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Está no bolso

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24.12.22
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 Está no bolso

Há cinco semanas fiz aqui uma pequena visita ao peculiar mundo dos rentistas que já não procuram os lucros mas sim as rendas que o Estado lhes vai pagando depois de se terem apropriado do comum — a água, o vento, o sol, os solos, os subsolos, as estradas, os hospitais — através de concessões, parcerias público-privadas, outras contratualidades operadas pela grande advocacia dos negócios que se mexe à vontade nas portas giratórias entre a política, as empresas e a “justiça” arbitral.
É um mundo opaco, que vale milhares de milhões de euros todos anos, cujas dinâmicas escapam aos media, mesmo aos especializados.
Os assuntos dos rentistas costumam ser resolvidos na discrição dos gabinetes. Só que, este ano, tal não aconteceu com o aumento das portagens das auto-estradas. O caderno reivindicativo dos concessionários foi trombeteado na comunicação social. Perante tanta vontade de ir ao pote, propus aqui, em 19 de Novembro, um “teste do algodão” nestes termos:
(i) os rentistas querem que as portagens subam 10% (a Ascendi referiu uns especiosos 10,44%);
(ii) o aumento dos salários no próximo ano vai ser à volta de 5,1% (valor acertado em concertação social);
(iii) as pensões mais pequenas sobem 5%, as médias 4,07% e as grandes 3,53%.
Perante estes números, é fácil fazer o teste do algodão ao governo:
— aumentos das portagens na ordem dos 4 a 5%: algodão limpo;
— aumentos entre 6 a 7%: algodão sujo;
— acima disso: algodão encardido, governo completamente no bolso dos rentistas
.

Passado um mês, já há condições para fazer o teste. Nesta quinta-feira, a três dias do Natal, o ministro Pedro Nuno Santos veio pôr uma prenda no pinheiro dos rentistas das auto-estradas, anunciando um aumento das portagens em três parcelas: 4,9% (pagos pelos automobilistas), mais 2,8% (pagos pelo Estado), mais 0,4% (diluídos por quatro anos).
É uma adição simples: 4,9% mais 2,8% mais 0,4% fazem 8,1%.
Resultado do teste: o algodão de Pedro Nuno Santos ficou muito encardido, o governo está no bolso dos rentistas.

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