Autor

Jorge Marques

21 de 05 de 2022, 11:05

Colunistas

Direito ao Futuro

A inteligência e a oportunidade deste mundo digital foi descobrir que o comportamento humano estava desaproveitado e a partir daí criar uma economia de escala

Aquela ideia da moeda boa e da má já não é bem assim, agora a mesma moeda tem essas duas faces contraditórias. Falo sobre o Direito ao Futuro num mundo cada vez mais digital. Não há dúvida que o espaço público e individual foi modificado! Se antes a sociedade era apenas a audiência, agora tem voz, existe diálogo e o espaço da casa comum é maior. Descentralizou-se o debate e há tendência para uma vida em grupo que fuja á autoridade central. A mediação que era feita por algumas instituições foi reduzida e apareceram os gigantes digitais num espaço desregulado. O risco é ver o Espaço Público privatizado e ser precisa uma regulação, também ela inovadora.

Aparentemente parece haver dificuldade, a coisa surge como inédita, mas não é bem assim! Há um paralelismo entre o que aconteceu na Era Industrial e o que se passa hoje. Se a Era Industrial explorou os recursos naturais, o Digital explora os comportamentos humanos.

Fazem isto da mesma maneira, um através da intensificação contínua dos meios de produção e o outro dos meios de modificação comportamental. O brilhantismo de uma foi feito á custa da natureza e que agora ameaça a Terra, o clima, a vida (9 milhões de mortes/ano/poluição). A outra faz-se á custa dos comportamentos humanos e pode ameaçar-nos. Da mesma maneira que foi tardia a regulação do meio ambiente, começa a parecer tardia a regulação sobre o mundo digital, com a agravante de este ser um movimento mais rápido.


A inteligência e a oportunidade deste mundo digital foi descobrir que o comportamento humano estava desaproveitado e a partir daí criar uma economia de escala. Foi fazer a leitura do passado e do presente e construir um futuro sob a forma de previsão de comportamentos futuros. Até aqui tudo bem! O problema só começa quando esses comportamentos podem ser moldados de acordo com alguns interesses. Quando o nosso futuro já não é um exercício da nossa vontade, o Direito ao Futuro deixa de existir.

A Civilização Ocidental institucionalizou o contrato como uma criação partilhada. Por isso a Era Digital precisa de o construir e ligar o seu capital ao projeto social e humano, mas no sentido de uma evolução conjunta e de acordo com as duas vontades…