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IP3, IP5, a mesma asneira

 IP3, IP5, a mesma asneira
15.07.23
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Acaba de ser publicada uma Portaria que autoriza a repartição dos encargos de “duplicação/requalificação” do troço no IP3 entre Viseu e Santa Comba Dão pelos anos 2024, 2025, 2026 e 2027. Apesar dos foguetes que estão para aí a ser lançados, lembremos que, para já, o que temos é só um papel assinado por dois secretários de estado, pode ser que seja desta, pode ser que não.
Há quinze anos que há pronunciamentos de políticos sobre aquela ligação, quinze anos de treta de sucessivos governos. Relembremos três episódios deste mau teatro com que Lisboa nos tem sucessivamente empaliado:
Episódio 1 — 28 de Março de 2008: luzidia cerimónia em Mortágua, onde o PM José Sócrates fez um solene lançamento da autoestrada Viseu-Coimbra (e mais umas outras, por exemplo, o IC12 entre Canas de Senhorim e Mangualde) e o então ministro Mário “Jamé” Lino assegurou que a obra ficava pronta em 2011; viu-se;
Episódio 2 — 7 de Agosto de 2015: não menos luzidia cerimónia noutro local de Mortágua, onde, enquanto o PM Passos Coelhos lançava a “Via dos Duques” (nome diferente, mesma ligação), um seu assessor soprava aos jornalistas que as obras iam começar no segundo semestre do ano seguinte; viu-se;
Episódio 3 — 4 de Maio de 2018: nada luzidia cerimónia em Tondela, desta vez sem a presença do PM António Costa, mas com um seu ministro chamado Pedro Marques que apresentou três cenários para a ligação de Viseu-Coimbra. Repare-se: a coisa era tão teatral que até tinha cenários. Nesse mesmo dia, descrevi-os aqui no Olho de Gato:
(Cenário A) duplicação de 85% do IP3 (75 km, 134 milhões de euros);
(Cenário B) duplicação de 50% do IP3 e autoestrada paralela na outra metade, tudo portajado (82 km, 255 milhões);
(Cenário C) autoestrada paralela com portagens, ficando o IP3 como alternativa gratuita (82 km, 302 milhões).
E acrescentei: O “cenário” A é péssimo, o B é metade péssimo e metade bom, o C é bom. O ministro, ao que se diz, vai pelo péssimo, isto é, o mais barato.
Foi mesmo isso que aconteceu. Lisboa, perante um buraco sem fundo chamado TAP, gasta à fartazana; já quando se trata de melhorar a vida de quem vive na “província”, transforma-se num Scrooge implacável.
Passaram 15 anos sobre a “cena” de Sócrates no IP3. Passaram 8 anos sobre a “cena” de Passos no IP3. Passaram 5 anos sobre a “cena” do ministro de Costa no IP3.
Com Portaria, sem Portaria, a verdade é que não se sabe bem quando estará pronta aquela espécie de “autoestrada” que vai ser feita em cima do IP3 (2027? 2030? 2035?). Não se sabe bem quantos anos vamos andar lá, em pára-arranca, a partilhar caminho com máquinas amarelas e homens de capacete, tal qual como nos aconteceu no IP5.
Uma coisa sabemos: a seguir, mais tarde ou mais cedo, lá virá mais uma vez a conversa sobre o “utilizador-pagador”. E, a seguir à próxima bancarrota, lá teremos a via verde a fazer “piiiii!” dentro dos nossos carros sempre que passarmos debaixo dos pórticos.

 IP3, IP5, a mesma asneira

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