Autor

António Vilarigues

09 de 04 de 2021, 20:27

Colunistas

O desemprego agrava-se no distrito de Viseu A manipulação dos números também

São hoje muitos milhares os desempregados, as micro, pequenas e médias empresas que estão sem actividade e em risco de falência

Cada desempregado em Portugal representa globalmente mais um contributo para o agravamento da situação social e económica do país. São homens e mulheres, pais e mães, filhos e filhas, avós e netos, trabalhadores e trabalhadoras por conta de outrem, que deixam de trazer para casa o rendimento do seu trabalho.

Num país onde 1 trabalhador em cada 4 (25%) recebe o salário mínimo nacional. Onde todos os dias seiscentos mil empobrecem a trabalhar. Onde centenas de milhares em lay off receberam (e continuam a receber) em 2020 menos 4 meses de ordenado, quando não mais. Onde só cerca de metade tem direito a subsídio de desemprego. Onde os trabalhadores com vínculo precário continuam a ser os primeiros a ser despedidos. Onde a miséria e a pobreza estão a aumentar fruto das consequências da paralisação da actividade económica e pelo aumento da exploração patronal à boleia da pandemia da COVID-19.

Em Portugal, existem dois organismos oficiais que publicam dados sobre o desemprego: o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), que tem os Centros de Emprego, e o Instituto Nacional de Estatística (INE). O IEFP publica dados mensais sobre o desemprego registado, ou seja, sobre os desempregados que se inscreveram nos Centros de Emprego. O INE divulga dados sobre o desemprego que são apurados com base numa amostra representativa da população portuguesa – Inquérito ao Emprego.
Por todas as razões já referidas é inadmissível a manipulação levada a cabo por estes organismos em torno dos números do desemprego com o objectivo de camuflar uma realidade que atinge e afecta centenas de milhares de pessoas no seu dia-a-dia. Senão vejamos.

Analisando os dados do desemprego relativos ao quarto trimestre de 2020 o INE consegue em Janeiro de 2021 o “milagre” de reduzir o desemprego oficial quando o número de desempregados inscritos nos Centros de Emprego, que não abrange todas as situações de desemprego, aumentou. É obra!
Por outro lado, no distrito, mantém-se o fenómeno, pelo menos desde 2013, do IEFP diminuir o desemprego em Fevereiro em comparação com o mês de Janeiro.
A questão que se coloca é: Como é que o IEFP no distrito consegue o “milagre” de reduzir o desemprego oficial quando o número de desempregados inscritos no Centros de Emprego do continente são mais 7.478 que no mês anterior e mais 111.440 que no mês homólogo?

No quadro da manipulação estatística estão as ocupações temporárias de desempregados transformados em ocupação de postos de trabalho efectivos, que no mês de Fevereiro eram 5.380 que corresponde a 36,96% dos desempregados registados dos quais 3.689 (68,57%) são mulheres, que não são contabilizados como desempregados.
Assim, se os 5.380 desempregados ocupados naquelas medidas fossem, como deviam, considerados desempregados pelo IEFP, o desemprego registado seria de 19.938 e não 14.558, o número de desempregados registados pelo IEFP no distrito, no mês de Fevereiro de 2021. Desses apenas 43 em cada 100 recebiam protecção social de desemprego, com o valor médio de 487,93€.

Acresce que, no distrito, nos meses de Janeiro e Fevereiro verificaram-se 13 novos casos de insolvências e o encerramento de 249 empresas.

Segundo a União dos Sindicatos de Viseu, mesmo partindo dos dados do quarto trimestre de 2020, divulgados pelo INE, no qual assume que a taxa de subutilização (que não abrange todas as situações de desemprego) foi de 13,8%, calcula que o desemprego estatístico no distrito de Viseu esteja próximo dos 22.000 trabalhadores desempregados.
Viseu continua a ser o sétimo distrito com mais desemprego registado.

São hoje muitos milhares os desempregados, as micro, pequenas e médias empresas que estão sem actividade e em risco de falência, sem direito a nada, enquanto vêm aumentar os privilégios e benefícios dos grupos económicos, com os seus lucros intocáveis. A EDP, a GALP, a banca e as seguradoras, a grande distribuição, a SONAE ou a Jerónimo Martins, os grupos das telecomunicações, todos esses são exemplos do muito que há para a meia dúzia dos muito grandes e do muito pouco que sobra para a imensa maioria dos mais pequenos.
Enquanto uns vão bem, outros vão bem mal.