Autor

Joaquim Alexandre Rodrigues

09 de 09 de 2023, 09:23

Colunistas

A Greenpeace é cruel

Artigo publicado na edição impressa do Jornal do Centro de 8 de setembro

1. A edição de 26 de Agosto do jornal Público trazia um artigo, com chamada à primeira página, com um título hiperbólico: “Ligação ferroviária Lisboa-Porto é a quarta melhor da Europa”.
“Pode lá ser?!” — hão-de ter pensado dez em cada dez leitores daquele jornal. Claro, houve ali um equívoco. Aquela peça jornalística baseou-se num estudo recente da Greenpeace que compara “preços de bilhetes de avião versus comboio”, em 112 rotas por essa Europa fora, e em lado nenhum é dito que a nossa Linha do Norte é a quarta melhor da Europa.
No caso português, aquele documento analisa preços de três ligações:
— Lisboa - Porto (avião: TAP, €37.46; comboio: CP, €15.50 a €25.25);
— Porto - Faro (avião: Ryanair, €19.21 a €32.87; comboio: CP, 70% mais caro);
— Porto - Madrid (avião: Ryanair, easyJet e Air Europa, média €21.88; comboio: CP mais Renfe, com transbordo em Vigo, média €59.14).
Este estudo demonstra que a aviação é muito prejudicial para o clima e muito injusta. É que toda a gente sofre os efeitos dos voos de “1% da população mundial” que são responsáveis “por mais de metade das emissões” da actividade aérea.
Infelizmente, “as instituições da UE e os governos” continuam a subsidiar e a tratar nas palminhas das mãos “as companhias aéreas e os aeroportos, ao mesmo tempo que encerram estações e linhas ferroviárias.”
Devia ser ao contrário. E o estudo dá um exemplo: se o milhão de passageiros que voa por ano entre Porto e Madrid fosse de comboio, eram menos 50.000 toneladas de gases com efeito estufa, o equivalente às emissões anuais da... “frota automóvel de Viseu”. Sic. Uma crueldade. Com tantos exemplos possíveis, a Greenpeace foi logo deitar sal numa ferida aberta na cidade de Viriato, que já teve comboios e lhos tiraram há mais de 30 anos.

2. Andei muitas vezes no Ramal do Dão e na Linha do Vouga. Em comboios a carvão e automotoras a diesel. Uma vez, na zona de Moçâmedes, os passageiros, eu incluído, tiveram de andar a acartar água para arrefecer o motor de uma automotora Allan.
Um passado que já lá vai. Tratemos do futuro. Façam a linha Aveiro-Viseu-Vilar Formoso, porra!