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Feira de S. Mateus — duas inaugurações

 Feira de S. Mateus — duas inaugurações
06.08.22
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 Feira de S. Mateus — duas inaugurações

1. Depois de dois anos com a sombra da peste, a Feira de S. Mateus regressa este ano à normalidade e vai ter a sua mais longa edição de sempre: vão ser 49 dias, de 4 de Agosto a 21 de Setembro.
Devo confidenciar que, antes de começar a escrever este Olho de Gato, andei a passear no recinto na altura em que ela estava a ser inaugurada pelo Presidente da República mas, infelizmente, não vi a comitiva oficial com os seus fatos escuros e gravatas.
Nas redes sociais já há fotografias de povo com Marcelo Rebelo de Sousa nesta sua décima nona visita ao certame. Por enquanto, continuo a pertencer à minoria de portugueses que ainda não tem uma selfie com o PR. Pode ser que se resolva isso quando ele cá voltar de novo, como prometeu, mais para o fim deste querido mês de Agosto.

2. Quando faleceu Atílio dos Santos Nunes, ex-presidente da câmara de Carregal do Sal, prestei-lhe uma homenagem no blogue Olho de Gato. Nesse texto contei o que aconteceu na inauguração da Feira de S. Mateus de 2001, no longínquo e trabalhoso ano em que fui candidato à presidência da câmara de Viseu. Vou partilhá-lo agora aqui:
No virar do século, conheci Atílio Santos Nunes, então ele a presidente da câmara de Carregal do Sal, pelo PSD, e eu a vereador em Viseu, pelo PS, e mais uns fazeres na área do ensino recorrente que me faziam ir àquele concelho com alguma regularidade e encontrar-me com aquele competente e bem-humorado autarca.
Competente, sim: Atílio dos Santos Nunes conseguiu que o seco Cavaco Silva lhe fizesse uma auto-estrada entre Canas de Senhorim e Carregal, uma auto-estrada sem princípio, nem fim, nem portagem, só conveniências para quem lá passava. Foi o início do IC12 que, depois, muito depois, seria prolongado até ao IP3, em Santa Comba Dão, falta ainda o troço de Canas a Mangualde. Aquela rodovia devia adoptar oficialmente a sua designação oficiosa: “auto-estrada do Atílio”.
Bem-humorado, sim, e com uma extrema habilidade para derreter o coração dos decisores políticos e levar a água ao seu moinho. Para início de qualquer conversa, Atílio apresentava-se dizendo: «sou um pedreiro com a quarta classe feita à noite.» Tomaram muitos professores doutores chegar-lhe aos calcanhares.
Em 2001, na agonia do guterrismo, no PS nacional ferviam as traições e as facadas nas costas. No PS-Viseu, idem, idem, aspas, aspas. Nesse ano eu fui candidato socialista à câmara de Viseu e, entre Maio e Dezembro, levei a minha dose.
Uma delas foi no dia 14 de Agosto, dia na inauguração da Feira de S. Mateus, em que o corta-fita tocou a um ministro socialista que, no discurso inaugural, fez uma oratória a hiperbolizar as façanhas do dr. Ruas do princípio ao fim. O ministro rosa arrebicocorou-se todo em panegíricos ao edil social-democrata. Foi um convite do princípio ao fim ao voto laranja.
Eu, o esfaqueado, mantive-me impassível. Já sabia o que a casa gastava. Embora não tenha batido palmas no fim, era o que mais faltava.
Seguiram-se os “shake-hands” cerimoniais, a descida luzidia dos vips na notável e bela escadaria da câmara municipal, onde, no tecto, avultam os retratos fabulosos de vinte e quatro viseenses ilustres.
Ainda antes das duas escadas se fundirem numa, o presidente Atílio virou-se para mim e disse e toda a gente à volta ouviu: «com socialistas assim, estás fodido, Alex!»
Eu estava fodido. Sabia disso desde o momento em que aceitei aquela empreitada. Sorri-lhe. Quando nos despedimos, naquele dia, dei-lhe um abraço forte de gratidão.

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