Autor

Jorge Marques

12 de 06 de 2021, 15:22

Colunistas

Cidade do Malmequer

Um lugar onde elas deviam poder correr livremente, imaginar a vida dos nossos ancestrais e aprender uma história viva

Entre outros mimos chamamos à nossa terra “Viseu Cidade Jardim”! Isso não é falso, mas também não é completamente verdadeiro.

A imagem que eu tenho da cidade é a de um Bem-me-quer/Mal-me-quer. Uma pétala é Bem, um belo jardim e a outra é Mal, uma joia de arquitetura abandonada e á espera que lá plantem um mamarracho.
Com tal destruição, começa a falar-se de crimes contra o “Direito de Paisagem” e a questionar os arquitetos! É que eles não teriam apenas que responder às exigências dos clientes, mesmo que fossem as autarquias. As cidades são habitadas por pessoas, são produtoras de cultura e não se está a respeitar essa relação e esse direito. A cidade não é o quintal dos autarcas eleitos e nem tem que se sujeitar ao seu gosto. A cidade já existia antes e continuará depois deles.

A minha geração que deixou Viseu em 68, uma boa parte saiu zangada com a cidade, porque era pequena na ambição, abafada, autoritária, madrasta no emprego sem cunha e preocupada apenas com as aparências! Se o Américo Thomaz visitava a cidade eram colocados painéis floridos para tapar as misérias e degradação. Já nesse tempo Viseu queria ser um jardim aos olhos do Presidente da República!

Uma Cidade-Jardim é mais que um jardim, porque também é cidade e feita de gente! A sua beleza também está na diversidade das pessoas, porque não se planta um jardim com a mesma e única flor! A força e a riqueza da diferença não é um valor bem cultivado em Viseu. Eu e muita gente ficámos ofendidos quando chamaram á nossa terra Cavaquistão, como se fossemos um rebanho de carneiros. Parece que alguns gostaram e muitos acharam graça!

A Cidade-Jardim está também nas pedras seculares do Centro Histórico e que estão a ser violentadas pela poluição automóvel e outros maus-tratos. Aquelas pedras são flores encantadas, o berço, o palco que se deve mostrar às crianças…Um lugar onde elas deviam poder correr livremente, imaginar a vida dos nossos ancestrais e aprender uma história viva! E a gente poder dizer-lhes, aqui nasceu Viseu! São as crianças que devem brincar nesse Jardim de Pedra…