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No Dia Nacional dos Cafés Históricos, percorremos Viseu e revisitamos o Horta, a Santos e a Versailles

A história de Viseu também é contada pelos cafés históricos da cidade. Uns resistiram à passagem do tempo, outros ganharam outras feições, mas as lembranças não desaparecem do pensamento de quem lá trabalhou e de quem se sentava para dois dedos de conversa ou para tomar um café

Carlos Eduardo Esteves
 No Dia Nacional dos Cafés Históricos, percorremos Viseu e revisitamos o Horta, a Santos e a Versailles - Jornal do Centro
14.04.25
carlos.eduardo@jcentro.pt
fotografia: Igor Ferreira
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 No Dia Nacional dos Cafés Históricos, percorremos Viseu e revisitamos o Horta, a Santos e a Versailles - Jornal do Centro
14.04.25
Fotografia: Igor Ferreira
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 No Dia Nacional dos Cafés Históricos, percorremos Viseu e revisitamos o Horta, a Santos e a Versailles - Jornal do Centro

Esta segunda-feira, o calendário marca o Dia Nacional dos Cafés Históricos. O Jornal do Centro aproveita a efeméride para repescar memórias numa reportagem publicada em 2018. Em “Era uma memória, para a mesa um, se faz favor”, ouvimos estórias, testemunhos e lembranças dos tempos em que artérias como a Rua Formosa ou a Rua Direita se afirmavam pelos cafés que tinham as portas abertas. Uma empada, um bolo ou um simples café. Os viseenses recordam, com nostalgia, as pastelarias que fizeram história. Há todo um baú de memórias que permite revisitar uma cidade que já não existe mas que muitos ainda lembram de forma absoluta. Um passado que está bem presente, enquanto se recordam as bicas e as iguarias da cidade jardim de antigamente.

“Era uma memória, para a mesa um, se faz favor” – Jornal do Centro, 26 de outubro de 2018

O poder de Viseu era evidente na Rua Formosa. Mais do que o poder visível nos bancos e mais do que formosa, esta era a rua que espelhava a sociedade viseense. Da elite com ricos, pensadores e intelectuais ao povo que igualmente a atravessava. Uma rua cheia de pontos de interesse. À entrada, bem junto à Câmara Municipal e paredes meias com o Banco de Portugal, ficava o Café Rossio. Diz quem o frequentava que era o local onde os intelectuais falavam da política e da economia, da religião e da cultura. Lá, também se conspirava contra o poder. Quem queria saber o que se passava em Viseu, tinha de ir ao Café Rossio, aqui tudo se sabia e tudo se contava.

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Rua Formosa era ponto de encontro para conversas partilhas e lazer


Mas percorrer a faustosa Rua Formosa, é também falar de outros “pesos pesados” da cafetaria viseense. Bem no centro desta artéria, a Pastelaria Horta, ou o Horta, simplesmente. “Lembro um pequeno balcão onde estava a D. Fernanda, que vendia tabaco e chocolates e recebia os pagamentos”, recorda Teresa Amaral, uma das viseenses que tem alguma memória destes espaço que nasceu em Viseu em 1873. Mas há quem lembre iguarias bem típicas desta pastelaria. “As castanhas de Ovos do Horta…”, lembra, com saudade, Catarina Matos.

Esta viseense recorda-se que, na Páscoa, havia umas amêndoas com a forma de bebés recheadas com licor. “A minha melhor memória do Horta nos anos 70 era estar numa fila enorme com o meu pai, na véspera de Natal com chuva, frio e até neve. Mas nunca falhávamos para comprar o melhor bolo rei da cidade”, diz, saudosa, Manuela Antunes.

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Conceição Lima e Conceição Ribeiro antigas clientes do Horta


Se o Horta é feito de memórias com bolos e iguarias que o tornaram um sítio único, assim também era o atendimento. “O empregado mais antigo era o senhor Correia que já sabia o que cada cliente consumia. Nem se precisava de pedir. Foi um dos melhores empregados de mesa que já vi.”, lembra Helena Pereira.

O interior do Horta marcou tanto que ainda hoje é recordado. Eram tempos em que as pastelarias eram autênticos pontos de encontro, disso mesmo se recorda Alice Piloto. “Lembro-me tão bem. Na minha juventude não tínhamos telemóvel. Sempre que queríamos encontrar um amigo, íamos ao Horta”, refere. Também Isabel Brito Moura diz ter muitas saudades do Horta. “Depois das aulas, no meu sexto e sétimo anos, costumava ir ao Horta ou estudar ou encontrar-me com as minhas amigas. E mesmo nas férias, ia tomar café e lanchar. Nós não pertencíamos à elite mas furávamos” refere, em tom divertido.

