Autor

Jorge Marques

31 de 07 de 2021, 07:56

Colunistas

A saga do Mercado 2 de Maio

É público que os dois últimos presidentes da Câmara não morriam de amores um pelo outro e eram do mesmo partido

É um caso que deve ser estudado e junta argumentos psicológicos e outros. Vamos começar pela origem, pelas razões psicológicas! Sabe-se que no exercício de funções onde existe poder a mais e controlo sobre os outros, as pessoas podem ter os comportamentos alterados nas suas decisões.
É público que os dois últimos presidentes da Câmara não morriam de amores um pelo outro e eram do mesmo partido. O ponto alto desse desamor foi a recusa de Ruas receber o “Viriato de Ouro”, o maior galardão de Viseu, das mãos de A. Henriques. A memória de Ruas perturbava o executivo que lhe sucedeu. Dessas memórias a mais relevante e melhor situada era o Mercado 2 de Maio. Decidiram, simplesmente, arrasar a memória e construir por cima! Claro que havia muita gente que não gostava da obra do Siza, mas olhando-se à volta e a ter que a substituir, bem podia respeitar-se a paisagem urbana circundante ou avançar com qualquer coisa revivalista que nos trouxesse memórias ainda mais antigas. Esta é a proposta que ouço com mais frequência!
Mas não, inventa-se um Concurso de Ideias, três finalistas, ganha o segundo classificado; discute-se mal o projeto, sem se conhecer qualquer resultado da suposta auscultação pública; avança um outro projeto, agora com painéis solares, mais pesado e o custo quadruplicou; as contas da rentabilidade energética não são consensuais; a obra arranca em Março, em cima da pandemia. Com as pessoas em quarentena evita-se a contestação que nascia; com as pessoas fechadas começa a tortura para os vizinhos da obra. Tudo isto merecia mais ponderação e discussão, porquê a pressa?
Mas, eis que o homem da memória que se queria apagar regressa e quer ser de novo presidente! Admito que esta do Mercado 2 de Maio seja um teste difícil para o candidato Ruas, um jogo entre o possível e o impossível. Mas o impossível era dar este golpe no coração da cidade e isso aconteceu. Isto é, não há impossíveis quando se quer! Fica-nos a pergunta: Vamos falar disto na campanha eleitoral e ficar esclarecidos ou mudar o nome da obra para Mercado 1 de Abril?