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Correu pouco pacato o verão de 1653 na pacata cidade de Viseu.
Não se sabe ao certo se aquele estio teve quentura atmosférica, sabe-se que teve muita fervura social e que o bispo se deixou ficar por Trancoso para não ter de dar precedência cerimonial ao inquisidor Diogo de Sousa que se tinha instalado na cidade e que, entre 12 de Agosto e 10 Setembro, realizou 127 audições de “denúncias voluntárias” e de “testemunhas notificadas”, envolvendo ao todo 60 acusações diferentes.
Os denunciantes eram “quase todos cristãos-velhos, maioritariamente
homens” e os visados “cristãos-novos (e velhos), maioritariamente homens”.
Esta visitação inquisitorial foi funesta para muita gente e especialmente para Manuel João, o Bicho, cozinheiro do Seminário de Viseu, o único que foi condenado à fogueira e “relaxado em carne” no ano seguinte.
“Manuel João tinha 32 anos de idade, era cristão-velho e casado com Domingas João. Confessou ter praticado o pecado nefando, como paciente, com religiosos do convento de Maceira do Dão (onde fora cozinheiro) e com um filho de um cónego da Sé, entre dezenas de outros homens de Viseu e outras terras”. Confessou ainda que cometia “o crime de sodomia desde os 15 anos e o de molícies desde os 13, tendo sido sempre paciente.”
Chegados aqui, exactamente 370 anos depois deste negrume, dois pontos finais:
(i) li tudo o que aqui é contado na Viseupédia, num rigoroso e documentado texto, facilmente encontrável online, da autoria de Maria Teresa Cordeiro, intitulado “A visitação do Santo Ofício à Cidade de Viseu”;
(ii) as actuais lutas identitárias fizeram regressar os mecanismos de denúncia e os incentivos à delação, exactamente como fez o inquisidor Diogo de Sousa mal chegou a Viseu; e a verdade é que cada vez há mais bufos e chibos a delatarem pessoas, especialmente aos algoritmos das redes sociais; ainda não há fogueiras; pelo menos por enquanto, os wokes (à esquerda) e os fachos (à direita) ainda só se ficam pelos cancelamentos.
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