluamos nesse espaço o edifício da Câmara Municipal, afastemos o trânsito automóvel não essencial e associemos o Jardim das Mães. Estamos em presença de um grande espaço acolhedor que pode ser usufruído pelos viseenses e que pode ajudar na arte de bem receber os forasteiros. A partir deste lugar, os visitantes podem aceder facilmente ao Centro Histórico, ao Parque Aquilino Ribeiro ou, depois de um pequeno passeio pelo meio da cidade, até Stª Cristina, onde podem usar o seu próprio transporte ou apanhar o transporte público que os levará, através da Circunvalação, até ao Fontelo, à Católica ou Politécnico, à Cava ou até qualquer freguesia com iniciativas e equipamentos acolhedores.
Antes de partirem para qualquer destes destinos, esta grande sala de acolhimento oferece a oportunidade aos visitantes e residentes de poderem organizar as suas visitas pela cidade e pelo concelho a partir da informação disponibilizada, usufruir de exposições (pintura, fotografia, …), assistir a documentários breves sobre Viseu ou usufruir de pequenos concertos ou peças de teatro. Os mais novos têm jogos, passatempos, podem pintar, etc. No amplo edifício, todos podem visitar o Museu da Cidade, um importante centro de conhecimento sobre Viseu que associou diversos acervos museológicos.
Como sala central da cidade, ela simboliza também a autoridade política municipal bem como o seu exercício em proximidade aos cidadãos. Por isso, aqui se localiza o Salão Nobre, usado para a organização de eventos que exijam maior formalidade, seja da vida política, seja na recepção a munícipes ou a visitantes.
Este uso do edifício como grande sala de acolhimento (com as Praças contíguas) e de divulgação de Viseu é viável porque, em devido tempo, foi possível transferir todos os serviços e equipamentos de apoio à ação política da Câmara Municipal e da Assembleia Municipal, bem como de serviços técnicos e administrativos para um edifício moderno, mais funcional e com melhores condições de trabalho para uma zona da cidade, não longe do centro, que agora se encontra renovada, beneficiando de infraestruturas e de serviços adequados e de uma arquitetura residencial moderna.
2. Centro de Artes de Viseu
Viseu não tem grandes equipamentos culturais e os que existem, não necessariamente por serem pequenos, mas são espaços antigos e não adequados às funções que exercem. Vão cumprindo, apesar das dificuldades, o seu papel. Devemo-nos interrogar, contudo, se não se estarão a tornar estruturas que limitam o desenvolvimento e o crescimento das atividades culturais que a cidade, o concelho e a região já estarão a exigir.
A criação de um Centro de Artes deve ser equacionada como uma necessidade para o futuro. Deve ser uma grande sala de espetáculos mas também uma estrutura que proporciona condições para a produção artística. Um Centro que sirva a comunidade consumidora de bens artísticos, culturais, mas também que possa criar condições estimulantes para a atividade dos criadores desses bens.
Neste sentido, um Centro de Artes há de ser um espaço onde se possam criar as condições que permitam rasgar as limitações que possam já existir em Viseu para o seu desenvolvimento artístico e cultural.
Assim, um Centro de Artes em Viseu há de ser um espaço onde devem conviver diferentes manifestações e concepções de arte e criadores, mas também funções diferenciadas, seja na formação, na produção material de bens culturais, na disponibilização (por aluguer, p.ex.) de equipamentos, muitas vezes fora do alcance dos jovens que desejem iniciar um trajeto profissional (ou apenas como hobby) mas que precisam de experimentar, ensaiar. Um espaço onde possam conviver as atividades profissionais, com outras atividades para uso do público, nomeadamente crianças e jovens. Um espaço de cruzamento de diferentes disciplinas, pensamentos e sensibilidades.
Tratando-se de um espaço que pode receber grandes públicos (ou pequenos grupos consoante as atividades), mais facilmente se poderá ajustar a uma outra função, que não apenas das Artes, assegurando as condições para o funcionamento de um Centro de Congressos de Viseu.
3. Candidatura a Património da UNESCO e a Capital Europeia da Cultura
Consideremos uma possível candidatura do Centro Histórico a Património da UNESCO. A esta iniciativa juntemos também a candidatura de Viseu a Capital Europeia da Cultura.
Poderemos sempre, à priori, emitir opiniões considerando se um determinado património tem ou não um ‘valor excecional’ no contexto internacional ou se somos capazes de evidenciar valor que nos permita carregar o título de ‘capital da cultura’. A apresentação destas candidaturas tem a vantagem de nos obrigar a fundamentar de forma exaustiva as nossas opiniões pela simples razão de que sabemos que nos estamos a confrontar com outras candidaturas que almejam atingir o mesmo objetivo: o reconhecimento internacional do que é nosso e das nossas capacidades. Naturalmente, não gostamos de ficar para atrás. Mas, na verdade, a candidatura acaba por se traduzir, em primeiro lugar, num confronto com nós mesmos com o objetivo de nos superarmos. Por isso é que os processos de candidatura implicam sempre trabalhos de pesquisa profunda focados no elemento central dessa candidatura; sugerem a criação de equipas multidisciplinares que nos ajudam a ter uma visão mais plurifacetada da realidade; estimulam-nos a mobilizar a participação daqueles que de mais perto convivem com esses elementos a candidatar, as populações locais, os vizinhos, que serão sempre os mais interessados defensores desse bem que têm à sua porta e em beneficio dos quais se deve dirigir, em primeiro lugar, esse trabalho. Este é, pois, o primeiro passo da candidatura, conhecermos bem o que estamos a candidatar, qual o seu valor intrínseco e quais os atributos que o legitimam.
