Rimas sociais, um podcast que dá voz às causas sociais urgentes através…
De 23 a 27 de junho, a Paviléctrica, em Viseu, viveu a…
Cada imóvel é um novo desafio e cada contacto uma oportunidade para…
7 de Outubro de 1975
Sento-me no silêncio e espero.
Enquanto a suavidade da fruta
cresce nas árvores do desejo efémero.
Acontece-me então nem sei o quê,
é uma alegria que me inunda sem porquê,
e nas águas do dia brinco com o infinito.
Louco me aqueço nas pedras do caminho,
sem nome, sem casa, sozinho.
Parece que carrego a noite nos dentes do desespero e que mais não faço que pisar frutos podres nos corredores do tédio. Por entre lâminas afiadas corro, cercado de venenosas flores, de nuvens em ferida, de mentiras, e as mãos já se perderam da festa do corpo em lume. No sonho mora a verdade, digo, ou és tu que dizes, já não sei. Para lá partimos, sem bagagens, apenas uma flor no olhar e um velho chapéu de palhaço. E nas areias um jeito leve desenhamos de pensar a vida, de olhar as pedras, de inventar o coração de um ventre. Desenhamos a geometria de uma viagem, Fátima, enquanto devagar tecemos os fios do amor.
Tanto busco a serenidade nestes dias de ausência. Nas mãos tenho um sol a crescer, com ele incendeio o altar da memória do teu corpo. Descalcei-me à entrada do templo do nosso amor, caminho agora em espelhos de fogo, impregnado de uma outra dimensão da loucura, enquanto largamente me resigno à fragilidade do ser. Irei ao encontro das origens, ao encontro do sono das florestas onde guardámos a arca das nossas dádivas. Por agora, espero, desamparadas as mãos que carregam as facas doentias da noite. E caminho, frágil, mas caminho, com os dentes a morder a solidão, sem respostas, a escutar os gritos lá fora que são o eco dos de dentro de mim. Imagino: preciso urgente de um telegrama azul.
Não penso no amor, é o amor que pensa em mim. Entendes, Fátima? Em que esquina do tempo nos perdemos? Preciso encontrar-te, hoje, agora, se não todo o sentido da vida se perde, todos os rios se desviam dos leitos, os continentes partem à deriva, as árvores desenterram as raízes e dos buracos desocupados sairão fantasmas loucos de luxúria e fome de sangue. Fantasma é a minha alma louca por ti, esfomeada do teu corpo e da luz que dele se irradia. Faço tudo que me mandam, mas nada faço do que me manda o coração. E o que este me pede, o que este me exige são as rosas que despontam no teu regaço, o jardim noturno no centro do teu corpo.
por
Joaquim Alexandre Rodrigues
por
Eduardo Mendes, coordenador de Ortopedia no Hospital CUF Viseu
por
Laura Isabel B. Nunes
por
Sofia Moreira de Sousa