Autor

Miguel Silva

03 de 05 de 2021, 11:12

Colunistas

Adenóides e amígdalas: quando operar?

A síndrome da apneia do sono constitui a indicação cirúrgica mais frequente. Outras causas são as infecções de repetição

As adenóides e amígdalas pertencem a um grupo de estruturas de defesa imune localizadas na via aerodigestiva alta, no denominado anel de Waldeyer.?São estruturas linfóides que, nos primeiros anos de vida, contribuem para a constituição do nosso sistema imunitário, reconhecendo os microorganismos que nos rodeiam. Contudo, são também focos habituais de problemas como infeções.

Estes podem ser problemas transitórios, que desaparecem com o crescimento da criança, ou podem necessitar de uma intervenção. ?As queixas que mais frequentemente motivam a procura de uma consulta de Otorrinolaringologia são: ressonar (roncopatia), pausas de respiração durante o sono (apneia), respiração pela boca, voz nasalada, infecções de repetição e dificuldade na alimentação.

Perante estes sintomas é importante não adiar a procura do médico.?As adenóides e amígdalas, pela sua localização, quando se encontram hipertrofiadas (aumentadas) causam precocemente alterações quer na respiração quer na deglutição. ?As crianças podem adquirir fácies adenoideia: boca entreaberta, face alongada, olhar vago, lábio superior curto e dentes incisivos superiores proeminentes. Se não for tratada atempadamente, as crianças podem desenvolver alterações de crescimento da arcada dentária e da própria face.

A síndrome de apneia obstrutiva do sono na criança é provocada pela hipertrofia acentuada dessas duas estruturas. Durante o sono, por obstrução da via aérea, vai haver interrupções intermitentes da respiração e consequentemente a diminuição da oxigenação do sangue. Podem provocar hipersonolência diurna, dificuldade na concentração e na aprendizagem, irritabilidade, enurese nocturna e, nos casos extremos, pode haver perturbações de crescimento, hipertensão pulmonar e insuficiência cardíaca.

Tratam-se igualmente sede de infecções de repetição. A maioria por agentes víricos, outras vezes por agentes bacterianos com necessidade de toma de antibióticos.

Quando essas doenças são resistentes ao tratamento conservador devemos ponderar uma intervenção cirúrgica – a adenoamigdalectomia. Trata-se de uma cirurgia realizada sob anestesia geral, com uma duração média de 30 a 40 minutos, geralmente muito bem tolerada nesta faixa etária. ?A síndrome da apneia do sono constitui a indicação cirúrgica mais frequente. Outras causas são as infecções de repetição, amigdalite crónica caseosa e suspeita de neoplasia.?A complicação mais temida da cirurgia, embora seja pouco frequente, é a hemorragia pós-amigdalectomia, que poderá exigir uma reintervenção para o seu controlo.

Assim, após a cirurgia é obrigatório adoptar uma dieta fria e mole, evitar esforços físicos e fontes de calor nos primeiros dias.?Estudos mostram que a defesa imunitária conferida pelas amígdalas rapidamente é substituída por outros órgãos linfóides dispersos pelo nosso organismo.
Perante queixas ou dúvidas quanto à necessidade de cirurgia, não tenha receio de procurar um otorrinolaringologista que irá recebê-lo com toda a segurança e elucidar qual o melhor tratamento para cada caso.