Autor

Filipe Carreira

15 de 10 de 2021, 16:21

Colunistas

Não deixe ninguém para trás!!

Infelizmente, os cuidados paliativos não fazem parte da cobertura sanitária universal ou dos sistemas nacionais de saúde na maioria dos países a nível mundial

A frase que dá titulo ao presente artigo é o tema do Dia Mundial dos Cuidados Paliativos, celebrado no dia 09 de outubro 2021.
Os Cuidados Paliativos são “os cuidados ativos, coordenados e globais, prestados por unidades e equipas específicas, em internamento ou no domicílio, a doentes em situação em sofrimento decorrente de doença incurável ou grave, em fase avançada e progressiva, assim como às suas famílias, com o principal objetivo de promover o seu bem-estar e a sua qualidade de vida, através da prevenção e alívio do sofrimento físico, psicológico, social e espiritual, com base na identificação precoce e do tratamento rigoroso da dor e outros problemas físicos, mas também psicossociais e espirituais”.

Estes cuidados proporcionam o alívio de sintomas geradores de sofrimento, afirmam a vida e consideram a morte como um processo natural, facto pelo qual não a adiantam nem atrasam. Integram as componentes psicológicas e espirituais do cuidar, assim como oferecem um sistema de suporte para ajudar os doentes a viver tão ativamente, quanto possível, até à morte, bem como ajudam a família a lidar com a doença do seu ente assim como no seu luto. Utilizam o trabalho de equipa como metodologia mais adequada para a satisfação das necessidades do doente e família, promovendo a melhoria da qualidade de vida e como tal podendo influenciar positivamente a trajetória da doença.
A evolução da população mundial, quer pelo envelhecimento quer pelo surgimento de doenças incuráveis ou graves que acarretam sofrimento, levam á necessidade de alargar a acessibilidade a cuidados dignos.

Infelizmente, os cuidados paliativos não fazem parte da cobertura sanitária universal ou dos sistemas nacionais de saúde na maioria dos países a nível mundial. Em Portugal, há vários anos que se fala em cuidados paliativos e, em 2012, foi criada a Lei de Bases dos Cuidados Paliativos e a Rede Nacional de Cuidados Paliativos que procura dar resposta à população no que concerne à prestação de cuidados paliativos. Após 8 anos, o país continua a enfrentar desigualdades territoriais no acesso a este tipo de cuidados, quer por falta de unidades/serviços, material/equipamentos, quer por a insuficiência de recursos humanos nas equipas.

Esta efeméride vem relembrar da importância dos cuidados paliativos para a população em geral, bem como recordar os governantes de todos os países de promover a equidade no seu acesso a todos.
São mensagens de primeira linha para este dia: o financiamento dos cuidados paliativos; integração dos cuidados paliativos nas reformas da cobertura universal da saúde; treinar, equipar e apoiar os profissionais; garantir o acesso equilibrados a medicamentos para o tratamento da dor.
Cabe a todos nós, profissionais e utentes, zelar pela qualidade dos cuidados que o Serviço Nacional de Saúde presta, no sentido de identificar quem deles necessita e referenciar para as equipas de cuidados paliativos, bem como identificar as lacunas existentes na acessibilidade e requerer estratégias de melhoria.



Enfermeiro Filipe Carreira
Enfermeiro Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica - UCC Viseense