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Jorge Rodrigues um dos rostos do Horta Por muitos era tratado por Jorge do Horta

As empadas recheadas da Santos
Quase paredes meias com o Horta ficava a Pastelaria Lisboa. Conta-se que no piso inferior do edifício era servida uma ginja chamada “João das Catembas”. Uns passos à frente, o grande “rival” do Horta: a Pastelaria Santos que ficava onde hoje é a Casa da Sorte. Algumas pessoas devem conhecer este espaço como o “Aquário de Viseu”. Este nome advém do envidraçado que estava em torno do edifício. António Costa, trabalhou nesta pastelaria com a esposa. “Era uma pastelaria que proporcionava muitos conhecimentos. Lembro-me de ter atendido o Mário Soares que nos falou muito bem, excecional. E recordo-me de ter lá estado o Variações, uma pessoa que nos anos 80, era fora do vulgar pela forma de vestir. Estes dois marcaram-me”, lembra António Costa.

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A Pastelaria Santos situava se onde hoje é a Casa da Sorte


Enquanto se ouve o pregão da lotaria que anda à roda, ou não estivéssemos nós junto à Casa da Sorte, o antigo funcionário da Pastelaria Santos lembra o que de melhor se provava neste espaço. “O doce de ovos feito por nós e os pastéis de feijão, uma especialidade da casa. E claro as empadas de frango, as pessoas esperavam por elas. Numa hora vendíamos duzentas empadas. Eram as melhores de Viseu”, diz, orgulhoso. Destas mesmas empadas se recorda Fátima Santos. “Tinham muito molho de tal forma que me lembro de um amigo que me disse que estas empadas tinham um serviço completo, era com sopa e tudo. E até tinha azeitona!”, diz, a sorrir, lembrando ainda os madrilenos, uns bolos retangulares, cobertos com chocolate e chantilly.

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Fátima Santos foi durante anos cliente da Pastelaria Santos

Se a elite de Viseu se concentrava no Horta, Fátima Santos lembra-se de um episódio que chocou a classe alta de Viseu que se sentava na Pastelaria Santos. “Havia um casal em que os membros tinham uma grande diferença de idades. Isso na época escandalizou os viseenses. E houve um dia em que o namorado deitou a língua de fora às senhoras que tanto falavam deles e que estavam na altura dentro da pastelaria”, lembra Fátima Santos. As memórias ultrapassam a passagem do tempo. “Eu e as minhas amigas tínhamos um acordo. Quando recebíamos o primeiro ordenado, pagávamos o lanche às amigas na Pastelaria Santos.”, lembra Ivone Alves.

De Bocage a Versailles
Na Rua Direita chamava à atenção “O Bocage”. Numa primeira fase existiu uma pensão e uma pastelaria, mais tarde foi um restaurante e um café. “Lembro-me de um pão muito pequenino mas saboroso. E costumava fugir da minha avó para vir comer gelados, aqueles de bola, sempre fui guloso e o sabor que ainda me lembro hoje é o de baunilha e chocolate”, recorda Ricardo Rebelo. Do Bocage há quem recorde um papagaio, em cima de uma máquina, que convidava quem passava a tentar a sorte, colocando uma moeda na ranhura.

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Ricardo Rebelo lembra o papagaio que marcava presença n O Bocage

Já atrás do edifício da Câmara Municipal abriu em 1986 a pastelaria Versailles. Nome com pompa e circunstância a fazer lembrar o famoso palácio francês. Carlos Oliveira trabalhou neste espaço durante oito anos. Confessa ter trabalhado muito, durante várias horas, mas as memórias que tem deste tempo e deste lugar compensam tudo. “Tínhamos o favo de mel, um bolo à base de mel que era aquilo que pediam mais. Havia ainda o ouriço que era um copinho em baunilha com doce de ovos, tinha uma amêndoa, ia ao forno e ficava queimado. E os suissinhos, à base de pão de ló, com recheio de chantilly e morangos frescos no meio”, lembra Carlos Oliveira.

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Carlos Oliveira antigo funcionário da Pastelaria Versailles

O Jorge e o António do Horta
Voltamos ao Horta. Numa mesa, a desfiar memórias, ao sabor de um café doçado com o açúcar dos tempos áureos, Jorge Rodrigues e António Correia lembram que o Horta fez parte das suas vidas. Sandra Alves, ao lado do pai, Jorge Rodrigues, emociona-se quando fala do cheiro do espaço. “Não consigo explicar. Remete mesmo para a minha infância, era o cheiro do Horta. O cheiro a torradas, o barulho da máquina de café, só quem esteve aqui é que sabe. É um cheiro que não sai de nós. Nunca mais irei esquecer. Se um dia tiver dinheiro, eu vou reabrir o Horta”, diz, enquanto limpa as lágrimas.

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De cheiros, sabores e, sobretudo, de memórias se fazem estes cafés históricos. Porque se uma cidade se faz de pessoas, estas constroem-se de memórias e de passado. Prestes a terminar de contar uma história cheia de capítulos felizes, Sandra é interrompida pelo seu pai. “Ainda hoje sou o Jorge do Horta”, diz, enquanto pega numa chávena antiga, aludindo a um passado que não sai da memória. O amigo, está distraído a olhar para o que resta da fachada do espaço que nasceu para marcar Viseu durante mais de um século. “Ah e eu sou o António, o António do Horta”.

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