Autor

Joaquim Alexandre Rodrigues

25 de 06 de 2022, 08:07

Colunistas

S. Pedro contra S. João

Manjericos e manjericas nas noites grandes. A dita mobilidade suave

1. O S. Pedro, com o seu mau feitio, bem quis estragar o S. João mas não teve sorte nenhuma. O povo, com mais anoraque menos anoraque, lá saiu à rua como de costume. Em todo o lado, boa companhia e uma alegria que já não se via desde antes da epidemia.
Em Vildemoinhos, tudo como manda a tradição: sardinha ao de cima da boroa, boa pomada, claro, e o pinheiro lá ardeu.
E, no Porto, o fálico alho porro agora dá marteladas de plástico. Já a púbica erva cidreira das raparigas desapareceu de vez. Seguiu o uso dos tempos, foi à depilação.
E o que verdadeiramente importa mantém-se ano após ano, século após século, milénio após milénio: nas noites mais pequenas do ano, os manjericos e as manjericas aprochegam-se uns dos outros. No S. João, o povo unido jamais será deprimido.
E, durante as clausuras da peste, o povo poupou 13 mil milhões de euros, agora está proustiano, à la recherche du temps perdu, em busca do tempo perdido, ele é festivais de verão com o Nick Cave, ele é voos low-cost para todo o lado, tudo a bombar, toalhinha à sombra da falésia, bola de berlim com recheio, meninos e meninas nos parques temáticos, digo, parques aquáticos, digo, os dois.
E há que evitar as doenças em férias, uma recomendação da dra. Graça Freitas, que alerta para os perigos do bacalhau à Brás piquenicado nos parques de merendas que os senhores presidentes da junta espalham na paisagem nas vésperas da sua mais do que merecida reeleição.
E há cem anos, depois da pneumónica, foram os "années folles", os "roaring twenties". E agora, depois da covid, hão-de aí vir uns novos "loucos anos 20".
E o sr. Putin mai'los seus idiotas úteis bem querem espalhar a infelicidade no mundo mas não o vão conseguir, tenham lá paciência, o que tem que ser tem muita força.

2. Os utilizadores de bicicletas, trotinetes, skates, patins, segways, hoverboards, monociclos e aparatos afins enchem de felicidade a sueca Greta Thunberg e a alemã Luisa Neubauer. Para não falar nos pequenos, médios e grandes autarcas que adoram a dita "mobilidade suave".
Nada contra este enlevo. Pelo contrário, gosto muito de ver esta paixão ecolo, é bom sabê-la com cada vez mais fãs. Tudo muito louvável, embora seja sempre preferível uma grácil ciclista a pedalar numa avenida do que um hipster, de barba aparada e trotinete, a ultrapassá-la a vinte e cinco à hora.
Atenção, caras e caros ciclistas, caras e caros trotinetistas, quando a vossa "mobilidade" é exercida nos passeios ela é tudo menos "suave". Os passeios são para os peões, não são para vossências.
Muito obrigado