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“Não é mal-educado, tem PHDA”

 “Não é mal-educado, tem PHDA”
22.11.24
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 “Não é mal-educado, tem PHDA”

por
João Brás

A frase utilizada como título do presente artigo é conhecida e dita por diversos profissionais de saúde, principalmente aqueles dedicados à abordagem da Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA). 

Ainda que o conhecimento médico e a sensibilização social em torno da PHDA tenha vindo a aumentar, esta perturbação do neurodesenvolvimento é ainda pouco compreendida, o que dificulta os cuidados às pessoas afetadas. Então, é importante falarmos desta perturbação. 

A PHDA é caracterizada essencialmente por sintomas de desregulação da atenção, hiperatividade e/ou impulsividade, que interferem no funcionamento social, académico ou ocupacional da pessoa em questão. Por forma a exemplificar, a pessoa com PHDA é aquela que, do ponto de vista atencional, tem dificuldade em manter o foco nas aulas, ou em conversas prolongadas; que não presta atenção a pequenos detalhes; que começa as atividades, mas rapidamente perde o foco; que tem dificuldade em manter os seus objetos organizados; que procrastina, principalmente em tarefas que exigem um esforço mental acrescido. O pensamento destas pessoas é inundado por imensas ideias e pensamentos, que impedem a manutenção da sua atenção. Existem também os sintomas de hiperatividade, mais conhecidos do público em geral: a pessoa que se levanta em situações inapropriadas; que corre ao longo da divisão, não conseguindo “parar quieta”; que não consegue esperar pela sua vez; que interrompe os outros nas conversas e “não consegue estar calado”. Estes são apenas alguns exemplos da panóplia de sintomas que esta condição apresenta. Mais interessante é observar que a apresentação clínica é bastante variável entre indivíduos e mesmo ao longo da vida. 

E aqui surge outra dúvida que vamos já esclarecer. Ao longo da vida? A PHDA não é uma doença de crianças? A resposta é não, é uma perturbação que acompanha a pessoa ao longo da vida. De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria, a PHDA apresenta uma prevalência de 7,2% nas crianças e 2,5% nos adultos, sendo mais comum no sexo masculino. Há que destacar que, no adulto, os sintomas de défice de atenção e impulsividade podem ser mais marcados, em detrimento da hiperatividade que tende a melhorar com o envelhecimento. 

E porque é que é tão importante falar de PHDA? Em primeiro lugar, porque os sintomas descritos apresentam um grande impacto no funcionamento social e profissional da pessoa, com marcadas dificuldades. Em segundo, porque a PHDA apresenta diversas comorbilidades, aumentando o risco de outras perturbações psiquiátricas e não psiquiátricas. 

Como tal, é importante diagnosticar e tratar esta condição. Abordar a PHDA de forma multidisciplinar melhora a qualidade de vida e a saúde da pessoa em questão e reduz o risco de outras condições. As consultas de PHDA poderão ser assim uma opção para quem procura ajuda nestas situações. 

João Brás, psiquiatra no Hospital CUF Viseu


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