Autor

Jorge Marques

18 de 05 de 2023, 12:02

Colunistas

Entre o Poder e a Liderança

A confiança política não é tudo, também é precisa a competência política, um conjunto de outras competências específicas e o conhecimento das realidades onde se vai atuar. Os partidos não têm conseguido captar pessoas com esse perfil, trazê-las para a política e por isso já nascem fragilizados

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A nossa cultura entranhou a confusão entre estatuto, poder e liderança. Quando o poder é dado apenas por via de um cargo, ele perde-se quando cessa essa atribuição. Esta confusão acontece muito na vida pública e por isso diz respeito a todos nós. Estamos hoje a assistir a um espetáculo pouco edificante de lutas pelo poder, uns querem mantê-lo a todo o custo e os outros conquistá-lo a qualquer preço. Quando falo da nossa cultura é porque fomos educados para obter cargos, títulos e fazer carreira. Tudo isso, mesmo que aparente ou feito com base no vale tudo. Quando assim se vive, o fim de um estatuto é doloroso. São públicos os exemplos dos que sentem que o seu tempo está a chegar ao fim e da ansiedade dos seus substitutos.

Nada disto tem a ver com liderança, porque essa, como ponto de partida, só existe quando é exercida. Nela não basta o título, porque é preciso fazer acontecer. Na liderança trabalha-se com uma inteligência distribuída e na fé convicta de que as sociedades só vencerão com gente bem preparada, empenhada e envolvida nos problemas e soluções. Está aqui a grande falha na formação dos governos. A confiança política não é tudo, também é precisa a competência política, um conjunto de outras competências específicas e o conhecimento das realidades onde se vai atuar. Os partidos não têm conseguido captar pessoas com esse perfil, trazê-las para a política e por isso já nascem fragilizados. A nossa política, toda ela, está a precisar de gente capaz de pensar o país, comunicar as suas ideias, criar confiança e levar as coisas até ao fim. Nas agendas partidárias faltam Sociedade e o País Real, falta mais liderança e menos poder.

A política parte em falso quando confunde intenção com decisão. Intenção é a expressão de um desejo, que pode até ser transformado em decreto. Mas decisão (de caedere) é não cortar, deixar fluir e levar a intenção até ao fim. O que temos andado a discutir e a valorizar são meras intenções e não decisões. Depois não responsabilizamos as Instituições Públicas, porque até os mais pequenos erros de cada uma delas é centralizado num governo que muda. Mas são essas Instituições que permanecem no tempo e são os suportes do Estado! A decisão, liderança e responsabilidade, devem ser distribuídas para os lugares onde os problemas acontecem e são precisas as soluções, porque é aí que existe o conhecimento! Mas continuam erradamente centralizadas e ao sabor do momento…