Autor

Maria Rosa Melo

17 de 08 de 2022, 17:00

Colunistas

Bruxelas não tem de estar longe

Temos de repensar a nossa postura em relação aos assuntos locais, aumentando o interesse e participação cívica dos cidadãos, uma vez que se trata de um dever democrático, para podermos verdadeiramente alterar o nosso comportamento a nível europeu

A Europa está hoje, invariavelmente, presente no nosso quotidiano e a participação na construção do projeto europeu é absolutamente irrenunciável. A Europa precisa de todos. Cada vez mais, a União Europeia (UE) e o que se passa em Bruxelas é importante. Legislação, regras, compromissos coletivos partem do centro da Europa, tornando-se lei para todo o espaço europeu. Apesar das várias celebrações no passado dia 9 de maio, o que me preocupa realmente é o desinteresse do cidadão português. 

O afastamento deste, no que diz respeito às causas da UE, não é um caso isolado. Cá por casa, em matéria de participação cívica, este distanciamento é notório e, diga-se de passagem, preocupante. Tanto a nível nacional, como local. O envolvimento dos cidadãos para fortalecimento da nossa democracia participativa é cada vez menor. A política é vista como instrumento que produz resultados aparentemente imutáveis ou irrelevantes, apresentando-se, assim, como ineficaz para o português comum, não atendendo aos seus verdadeiros problemas. É, em simples conversas de café, como “Isso é com eles”, “Eles é que sabem", “Não me meto em política”, que se verifica esse desinteresse, remetendo, de certo modo, aos tempos da ditadura.

Se cada um de nós, no nosso contexto local, não participa na vida associativa da sua freguesia, do seu município e de Portugal; se não nos interessamos pela política local que nos é tão próxima, se não nos envolvemos na discussão e solução daqueles que são nossos problemas do quotidiano, como é que vamos ambicionar participar ativamente em algo tão “distante” como o projeto Europeu? Bruxelas não tem de estar longe. Apenas queremos que esteja longe; fomos nós próprios que criámos essa distância. Esta ideia reflete-se nos resultados do comportamento eleitoral. Nas palavras do chefe do gabinete do Parlamento Europeu em Portugal, Pedro Valente, há "algo paradoxal" na votação dos portugueses: demonstra-se uma grande admiração pela UE, no entanto esta ideia é contrariada com o sucedido, a título de exemplo, nas últimas eleições europeias de 2019, onde se verificou uma taxa de abstenção significativa no valor de 69,3%. 

A passagem a um maior envolvimento nos assuntos europeus não será repentina. Temos de repensar a nossa postura em relação aos assuntos locais, aumentando o interesse e participação cívica dos cidadãos, uma vez que se trata de um dever democrático, para podermos verdadeiramente alterar o nosso comportamento a nível europeu. As pessoas têm de estar no centro das preocupações políticas e, para isso, é necessário que todos os europeus contribuam ativamente para este projeto. Urge redefinir as nossas prioridades; só assim, por meio de um esforço conjunto, conseguiremos construir e moldar a nossa Europa de amanhã.