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As esquerdas e as direitas radicais têm convergido cada vez mais: ambas são a favor de soluções “patrióticas”, ambas são contra a União Europeia, ambas querem mais estado na economia.
Durante a crise das dívidas soberanas e dos sarilhos na Grécia e em Portugal esta sintonia foi muito visível. Agora, depois da invasão da Ucrânia pela Rússia, isso ainda é mais evidente: a “fachista” Marine Le Pen e o “esquerdolas” Jean-Luc Mélenchon, o “nacionalista” Orbán e o “progressista” PCP, está tudo a trabalhar por Putin e a minar a UE, tudo contra a NATO e a Ucrânia, tudo contra os valores liberais do Ocidente.
Só havia uma diferença que ainda nos permitia distingui-los: as esquerdas defendiam as minorias e os imigrantes, as direitas não.
Ora, no início desta semana, houve um abalo tectónico dentro da esquerda alemã que começou a esbater esta diferença: a deputada Sahra Wagenknecht, com presença assídua nos talk-shows televisivos, anunciou que ia fazer um partido novo à sua imagem e semelhança. Sondagens recentes mostram que 20% dos alemães poderão votar neste novo partido. Anunciam-se estragos nas próximas eleições europeias.
É claro que Sahra Wagenknecht continua a propor as políticas típicas do seu quadrante ideológico — fim do apoio à Ucrânia e das sanções à Rússia, travão nas políticas ecológicas, investimento em infraestruturas, aumento dos rendimentos dos trabalhadores. O “nosso” Paulo Raimundo e a “nossa” Mariana Mortágua não andam longe disto.
Onde Sahra é inovadora é quando, pela primeira vez nas esquerdas, começa a fazer um ataque frontal ao elefante no meio da sala cosmopolita da Europa: é contra a política de portas abertas na imigração.
Para além disso, ela critica com dureza os “esquerdistas de estilo de vida”, as criaturas que acreditam que mudar a gramática melhora o mundo, que dizer “todes” em vez de “todos” é revolucionário. Basicamente, Sahra malha no desprezo dos wokes pelas classes trabalhadoras. Isto é, o novo partido de extrema-esquerda de Sahra Wagenknecht vai tentar tirar votos ao partido de extrema-direita “Alternativa para a Alemanha”.
Para Vladimir Putin é igual: um voto radical à esquerda ou à direita dá no mesmo.
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