A taróloga Micaela Souto Moura traz as previsões do Tarot, na semana…
A Farmácia Grão Vasco procura estar perto da comunidade e atenta às…
O ano passa a correr e já estamos no Natal. Cada mês…
por
Joaquim Alexandre Rodrigues
por
Jorge Marques
por
Vitor Santos
Com avós a viver em Mortágua, esta é uma terra especial na sua vida?
Claro. Tenho um carinho especial pela terra dos meus avós e passo lá sempre férias no verão. Vejo os meus avós e também pessoas que me são queridas. E também sinto carinho por Viseu. Lembro-me de vir cá quando era mais novo. Vir aqui mais uma vez foi um prazer.
A infância foi passada também em Mortágua…
Sim, durante bastante tempo. O meu pai faleceu quando tinha em quatro anos. Então era a minha avó a ir buscar-me várias vezes à escola. E cheguei a jogar lá futebol, no clube de lá. Também tive lá catequese. Sempre que posso vou a Mortágua. Agora com menos tempo.
É uma espécie de recuperação de energia…
Sim, eu saí de Coimbra aos 16 anos. Quis ir para Lisboa para viver um desafio maior, para seguir algo que queria muito. E voltar a Coimbra e a Mortágua significa voltar à minha tranquilidade. Sinto-me em casa.
Fez outros desportos. O que é que a natação lhe trouxe de diferente?
Sempre fiz natação e andava no futebol e no basquetebol. Pedi na altura à minha treinadora de natação para me ensinar a nadar mariposa. Ensinou-me e decidi seguir pela natação. Eu sentia que só poderia praticar um desporto para ser o melhor. Eu queria ser o melhor.
Depois dos Jogos Olímpicos, no rescaldo da participação, o Diogo afirmou que é preciso as pessoas terem mais cuidado quando criticam nas redes sociais. Sente que os adeptos deveriam assumir outra postura quando olham para o desporto?
Os primeiros a quererem ganhar somos sempre nós, os atletas. Lutamos para isso, treinamos diariamente, às vezes mais do que uma vez por dia. Fazemos tanto sacrifício, esforçamo-nos tanto. Se alguém tem de perceber isso e não criticar são os adeptos. Nós damos sempre o nosso melhor. Eu não fui para os Jogos Olímpicos, que era a competição onde eu mais queria ganhar, para perder. Eu não sou assim. E nenhum atleta pensa assim também. Qualquer um quer ganhar. Os adeptos deveriam pensar mais nisto. Os atletas querem, mas nem sempre corre como nós esperamos.
O peso do título de campeão mundial de natação ‘pesou’ muito nas expectativas que os adeptos depositaram em si?
Sim. As pessoas acharam que ao ser campeão do mundo, ser campeão olímpico seria fácil. No entanto os momentos são todos diferentes. Nunca estou na minha melhor forma. E os meus adversários também nem sempre estão na pior. Desta vez eles estiveram melhor e eu pior. E é com isso que temos de contar. Nada é garantido. Não nos podemos sentir confortáveis.
E os adeptos só querem que os atletas olímpicos tragam medalhas…
Sim. Eu felizmente tenho o Benfica que me apoia bastante, mas há atletas que só conseguem viver com a bolsa que o Comité Olímpico dá para os Jogos Olímpicos. A bolsa vai no máximo aos 1750 euros, mas o normal fica entre os 800 e os 1200 euros. Pouca gente consegue chegar aos 1750 euros. Só se atinge esse valor quando se é campeão olímpico. O Governo já disse que ia aumentar em 20% o apoio, mas, mesmo assim, é muito pouco, comparando com outras modalidades como o futebol. Não quero que os nadadores recebam milhões de euros. Nada disso. Mas espero que quando acabar a minha carreira – ainda falta muito, acredito eu – possa ajudar a trazer igualdade entre modalidades.
Essas é uma das metas que quer atingir quando deixar o desporto?
Pelo menos haver um pouco mais de igualdade. Em vez de uma bolsa máxima valer 1200 euros, passar a ser de 10 mil euros. E quem vai para os Jogos deveria receber, no mínimo, 5 mil euros. Um atleta que vai aos Jogos Olímpicos não é um atleta qualquer. Merece.
São muitos treinos…
São sete horas diárias de trabalho. E não é trabalho em frente ao computador. São horas de desgaste do nosso corpo.
