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No Montemuro, ainda há pastores que não deixam morrer a Transumância

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 No Montemuro, ainda há pastores que não deixam morrer a Transumância
28.08.21
fotografia: Jornal do Centro
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 No Montemuro, ainda há pastores que não deixam morrer a Transumância
21.12.24
Fotografia: Jornal do Centro
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 No Montemuro, ainda há pastores que não deixam morrer a Transumância

“Eu nasci no meio disto”, diz-nos, num sorriso rasgado de orgulho. Carlos Ferreira, da freguesia de Pepim, sabe que é um regresso ao passado, este de voltar a juntar os gados na Serra do Montemuro. Ainda que por causa da pandemia, confesse, não se faça como se deveria. “Há dois anos trouxemos à beira de mil cabeças de gado, agora é o que há”, encolhe os ombros, apoiando-se no seu cajado, já gasto pelos relevos do monte. Apesar de ser pastor nos tempos livres, não esconde o gosto pela rota da Transumância ou, pelo menos, do que resta dela: “a malta é que vem ver, sempre bota os olhos ao bonito, enfeita-se o gado, é como ir a um casamento de gravata”, lança, entre leves gargalhadas.

Fez questão de nos dizer que os chibos que tinham enfeites eram dele. Não deixámos de reparar nos chocalhos avantajados que envolviam o ambiente. Estávamos no Montemuro . Quase que as lascas de granito se encavalitavam a nosso favor. Tudo, para nos mostrarem a paisagem que nos acolhia. À nossa frente, apenas a serra na sua forma mais pura e um retrato daquilo que foi a Transumância.

Com a mão esquerda a ajeitar o chapéu, Carlos contou-nos também que foi dos primeiros a participar na recriação da Rota da Transumância, após ter terminado em 1999. “Faço parte disto porque gosto se não… Sempre guardei ovelhas e às 6h00 da manhã estou sempre ao pé delas, antes de ir para o trabalho”, sublinhou, adiantando que tem cerca de 70 cabeças de gado e cerca de cinco vacas arouquesas.

Não deixamos de reparar no seu chapéu de palha que o acompanha para onde quer que vá com as ovelhas. Tem uma fita azul já esfarrapada que condiz com alguns dos enfeites. E que bonito este cenário. Por momentos, perdemo-nos nas suas palavras para as ver a percorrer o monte. “Noutros tempos, vinha lá o rebanho da Serra da Estrela da zona do concelho de Mangualde e Oliveira do Hospital. Vinham de lá até aqui a pé, andavam três, quatro, cinco dias até cá chegar. Passavam aqui dois meses”, explicou-nos, acrescentando que “para não deixar perder esse hábito, temos feito só um terço do caminho”.

E a conversa que já esperávamos: “os novos deviam começar, mas não vejo jeito dos novos começarem. Isto está a ficar crítico”, suspirou. “Começa a haver mais mato para os incêndios, se houvesse mais gado, menos mato havia. Se houvesse mais ajudas pela Câmara ou por outro lado qualquer até podia ser… Há poucos que gostam disto”, lançou, enquanto deitava um olho ao gado.

E os filhos? “Já não gostam como eu”. Ainda assim, quando chega o tempo da Rota da Transumância “gostam de vir ver e tal, mas amanhã quando o emprego volta, não andam atrás das ovelhas”, disse.

Era dia de fazer a descida até ao Vilar. Segundo as contas de Carlos, iriam demorar mais ou menos uma hora a “andar bem”. Mais à frente, Nelson Pinto, pastor de 74 anos, tinha outras contas: “daqui para baixo é duas horas e tal”, disse-nos, enquanto relembrava as outras edições da rota. “Está fraquinho, se não fosse a pandemia, isto estava forte porque havia aí 2 mil e tal ovelhas, isso é que dava. Era muito gado e agora só meia dúzia de ovelhas, é só para representar”, assinalou.

Será uma tradição que se irá perder no tempo? As respostas variam, mas todas têm esperança nas palavras. “Pode ser que alguns novos peguem nisto”, anseia Nelson.

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