Autor

Joaquim Alexandre Rodrigues

15 de 01 de 2022, 09:07

Colunistas

De controlo remoto na mão

Uma mão no telecomando, a outra a tuitar no telélé

1. Resolvido o problema das doze passas e dadas as boas-vindas ao ano novo, o país político entrou logo em campanha eleitoral para as legislativas de 30 de Janeiro, semeando outdoors nas rotundas e debatendo nas televisões. Tem sido um fartote de “duelos” entre líderes partidários, seguidos de horas e horas de conversa nos media e nas redes sociais.
Já se pode fazer uma síntese do que aconteceu nas dezenas de debates entre os vários líderes partidários:
— à esquerda, depois de terem derrubado a segunda geringonça, a única coisa que o Bloco e o PCP têm para oferecer aos portugueses é... uma terceira geringonça com Pedro Nuno Santos; isto é, não têm nada, esvaziaram;
— à direita, o PSD, a IL e o CDS deram um “chega-para-lá!” ao Chega, disseram-lhe em Lisboa o que também lhe deviam ter dito em Ponta Delgada: “não queremos nada com vossências, vossências depois, se tiverem coragem, votem ao lado da esquerda para nos derrubar.”

2. Na quinta-feira, as televisões gastaram todo o dia a antecipar o grande “dérbi” do serão entre António Costa e Rui Rio. Uma delas até pôs um relógio em contagem decrescente para zerar quando chegasse o grande momento.
Este frenesim mediático é compreensível. Um daqueles dois vai ser o próximo primeiro-ministro, isto é, vai estar no lugar com mais poder em Portugal.
É que, com o correr dos anos, a terceira república transformou-se num presidencialismo de primeiro-ministro. Os PM aumentaram o seu poder, ao mesmo tempo que o parlamento enfraquecia, escrutinava cada vez menos os governos, prescindia até dos debates quinzenais. Acontece o mesmo com os presidentes da república que, durante os primeiros mandatos, como só pensam na sua reeleição, fazem os fretes todos ao primeiro-ministro de turno. No caso de Marcelo Rebelo de Sousa, o apagamento continuou até após a sua reeleição, por causa da pandemia e da fragilidade da segunda geringonça.

A verdade é que este debate pôs a campanha eleitoral noutro patamar. Antes, não se conheciam diferenças políticas entre os líderes do PS e do PSD. Há duas semanas, na Rádio Jornal do Centro, cheguei a afirmar que via mais diferenças entre Pedro Nuno Santos e António Costa do que entre este e Rui Rio.
Agora o panorama mudou. Depois daqueles setenta e cinco minutos, ficou a saber-se o que separa os dois maiores partidos portugueses em matéria de economia, de salário mínimo, de impostos, de saúde, de serviços públicos, de justiça, da TAP.