E o Diogo ainda só tem 19 anos. Há horários para gerir, há vida social que tenta ter, horas de treino…
Não sou só eu. Eu gosto de defender toda a gente. Não quero ser o coitadinho. Nunca vai ser fácil. Para sermos bons, para sermos os melhores nalgumas coisas temos de treinar várias horas por dia. Temos de ir ao ginásio, temos de nos alimentar bem, dormir, fazer banhos de gelo, sauna. Não são apenas as horas de ginásio e na água. É o tempo que também investimos a ir ao banho de gelo, a descansar a nossa cabeça. Às vezes um dia parece ter mais de 24 horas. Tentamos fazer o nosso melhor e assim vamos continuar a fazer.
Aos 16 anos perde o dedo num acidente de mota. Esse momento revelou-se decisivo?
Eu costumo dizer que as lesões todas que tive me trouxeram algo bom. O acidente de mota trouxe um Diogo novo. Eu sempre fui bastante humilde e simples e assim quero continuar a ser. Mas naquela altura eu pensava que era indestrutível, ideias de miúdo. Com o acidente ganhei maturidade. Foi bom para me catapultar para outros palcos com 17 ou 18 anos. Há males que vêm por bem.
Quando acorda e percebe que acabou de sofrer um acidente que o limitou, sente que renasceu?
Nesse momento a minha mentalidade mudou completamente. Senti que tinha de lutar. Se não tivesse lutado, não voltaria ao desporto e desistia ali. Não queria apenas lutar para voltar, mas lutar para ser o melhor. Tudo isso junto fez-me ser uma pessoa e um atleta diferente.
E que papel teve a família nesse momento?
Foi fundamental. Era só a minha família a estar ao meu lado com o meu melhor amigo. Devo-lhes tudo. Se aqui estou hoje é por eles. E por causa do Benfica. Logo depois do acidente o Benfica foi buscar-me a casa. Conversámos. Confiaram e acreditaram em mim. Deram-me condições para estar no nível em que estou hoje. Sou-lhes grato.
Em quem se inspirou no desporto?
Tenho sempre a referência do meu pai. Ele jogava andebol. Infelizmente faleceu cedo. Era o melhor marcador da Académica de Coimbra: marcava metade dos golos da equipa. Foquei-me sempre nesse exemplo. Era o meu herói e vai sempre ser. Na natação tenho o Michael Phelps, que é referência para toda a gente.
O pai está sempre…
No que corre bem e no que corre mal.
Tem alguma superstição que cumpre antes das provas?
Tenho sempre de tocar na estrela do meu pai, que está no meu ombro direito. Faço-o antes da prova, quando estou em cima do bloco. Costumo também benzer-me ao contrário e olho para o céu. E mexo também no colar, que tem um anjo. É ele.
Tem fé?
Já fui mais uma pessoa de fé, mas continuo a ser porque estou cá hoje.
Fé em Deus?
No meu pai. Não é em Deus, mas em alguém que representa Deus de uma outra forma.
Como é que lida com a exposição pública? Dá autógrafos, tira fotos?
Sim, aceito sempre tudo. Continuo a mesma pessoa que era antes da exposição pública. Sempre fui humilde. Gosto de dar carinho aos meus fãs e a quem me está sempre a acompanhar.
Fechamos como começámos. O que há em ti do avô Fernando e da avó Dolores?
A minha humildade. Cresci com eles. A minha mãe estava sempre a trabalhar, a minha avó ia buscar-me à escola e com o meu avô ia passear à Barragem da Aguieira com o nosso cão. Não mudava nada do que fiz até agora.
Tem algum lema de vida que lhe foi passado por alguém e que ainda guarda até hoje?
Há uma frase em que acredito muito e que tenho levado sempre comigo. “The body achieves what the mind believes”: o corpo alcança aquilo em que a mente acredita. Desde o ano que bati o recorde mundial na natação que tenho esta frase na minha cabeça. Tem-me ajudado bastante não apenas na natação, mas também na vida.
Para o futuro, que ambições tem?
Quero sentir que fiz tudo o que podia na minha carreira e que ajudei os outros atletas e modalidades. E o mais importante: que a minha família esteja orgulhosa de mim. E o meu pai também, claro.