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Já eram mais do que muitos os zunzuns sobre a Vivenda Aleluia, o centro de trabalho do PCP na Lourenço Peixinho, a avenida mais central de Aveiro, mas só passei a dar atenção ao assunto quando li o seguinte tweet do jornalista Luís Ribeiro:
“1974: PCP ocupa casa.
2006: Proprietário tenta demolir casa e construir prédio de 5 andares. PCP opõe-se (“valor arquitetónico”). Reprovado.
2014: PCP compra casa.
2019: PCP tenta demolir casa e construir prédio de 7 andares. Aprovado.
2023: PCP vende apartamentos por €490 mil.”
Este olha-para-o-que-eu-digo-mas-não-olhes-para-o-que-eu-faço do PCP, somado à reacção de alguns seus artistas e artolas, fizeram com que vários verificadores de factos fossem indagar o que se passava com aquela vivenda Arte Nova, feita pelo arquitecto Francisco da Silva Rocha nos anos de 1930, que, segundo Siza Vieira, devia ser de “conservação imperiosa” porque é “um expoente da arquitectura do seu tempo”.
De nada valeu. O PCP passou de okupa a inquilino, de inquilino a proprietário, e, nesta qualidade, em 2019, apresentou no município um projecto de demolição da vivenda e de construção, nos seu lugar, de um prédio de sete andares mais garagens.
No parlamento, o deputado Carlos Guimarães Pinto, da Iniciativa Liberal, gozou o prato: comparou a conhecida atracção fatal do PCP pelo imobiliário com a inoperância do governo e da sua ministra da habitação.
Uns artistas ainda tentaram articular que o PCP não tinha nada a ver com aquele camartelo e aquele cimento, mas, na gravação da sessão pública de 2 de Junho de 2022 da câmara de Aveiro, ouve-se o presidente Ribau Esteves, deliciado e irónico, a resumir os contactos com os comunistas: “tem sido muito bom trabalhar com o PCP, não é para habitação social que eles intentam fazer o prédio, mas, pronto, tem corrido tudo bem.” Já estão a ser vendidos ali apartamentos para entrega na segunda metade de 2025. Os T0 a 210 mil euros, os T3 a 490 mil.
Para terminar, é importante referir que, a partir de 26 de Junho deste ano, o PCP deixou de ser o protagonista daquela operação imobiliária, fez uma permuta com uma construtora, permuta de que, por enquanto, não se conhecem detalhes.
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Jorge Marques
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Eugénia Costa e Jenny Santos