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Joaquim Alexandre Rodrigues
A noite de 11 de março não é para esquecer, nem tem uma história, ela é em si mesma a história. Um produto de tensões que lhe são próprias, mas também o nível a que chegou a nossa política. Mas qual será o nosso papel? Em que momento da democracia nos encontramos? Claro que ela não está morta, mas sofreu evoluções profundas e passou a ser uma outra coisa para além do que conhecemos. O nosso olhar pode ver o que acontece noutros países europeus, no Mundo, nos EUA e isso mostra-nos o sentido da evolução da democracia. Há mesmo quem diga que na história da democracia podemos já estar numa outra coisa.
Assistimos na noite de 11 de Março a um momento em que a democracia trabalhou contra si própria. Os seus atores esqueceram- se de que a representavam e nos representavam. A democracia deu um golpe profundo em si mesma e pode deixar de ser ela. E numa democracia somos todos responsáveis. Dá que pensar!
Existe de facto um “Paradoxo do Poder”! Diz que assumimos o poder para fazer uma diferença com o que existe de melhor na natureza humana, mas depois caímos do poder devido ao que há de pior nessa mesma natureza. Para sairmos deste paradoxo precisamos de começar por clarificar o que para nós é o Poder? Pode optar-se pela versão de Maquiavel e então o Poder é a força, fraude, crueldade e violência estratégica! Ou pela ideia de que o Poder tem a ver com a força coerciva dos ditadores, dos negócios, dos colegas que são capazes de tudo para progredirem nas suas carreiras e dos que praticam o assédio moral para vingarem na vida! Mas pode seguir-se um outro caminho e o Poder começa por fazer uma diferença, o poder não é conquistado mas concedido, um equilíbrio entre a satisfação dos nossos desejos e a preocupação com os desejos dos outros!
O que pode acontecer e acontece com muita frequência são as chamadas seduções do Poder. Então perdem-se as aptidões que nos fizeram chegar a esse Poder e caímos nos abusos. A primeira consequência é a perda da confiança! O erro seguinte é confundir estatuto com poder e pensar que com esse estatuto pode-se tudo! A outra ainda é confundir Poder com Liderança, porque são duas coisas distintas! O Poder é exercido independentemente da vontade do outro e a liderança é aceite pelo outro. Na política pode haver liderança no interior dos partidos e na equipa governamental, mas o governo na relação com a cidadania exerce poder. Talvez o Presidente da República, quando inteiramente independente dos partidos, seja o único que pode exercer uma liderança de influência. Então o que está a falhar?
Os erros do sistema liberal fizeram do cidadão um consumidor passivo. O cidadão/ votante como consumidor não tem qualquer interesse na política e reage a quase tudo passivamente. Queixa-se como um consumidor quando o produto ou serviço não lhe agrada. Os partidos políticos seguem a mesma lógica de consumo e tentam satisfazer os seus eleitores. Fala-se muito de transparência nas decisões políticas, mas isso serve apenas por expor os políticos a tudo, até à sua vida privada. A intenção é produzir escândalos. O cidadão, como sempre, passa a ser um espetador que se vai escandalizando com tudo, mas depois esquece e segue em frente. Somos uma democracia de espectadores! E quanto ao papel da informação? Essa existe demais, mas não sei se para esclarecer ou para confundir? A transparência é um argumento de venda do digital, uma ideia de que o mundo só terá transparência quando for transformado em dados, em números e algoritmos. Quer dizer, quando for calculável e controlável.
Previa-se que a história ia acabar com a vitória do liberalismo, mas o sentido que leva hoje segue mais na direção do populismo e da autocracia. O homem que se segue também já não é liberal, acaba por aceitar tudo sem critério, desde que não lhe perturbem o seu fraco bem-estar. Esse homem anula-se para sobreviver e quase perde a qualidade de Ser Pensante. A linguagem da transparência é formal, operacional e nivela tudo pela média até tornar o homem mediano, nota 10. A criação e a liberdade não comportam transparência, porque o homem nem para si próprio é transparente, nem para a companheira/ o, nem para os amigos! Porquê tanta e tão rápida informação, quando está mais que provado que isso não leva a melhores decisões? Transparência e Verdade são duas coisas distintas!
O que nós estamos a construir e digo nós, porque é com o nosso voto que se está a construir deliberadamente uma sociedade frágil. Uma sociedade que constrói uma democracia que não conta connosco a não ser para votar. Cada um e todos controlamo-nos mutuamente. E porque fazemos isso? Porque somos incapazes da confiança e porque só a confiança cria espaços de liberdade de ação. Uma confiança que quando sei tudo é desnecessária e quando a transparência domina já não há espaço para a confiança.
Aquilo que nós construímos na nossa democracia é uma sociedade de desconfiança e de suspeita. Começa na formação dos governos, onde os futuros governantes não são escrutinados pelas suas competências, mas pela fidelidade ao chefe. Segue-se a dança das cadeiras nas Instituições do Estado e onde se repete a mesma necessidade de fidelidade e se demostra a desconfiança na estrutura dessas instituições. Tudo isto é feito e repetido por todos os partidos de governo. Com tanta desconfiança, fruto da insegurança própria, não é possível criar Comunidades e sermos uma Nação! E sempre que há um conflito resultado de tensões, isso acaba num problema sério, como é este que vivemos. O que é que acontece como solução? Jogamos sempre o jogo do “Procurem-se os culpados” e o problema parece resolvido…precisa só que o culpado seja o outro…
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Joaquim Alexandre Rodrigues
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João Martins, CEO Casa com Casa Viseu
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Joaquim Alexandre Rodrigues