Num segundo passo, queremos saber o que fazer com as competências, com o património que temos, que atraímos e que podemos transformar em recursos com valor único e excecional que vamos colocar ao serviço do desenvolvimento do território. No fundo, vamos querer saber como teremos de nos ir transformando para sermos capazes de subir de patamar nas nossas ofertas culturais e de lazer ou de serviços de acolhimento dos visitantes, seja pela criação de novas atividades económicas e emprego, seja pelo usufruto de crescentes bens culturais que somos capazes de disponibilizar.
Certamente que a resposta a este segundo passo há de passar por intervenções ao nível do ordenamento do espaço público, da política local de habitação, pela localização de serviços e comércio, pelos apoios à instalação de pessoas, pelos transportes públicos, mas também pela mostra das nossas competências na produção de serviços culturais e na mobilização dos agentes culturais e outros. Tudo isto resulta em beneficio das pessoas, dos viseenses e de quem aqui quiser morar ou visitar. Por outro lado, se queremos melhorar as nossas capacidades e competências individuais que queiramos pôr ao serviço da qualificação do património e dos bens culturais, cuidar das atividades de formação, formais e informais, é fundamental. Da mesma forma que é importante estabelecer planos de ação que enquadrem o trabalho dos agentes culturais e outros agentes envolvidos no processo de qualificação dos espaços e dos serviços.
Estas candidaturas, enquanto processo, obrigam-nos a ser mais exigentes nos nossos objetivos, nos procedimentos de planeamento, mas toda esta exigência, mesmo que não atinja o objetivo imediato de ganhar o concurso, criou condições para trabalharmos melhor nas parcerias que fomos construindo, melhorou o conhecimento sobre as realidades do nosso quotidiano, eventualmente deixou marcas nas obras físicas, nos melhoramentos que foi necessário fazer, deixou um maior vínculo entre as instituições locais e as populações. Provavelmente tornamo-nos mais exigentes, enquanto comunidade. Isto é sempre um ganho. E um primeiro passo a dar poderá ser, p.ex., o estudo das recentes candidaturas de cidades como Aveiro, Braga, Évora.
4. Agência Regional para a Competitividade (ARCVis)
A ARCVis é criada tendo em vista a promoção económica da Região e, em particular, o apoio às empresas e aos empreendedores que se instalem na Região. A sua ação dirige-se principalmente à promoção da competitividade das empresas por via da inovação. Para o efeito, define os principais domínios de intervenção em função da estratégia regional de desenvolvimento.
Por outro lado, a atividade da ARCVis organiza-se em torno de quatro funções:
1. Criação – apoio à criação de empresas e à inovação. Este apoio traduz-se no acompanhamento por especialistas a quem quiser iniciar a atividade empresarial ou desenvolver um projeto de inovação nas empresas (ao nível organizacional, tecnológico, …); para além disso, a Agência possibilita o acesso à investigação e experimentação desenvolvidas em laboratórios próprios ou de instituições associadas. Neste sentido, vários trabalhos de investigadores em doutoramento são desenvolvidos em parceria com as empresas.
2. Informação – A ARCVis é um centro informação dos programas de apoio às empresas (europeus, nacionais ou de cada um dos municípios da Região) e está em condições de fornecer essa informação devidamente organizada e tratada a quem necessitar, bem como acompanhar os processos de candidatura a apoios ao investimento. Além disso, dispõe de informação disponível sobre locais para a instalação de start-ups na Região.
3. Formação – A ARCVis dispõe de um conjunto diversificado de formações ao serviço da qualificação de empresários, técnicos e dirigentes das empresas.
4. Documentação – A Agência estimula o estudo para o conhecimento da economia da Região. Em resultado disso, tem constituído um acervo bibliográfico e informativo que é particularmente importante para os decisores de empresas, de serviços públicos, investidores, etc.
Todas estas atividades resultam da rede alargada de parceiros que suportam a ação da ARCVis: autarquias e comunidade intermunicipal, instituições bancárias, associações empresariais e algumas das maiores empresas da Região, em especial exportadoras e das áreas tecnológicas; instituições do ensino superior da Região mas também de Lisboa e Porto; etc.
O exercício destas funções assenta em duas preocupações: assumir-se como interface entre os agentes económicos locais e o sistema científico e tecnológico e promover a participação cada vez mais alargada de parceiros na convicção de que são os dois suportes fundamentais para a inovação e o crescimento da capacidade competitiva regional.
Nenhuma destas ideias é especialmente inovadora. Têm estado em cima da mesa e, de alguma forma, apenas as “roubei” para contribuir para a sua divulgação, discussão e transformação em ideias mais sólidas e mais operativas.
Podem as Artes e Cultura serem eixos de construção de uma estratégia de desenvolvimento da cidade de Viseu e da Região? A resposta teremos de ser todos a encontra-la na linha, aliás, de outras opiniões já publicadas: https://www.jornaldocentro.pt/noticias/colunistas/olhar-uma-cidade-cultura.
Sabemos que uma das grandes dificuldades da economia de Viseu é a sua fraca produtividade, que se encontra abaixo da média nacional, por isso a inovação e a construção da capacidade de inovação coletiva é fundamental, não basta sermos mais eficientes, temos de ser mais inovadores. Já não nos basta termos terrenos e mão de obra disponíveis e boas comunicações. Cultura e Conhecimento são agora as alavancas para a atratividade e o desenvolvimento da Região de Viseu neste século XXI. Mas, precisamos de querer que assim seja.
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Eugénia Costa e Jenny Santos