Autor

Joaquim Alexandre Rodrigues

13 de 04 de 2024, 10:00

Colunistas

Feira Sem Mateus

Artigo publicado na edição impressa do Jornal do Centro de 12 de abril

joaquim alexandre

“Há que enterrar os mortos e cuidar dos vivos”, terá determinado o Marquês de Pombal após o terrível terramoto de 1 de Novembro de 1755, embora isso não seja certo, há quem diga que a frase não é dele mas sim de Pedro de Almeida, o primeiro Marquês de Alorna.
Certo é que, dois anos e 79 dias depois do terrível abanão, no dia 18 de Janeiro de 1758, Sebastião José de Carvalho e Melo, para melhor poder cuidar dos vivos, quis saber como é que eles viviam e, para isso, lançou um inquérito às paróquias do reino para saber dos “frutos da terra que os moradores colhem com maior abundância”, e as serras e os rios de cada freguesia, bem como se tinham “moinhos, lagares de azeite, pisões, noras” e demais informações a que os abades e os curas das freguesias responderam com maior ou menor detalhe.
Está tudo guardado em 43 preciosos volumes na Torre do Tombo, uma informação consultada por Alberto Correia para a sua magnífica “Carta Gastronómica de Viseu”, editada pela excelentíssima câmara municipal, de onde retiro as citações deste Olho de Gato.
O cura Nicolau António de Figueiredo explicou ao Marquês de Pombal que, em Viseu, “no campo da Ribeira se faz todos os anos aquela celebrada feira franca de S. Mateus, a vinte e um de Setembro e chega a durar perto de quinze dias.”
E outro abade, de seu nome Manuel Lopes de Almeida, disse mais: “a feira franca dura quatro dias francos, além de mais quinze dias, antes e depois dos quatro francos” e que nela “se acham grande número de homens estrangeiros e contratadores de todas as terras da Europa não só de Espanhóis por serem vizinhos, mas de franceses, aragoneses, napolitanos, milaneses e genoveses, imperiais ingleses e olandeses”.
Bons tempos aqueles em que o bom São Mateus ainda não tinha sido expulso da feira a que dá o nome. Como se sabe, este ano foi decidido terminá-la duas semanas antes do dia de S. Mateus.

Duas perguntas a Pedro Alves, o presidente da Viseu Marca, organizadora do certame:
(i) A Feira que já foi de S. Mateus sempre teve bons superávites; o que mudou nos últimos anos para ter deixado de os ter?
(ii) Foi eleito em 10 de Março; pretende acumular o trabalho de deputado com a presidência da Feira Sem Mateus?