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Josué Carvalho

17 de 09 de 2022, 08:25

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Lua Cheia de oportunidades

O fascínio pelo desconhecido que a exploração espacial carrega leva, invariavelmente, a novas descobertas científica

Josué Carvalho

"Um pequeno passo para um homem, um salto gigantesco para a humanidade". Foi assim que há 53 anos, a 20 de julho de 1969, Neil Armstrong mudou para sempre a história da humanidade ao ser o primeiro ser humano a pisar solo lunar. Cinco décadas depois da missão Apollo, a NASA planeia o regresso à lua com a missão Artemis (a irmã gémea de Apollo na mitologia grega), que levará a primeira mulher e primeira pessoa de cor à Lua. E porquê voltar agora? Segundo a NASA, para reacender a paixão pela descoberta, por ser uma oportunidade para a economia mundial e ultimamente inspirar gerações futuras.

O fascínio pelo desconhecido que a exploração espacial carrega leva, invariavelmente, a novas descobertas científicas que no futuro serão utilizadas para mudar a forma como vivemos na Terra, salvar vidas e melhorar a sustentabilidade ambiental. Regressar à Lua será o primeiro passo para realizar o antigo desejo de visitar o planeta Marte. Um dos objetivos da missão Artemis será desenvolver e estabelecer a tecnologia e logística necessárias para uma missão tripulada a lugares mais longínquos do Universo, como é o caso do planeta vermelho. Mas a Lua também tem interesse científico por si só. As missões anteriores revelaram muito sobre a origem do satélite natural através da análise de rochas lunares, sugerindo que a Lua se possa ter formado a partir de detritos da colisão de um objeto espacial com a Terra há mais de 4 biliões de anos. Agora, os cientistas estão interessados em estudar o gelo presente nas crateras lunares e o que este nos dirá sobre a história do sistema solar. No futuro, o gelo lunar poderá ser utilizado para estabelecer bases permanentes na Lua uma vez transformado em água potável, oxigénio ou combustível para naves espaciais.

Além do gelo, há outros recursos naturais na Lua que podem ser explorados e utilizados para sustentar as bases permanentes que ali se querem estabelecer. Recursos como metais para construção e componentes eletrónicos ou hélio-3 aprisionado em rochas e solo para alimentar energia nuclear são alguns dos exemplos daquilo que poderá ser o futuro da mineração espacial. Uma vez possível, a mineração espacial resolveria o problema do envio de recursos para o espaço – enviar 1 quilograma para a órbita da Terra custa cerca de 3500€. A somar aos avanços científicos descritos, existem os benefícios colaterais das missões espaciais. Muitas das comuns tecnologias que hoje utilizamos no dia a dia foram resultado da corrida ao espaço: próteses, bombas de insulina, fatos de combate a incêndios ou painéis solares são alguns dos exemplos dos avanços científicos que resultaram da exploração espacial.
Além do avanço científico, a Lua oferece oportunidades e benefícios económicos significativos e inspiração para que as pessoas cheguem mais longe e mais alto. A missão Artemis vai desenvolver fortemente a economia espacial e lunar, promovendo novas indústrias e tecnologias, apoiando o crescimento do emprego, e incentivando a procura de recursos humanos altamente qualificados. Estima-se que a NASA invista cerca de 100 biliões de dólares para colocar pessoas a andar (na verdade, pular) na lua novamente. Este investimento traduz-se em retorno de pequenas empresas (dois terços dos fornecedores da NASA são pequenos negócios) em cerca 14 biliões de dólares e cerca de 70000 novos empregos.

A missão começará com Artemis I que será o primeiro teste de voo integrado da nave espacial Orion e o respetivo foguetão do sistema de lançamento espacial. O principal objetivo da missão é assegurar uma entrada, descida e recuperação seguras do módulo de tripulação através da utilização de manequins equipados com sensores para radiação espacial. Para além de enviar Orion na sua viagem à volta da Lua, o foguetão transportará dez pequenos satélites do tamanho de caixas de sapatos que realizarão as suas próprias investigações científicas e tecnológicas. A primeira de uma série de missões cada vez mais complexas, Artemis I fornecerá uma base para a exploração humana do cosmos e demonstrará a capacidade de estender a existência humana à Lua e para além dela. Após a missão Artemis 1, Artemis 2 fará uma primeira viagem tripulada e Artemis 3 fará uma aterragem lunar tripulada, cinco décadas após a última missão Apollo. Se tudo correr como planeado, em 2025 poderemos observar novamente seres humanos na Lua e quiçá ganhar uma nova citação para a história.
Precisamos de voltar à Lua por muitas razões, mas a mais importante é o desafio de nos alargarmos à inovação e ao progresso. E em tempos conturbados, este esforço de diplomacia global (a NASA colabora com as agências espaciais europeia, japonesa e canadiana) será pelo menos útil para nos trazer alguma sensação de deslumbramento e pasmo por vermos ficção científica tornada realidade.