Autor

Joaquim Alexandre Rodrigues

21 de 08 de 2021, 08:15

Colunistas

Comida nas escolas

1759 — primeira expulsão dos jesuítas. 2021 — segunda expulsão dos jesuítas.




O Despacho n.º 8127/2021, de 17 de Agosto, redigido e mandado publicar no Diário da República pelo Gabinete do Secretário de Estado Adjunto e da Educação, trata da comida que se pode vender nos bufetes e nas máquinas de venda automática das escolas portuguesas.
Com este diploma, o secretário de estado João Costa tem um objectivo virtuoso: ele quer que os alunos cresçam para cima e não para os lados.
Por isso e para isso, este virtuoso despacho faz uma lista do que é proibido vender à juventude esfaimada:
— nada de “pastelaria, designadamente bolos ou pastéis com massa folhada e/ou com creme e/ou cobertura, como palmiers, jesuítas, mil-folhas, bola de Berlim, donuts, folhados doces, croissants ou bolos tipo queque”; 262 anos depois, nova expulsão dos “jesuítas” das escolas portuguesas (João Costa é um novo Marquês de Pombal, brincou alguém no Facebook).
— os “salgados, designadamente rissóis, croquetes, empadas, chamuças, pastéis de massa tenra, pastéis de bacalhau ou folhados salgados” são também exilados para os cafés à volta das escolas;
— para além da razia que faz na pastelaria e nos salgados, este index alimentar tem ainda mais quinze alíneas; a última delas proíbe os gelados (até os Pernas-de-Pau do Sporting, brincou alguém no FB).

Os burocratas do ministério da educação são tão exaustivos que até cansa. Não se julgue que eles estão só ali para retirar comida. É verdade que eles exterminam os “bolos tipo queque”, mas, ralados com a raleza das sandes, recheiam-nas com “alface, tomate, cenoura ralada e couve roxa ripada” por cima e por baixo do “fiambre com baixo teor de gordura e sal, preferencialmente de aves”. Mas, atenção!: nem pensar em “molhos, designadamente ketchup, maionese ou mostarda.”

Agora a sério:
— merece aplauso esta preocupação das autoridades escolares com a qualidade da comida nas nossas escolas e com os problemas de obesidade infantil e juvenil;
— não merece aplauso nenhum esta fúria regulamentadora, feita por rebanhos de burocratas inúteis instalados em Lisboa, que se julgam capazes de prever tudo e de mandar em tudo;
— estas matérias há muito que deviam ter sido deixadas ao auto-governo das comunidades, às autarquias e às direcções das escolas;
— despachos como este só têm uma utilidade: dão matéria para memes e gozo nas redes sociais.